A FORMA, FUNÇÃO, ESTRUTURA E PROCESSO: AS CATEGORIAS MILTONIANAS SOB A PERSPECTIVA DA LÓGICA FORMAL
Por: Leandro Augusto • 11/7/2022 • Trabalho acadêmico • 7.983 Palavras (32 Páginas) • 234 Visualizações
FORMA, FUNÇÃO, ESTRUTURA E PROCESSO: AS CATEGORIAS MILTONIANAS SOB A PERSPECTIVA DA LÓGICA FORMAL
Estevão Pastori GARBIN1 Fernando Luiz de Paula SANTIL2
RESUMO
A Lógica pode ser compreendida como uma disciplina que tem como objetivo auxiliar os seres humanos na construção e na crítica de um conhecimento válido. A Lógica Formal, por seu turno, é uma modalidade desta disciplina que tem como propósito a realização de generalizações sobre os traços característicos dos fenômenos analisados. Considerando as especificidades desta modalidade, o objetivo deste artigo é construir algumas aproximações e evidenciar alguns distanciamentos existentes entre a Lógica Formal e o papel das categorias miltonianas de forma, função, estrutura e processo, tendo como referencial teórico metodológico a Fenomenologia e a Gramática Pura de Charles Sanders Peirce. Para tanto, propõem-se a revisão teórica destas ciências, a análise semiótico-formal das categorias geográficas e a indicações das limitações deste tipo de abordagem.
Palavras chave: Gramática Pura ou Especulativa. Semiótica peirceana. Epistemologia. Milton Santos.
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- Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
- Doutor em Ciências Geodésicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor Adjunto do curso de Engenharia de Agrimensura e Cartográfica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
FORM, FUNCTION, STRUCTURE AND PROCESS: THE MILTONIAN CATEGORIES FROM THE PERSPECTIVE OF FORMAL LOGIC
ABSTRACT
The logic can be understood as a discipline that aims to assist human beings in the construction and critique of valid knowledge. Formal Logic, in turn, is a modality of this discipline that aims to make generalizations about the characteristic features of the analyzed phenomena. Considering the specificities of this modality, the objective of this paper is to build some approximations and to highlight some existing distances between Formal Logic and the Miltonian categories form, function, structure and process, having as a methodological theoretical reference the Charles Sanders Peirce Phenomenology and Pure Grammar. Therefore, we propose the theoretical review of these sciences, the semiotic-formal analysis of geographical categories and indications of the limitations of this approach.
Keywords: Speculative or Pure Grammar. Peircean semiotics. Epistemology. Milton Santos.
INTRODUÇÃO
O estudo da Lógica foi o objeto de investigação de Charles Sanders Peirce (1839 – 1914) durante toda a sua vida. Como ciência normativa, isto é, que define os parâmetros para a construção de um conhecimento válido, eticamente orientado e esteticamente desejável, Peirce reconhecia que todos os seres humanos se valem da Lógica em maior ou menor grau para a realização de suas atividades: desde a tomada de decisões em pequenas questões do cotidiano até a realização de uma investigação científica. Neste contexto, pode-se afirmar que a Lógica é uma ciência cujo objeto de estudo é o raciocínio controlado, deliberado, voluntário, crítico e feito de modo consciente (PEIRCE, CP 2.182).
Há de se pontuar, entretanto, uma importante diferença entre a Lógica utilizada para as questões do dia-a-dia daquela empregada para a crítica de argumentos que exigem uma sofisticação intelectual mais elevada. No primeiro caso, trata-se da logica utens, marcada pela predominância do instinto humano na tomada de decisões e construção de uma opinião altamente subjetiva, embora funcional e suficiente na maioria das vezes. No segundo caso, em que é exigido o conhecimento de teorias e instrumentos para a crítica controlada de um raciocínio para a análise de argumentos, vigora a logica docens, amadurecida e investigada por Peirce (FANN, 1970; CP 2.188). Em seu sentido estreito, a Lógica é a ciência das condições necessárias para se atingir a verdade (CP, 1.444); em seu sentido amplo, a Lógica deve englobar as leis do pensamento, suas formas de ocorrência em suas mais diversas manifestações.
As manifestações dos fenômenos criticados pela Lógica não se restringem a uma ou duas espécies, pois as questões analisadas pela ciência podem ser representadas por meio de símbolos matemáticos convencionais, mas também por imagens, sons, odores e indícios de naturezas muito variadas. Não obstante, a Lógica necessita do auxílio de uma outra ciência – a Fenomenologia – para catalogar estas mais diferentes manifestações, conforme discutimos em outro momento (cf. GARBIN e FURLAN, 2018) e que será oportunamente retomado. A Fenomenologia, portanto, cataloga a variedade de fenômenos possíveis em uma quantidade finita de categorias para que, em seguida, a Lógica determine as condições possíveis para que tais manifestações ocorram.
As discussões da Lógica interessam à Geografia porque, como todas as ciências especiais, o objetivo desta é a superação de um estado de dúvida por meio da investigação, manejando instrumentos, teorias, conceitos e as mais diversas ferramentas para a concretização desta
empreitada. Embora complementares, a Lógica e a Geografia são ciências distintas, pois enquanto a segunda se preocupa na análise do espaço geográfico, a primeira investiga os princípios válidos dos raciocínios empregados por todas as ciências.
Para operacionalizar as formas de raciocínio e, consequentemente, os elementos por ele engendrados, Peirce utilizou como expediente conceitual o signo que, formalmente, é caracterizado por:
Um veículo que comunica à mente algo do exterior. O “representado” é seu objeto; o comunicado, a significação; a ideia que provoca, o seu interpretante. O objeto da representação é uma representação que a primeira representação interpreta. Pode conceber-se que uma série sem fim de representações, cada uma delas representando a anterior, encontra um objeto absoluto como limite. A significação de uma representação é outra representação (PEIRCE, 1980, p. 93).
A generalidade do conceito de signo em Peirce é produto do seu reconhecimento de que não há um limite nos exemplos concretos que podem ser utilizados como objeto de análise para a produção de conhecimento, desde que eles promovam uma relação de mediação entre dois ou mais fenômenos e que cause algum tipo de efeito em uma mente. No caso, a capacidade de algo ser considerado signo reside em sua forma de acesso (em termos lógicos, seu representamen), na relação estabelecida entre o signo e aquilo que ele representa (relação representamen – objeto) e nos efeitos potencialmente gerados em uma mente (interpretante) (PEIRCE, 1980; SANTAELLA, 2012). É por este reconhecimento de que os processos de mediação, comunicação e construção de conhecimento ocorrem por meio de signos que Peirce considerou que a Lógica é apenas um outro nome para a Semiótica (SANTAELLA, 1992).
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