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ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Economia do Desenvolvimento (Doutorado)

Por:   •  24/11/2019  •  Resenha  •  2.048 Palavras (9 Páginas)  •  139 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Economia do Desenvolvimento (Doutorado)

DISCIPLINA: Tópicos Especiais em Economia Brasileira

PROFESSOR: Dr. André Moreira Cunha

PERÍODO LETIVO: 2019 – Terceiro Trimestre

ALUNA: Márcia Naiar Cerdote Pedroso

RESENHA – TÓPICO 3

STIGLITZ, Joseph E. Capitalism and its discontents. The times literary supplement (on-line). 4 de Junho de 2019. Disponível em: https://www.the-tls.co.uk/articles/public/capitalism-ethical-economics-joseph-stiglitz/.

Joseph Eugene Stiglitz é um economista internacionalista estadunidense. Prêmio Nobel de economia em 2001. Foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos no governo do Presidente Bill Clinton (1995-1997) e foi Vice-Presidente Sênior para Políticas de Desenvolvimento do Banco Mundial, onde se tornou o seu economista chefe. Atualmente leciona na Universidade Columbia, em Nova York. 

O presente texto traz como tema central a discussão em torno da busca por uma economia ética. O autor inicia o artigo enfatizando que há algo fundamentalmente errado com o capitalismo moderno, onde a crise financeira global de 2008 expôs um sistema que não é eficiente nem estável. As declarações de confiança dos principais economistas dirigentes de bancos centrais e políticos centristas de Blairite e Clintonite de que a globalização e a liberalização do mercado financeiro traria crescimento sustentado e benefícios para todos, tornaram-se profundamente desacreditados.

Stiglitz critica severamente a profissão do economista em razão da devastação econômica provocadas por políticas financeiras equivocadas seguidas pela teoria mainstream - “nova economia clássica” e a economia dos “ciclos de negócios reais”. Ele destaca que o economista Robert Lucas, vencedor do Prêmio Nobel afirmou com orgulho que “a macroeconomia foi bem-sucedida e que seu problema central de prevenção da depressão havia sido resolvido por muitas décadas”. Lucas não quis dizer que o problema teria sido resolvido por Keynes e seus seguidores, mas pelos seguidores de Milton Friedman. Enquanto muitos desses economistas Friedmanitas permanecem inativos após a crise, suas ideologias e conjunto de crenças - nas quais possuem responsabilidade significativa pela crise - continuam vivas.

Diante desta perspectiva, Stiglitz (2019) sugere três livros de teóricos eminentes que que montam um ataque convincente à teoria ortodoxa, onde propõem remédios (alternativas) para corrigir algumas de suas falhas. Tais abordagens fornecem uma base para a tão necessária reforma de nossa economia e da nossa profissão, segundo o autor. O primeiro livro é o The Future of Capitalism: Facing the new anxieties de Paul Collier; o segundo, o Capitalism: The future of an illusion de Fred L. Block; e o terceiro, Money and Government: A challenge to mainstream economics de Robert Skidelsky.

De antemão, o primeiro livro The Future of Capitalism: Facing the new anxieties de Paul Collier propõe a cobrança de impostos não apenas sobre terras urbanas, mas sobre as altas rendas dos trabalhadores urbanos. Stiglitz (2019) enxerga que essas ideias estão longe de ser abrangente ou suficientemente elaboradas de modo que possa oferecer um paradigma alternativo às doutrinas liberais.

Nesse livro, Collier traça uma descrição contundente das divisões que separam os países desenvolvidos, entre cidades prósperas e cidades provinciais, e entre elites e cidadãos com educação limitada. O autor argumenta que a teoria econômica predominante dominante defendia a tese da “convergência” em que as forças econômicas subjacentes reduziriam as discrepâncias de renda e salários em diferentes lugares à medida que o capital passava dos países ricos para os países pobres. No entanto, o que vimos acontecer fora o contrário. O trabalho não qualificado dos países em desenvolvimento e nos mercados emergentes foram exportadores líquidos de bens intensivos em mão de obra para países avançados. A medida que a produção desses bens declinava nos países avançados, o mesmo ocorria com a demanda de trabalho, levando a salários mais baixos e maior desemprego. No entanto, ao invés da convergência prevista observamos as disparidades se ampliarem entre cidades mais pobres e mais ricas, dentro e entre os países.

O segundo livro, Capitalism: The future of an illusion de Fred L. Block, traz uma crítica ao conceito de capitalismo adotado pela esquerda a qual defende-o como se fosse uma natureza imutável e nobre que proporciona crescimento que beneficia a todos, ou o faria se o governo não interferisse. Essas premissas são refutadas por Stiglitz que ressalta que nenhuma economia possui um setor privado que funciona no vácuo. O Estado acompanha promulgando regras, regulamentos, apoiando o sistema bancário e estabilizando a economia de mercado. O capitalismo não é um sistema rígido. Está sempre mudando. E as promessas feitas por seus defensores – que desregulamentação, privatização e globalização trarão bem-estar à maioria dos cidadãos em todos os países - provaram estar terrivelmente erradas.

Prosseguindo, Stiglitz (2019) destaca que além da crise econômica há mais duas crises que o acompanham: a crise da democracia e a crise do meio ambiente. A crise econômica é inseparável da crise democrática e só poderá ser tratada através de mudanças radicais que deve ser feita por meio do sistema político. Tudo tende a piorar, caso não se repense essas questões, ainda mais quando uma terceira crise é levada em consideração, a crise ambiental. No entanto, o economista, pontua que nenhum dos dois livros apontados enfrentam a temática da mudança climática.

Já a terceiro livro citado, Money and Government: A challenge to mainstream economics de Robert Skidelsky, é mais voltado para economistas do que os outros dois apontados. Concentra sua atenção às falhas macroeconômicas, ou seja, a incapacidade da economia em evitar crises e o alto desemprego. A crise de 2008 mostrou que Robert Lucas estava errado. As flutuações que fazem parte do capitalismo desde o início se fizeram presentes. O autor sublinha que, enquanto economistas de direita, como Friedman culpam o governo por tais flutuações – e nos EUA o fizeram depois de 2008 – a evidência esmagadora mostra que foram os delitos do setor financeiro privado os responsáveis por provocar a recessão global. Naquele contexto, quando o governo deixou de fazer, ao não resgatar o Lehman Brothers, desencadeou a crise financeira. Já quando o governo fez, mostrou moldar as consequências provocadas pelas falhas do setor privado. A intervenção governamental foi decisiva no impedimento de que a crise se transformasse em outra grande depressão.

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