“Globalização e primitivização: como os pobres ficam ainda mais pobres"
Por: Natharaujo • 9/11/2021 • Resenha • 1.691 Palavras (7 Páginas) • 406 Visualizações
Universidade Federal de Alagoas - UFAL Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada
REINERT, Erik S.; FELIX, Jorgemar Soares. Como os países ricos ficaram ricos... e por que os países pobres continuam pobres. Editora Contraponto. 2018.
Em “Globalização e primitivização: como os pobres ficam ainda mais pobres” o autor, Erik Reinert, inicia o capítulo abordando as colônias e sua situação de pobreza, destacando que esse seria o objetivo das grandes nações, manter as colônias como fornecedoras de matérias primas, impedidas de estabelecer indústrias e aprimorar o próprio comércio, em que impedir essa industrialização era equivalente a condená-los à pobreza.
O autor explica “(...) como o processo de desindustrialização pode levar ao oposto do desenvolvimento, ao retrocesso e à primitivização da economia” (pág. 227), conforme experimenta uma sequência de desindustrialização associada a desagriculturalização e despovoamento.
Havia um incentivo a exportação de bens primários para afastar o processo de industrialização das colônias, tornando “(...) os países ricos dependentes de alimentos produzidos por pessoas tão pobres que mal têm condições de se alimentar”.
O paralelo a situação nacional a partir da década de 1990 não poderia deixar de ser feito, quando incorreu no Brasil um processo de desindustrialização em favorecimento da produção agrícola e das commodities brasileiras, benéfico até certo momento, trazendo um período de crescimento e desenvolvimento, entretanto vinculado a rendimentos decrescentes de produção.
A economia clássica propunha uma teoria defensável à colonização, argumentando que “(...) alguns países deveriam ser manufatureiros enquanto outros eram relegados à produção de matérias-primas”. Dessa forma não se discutia nos anos de 1800 porque o restante das economias não deveria seguir o caminho percorrido pelas grandes nações à época. Recomendava-se uma política as economias colônias focadas em matérias-primas que
não devolviam nada ao país, métodos que visavam aumentar a riqueza de um povo, sem aumentar o seu padrão de vida, assegurando apenas um retorno pela riqueza bruta.
As potências econômicas usavam seu poder para contestar a teoria utilizada para que todos os países pudessem se tornar ricos, havendo uma argumentação de que apenas alguns países deveriam se tornar manufatureiros, enquanto outros estariam relegados à produção de matérias primas.
Para os manufatureiros não discutia-se que o caminho deveria ser seguido para a industrialização, mas o equilíbrio entre as atividades estatais e privadas. Em que é colocado pelo autor um fato particularmente interessante também discutido por Ha-joon Chang (2004), autor do livro Chutando a Escada, onde países como os Estados Unidos quando alimentam a retórica da globalização lutavam contra políticas e teorias econômicas que hoje apoiam, ou seja, atuando contra o que os levou ao crescimento econômico, disseminando teorias contrárias aos países que estão em desenvolvimento.
Assim os Estados Unidos usaram da sua hegemonia para contestar “(...) a prática econômica contra as teorias econômicas que hoje eles impõem ao mundo em desenvolvimento”.
Atualmente a insistência em “livre-comércio” e liberalismo ideológico vem sendo contestada na busca de avançar com relação a industrialização e o desenvolvimento.
Sobre a primitivização, ela surge como retrocesso ao progresso e desenvolvimento, quando o processo de expansão e a escala necessária desaparecem, podendo as atividades econômicas voltar aos modos de produção que haviam se tornado obsoletos. A primitivização colocada pelo autor, descreve um fenômeno vinculado a rendimentos de produção decrescentes. O uso de capital diminuía à medida que aumentava o uso da natureza.
Essas colocações demonstram o processo de produção e comercialização brasileiro descrito por Furtado, no livro Formação Econômica do Brasil, até a década de 1930, quando o foco da economia brasileira estava voltado para a produção de produtos que demandavam baixa atividade tecnológica, produtos que estavam mais relacionados a geografia econômica e atividades urbanas.
Outra relação importante, destacada pelo autor, é a teoria da localização de Von Thunen, dividindo os setores entre modernos (industriais) e atrasados (os de caça e coleta), em que à medida que ficavam mais afastados das indústrias formavam-se as periferias.
Outros autores que constituem as chamadas teorias clássicas da localização, exemplificadas por Von Thunen, como Weber e Isard, também levavam em consideração principalmente o fator de localização ou o chamado fator transporte, o que resultava em
regiões caracterizadas por concentração de mercados, onde a terra seria usada para plantar produtos com maior custo, e quanto mais afastado, a produção seria voltada para produtos com custos de transportes menores, ou seja, menos intensivo em capital e inovação tecnológica.
Dando seguimento, Reinert (2018), coloca duas situações, “o caso da Mongólia” e o “Plano Morgenthau”, em que inicialmente o caso da Mongólia aborda diretamente a situação de primitivização, quando após a Guerra Fria, as indústrias do país haviam sido praticamente erradicadas, o que resultou em uma série de retrocessos e retorno a antigos mecanismos econômicos de rendimentos decrescentes de escala nos recursos naturais.
O autor comenta que houve a combinação entre um processo de desindustrialização e desconstrução do Estado, criando situações de desemprego em massa e corte nos salários. Levando a utilização da terra como fonte de recursos e produção. Para as demais potências e nações, quando compreendido que a terra não poderia sustentar todos, o país abre sua economia buscando seu lugar na economia global e especialização na atividade que abrigava sua vantagem comparativa.
Essa nova abertura econômica ignorava o contexto histórico daquela localidade, empregando modelos de crescimento e processos de industrialização que não se adequam à realidade histórica do país. Estudos padronizados eram oferecidos em favor do desenvolvimento sem considerar o contexto à abordagem utilizada.
Nesse caso, o jogo do poder teve efeitos perversos as economias em subdesenvolvimento, levando a Mongólia a período de crescimento inflado e retrocesso, e o livre comércio, as vantagens comparativas e o poder político nessa situação, levaram a desemprego, queda nos salários e destruição galopante como cita Reinert (2018).
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