Cellard - Arquivo

CELLARD, A. A análise documental In: Vários autores (orgs.) A pesquisa qualitativa. Petrópolis: Editora Vozes, p. 295 – 316, 2008.

Documento ajuda a reconstituir o passado sendo, por vezes, a única forma de acesso de atividades distantes ou mesmo recentes, permitindo acrescentar a dimensão do tempo à compreensão do social. O documento ajuda a diminuir a reação do sujeito à operação de medida.

Tremblay (1968: 284): graças ao documento, pode-se operar um corte longitudinal que favorece a observação do processo de maturação ou evolução dos indivíduos, grupos, práticas, conceitos, etc.

Para trabalhar com documentos, o pesquisador deve avaliar a credibilidade e representatividade dos mesmos.

Documento é: “todo texto escrito, manuscrito ou impresso registrado em papel” (p. 297). Pode ser de caráter público “documentação geralmente volumosa e, por vezes, organizada segundo planos de classificação, complexos e variáveis no tempo [...] como arquivos governamentais, os arquivos do estado civil, assim como alguns arquivos de natureza notarial e jurídica” (p. 297), públicos não-arquivados, como jornais, revistas, periódicos e qualquer outro tipo de documento distribuído; documentos privados (de organizações políticas, igrejas, sindicatos); e documentos pessoais (autobiografias, diários, correspondências, documentos de família).

O objetivo da pesquisa é estabelecer um corpus satisfatório, esgotando as pistas capazes de lhe oferecer informações interessantes, que pode levar a interpretações novas ou à modificação de pressupostos iniciais.

Contexto: exame do contexto social global no qual foi produzido o documento e na qual mergulhava seu autor e aqueles a quem ele foi destinado, possibilitando o aprendizado dos esquemas conceituais de seus autores. Evita-se, dessa maneira, interpretar o conteúdo em função de valores modernos.

Autor: interpretar levando em conta a identidade da pessoa que se expressa, de seus interesses e dos motivos que a levaram a escrever (fala em nome próprio, de um grupo social ou instituição?)

Autenticidade e confiabilidade: necessário levar em conta a qualidade da informação transmitida, a procedência do documento, a relação entre o autor e o que ele escreve.

Natureza do texto: abertura, subentendidos podem variar; uma pessoa pode narrar algo sem ser testemunha de algo.

Conceitos-chave e natureza interna do texto: delimitar adequadamente os sentidos das palavras e conceitos; examinar a lógica interna, o esquema ou o plano do texto: como o argumento se desenvolveu? Quais as partes principais da argumentação?

Análise: possibilitar o encadeamento entre a problemática colocada pelo pesquisador e as informações extraídas de sua documentação, possibilitando formular explicações plausíveis e produzir uma interpretação coerente.