Mercantilismo e as ideias econômicas na formação do Estado Moderno
Por: Mateus Rodrigues • 17/4/2016 • Resenha • 1.305 Palavras (6 Páginas) • 945 Visualizações
England’s Treasure by Forraign Trade – Thomas Mun
O livro é guiado por interesses essencialmente práticos, não é uma discussão sobre temas econômicos, e sim uma espécie de guia para como enriquecer o estado. Thomas Mun era um comerciante, e a doutrina mercantilista, de certa forma, serviu para defender seus interesses aos capitalistas mercantes, aos reis e aos seus seguidores imediatos.
O livro foi escrito na Inglaterra, país que na época priorizava o comercialismo, tipo de mercantilismo que dá importância a uma balança comercial favorável com auxílio de monopólios e privilégios. No caso da Inglaterra, todos os trabalhos publicados na época do mercantilismo foram escritos por comerciantes que orbitavam um mundo marcado por diversas trocas comerciais.
O mercantilismo é um termo criado em tempos modernos para rotular características comuns que surgiram em momentos diferentes e locais diferentes, ou seja, não é um movimento intelectual, mas um rótulo sobre certas ideias que surgiram na época em que o capitalismo estava nascendo. Thomas Mun diz que o fluxo de comércio externo (balança comercial favorável) é o que traz riqueza ao país e não o valor intrínseco da moeda.
Para Thomas Mun, o meio de enriquecer um estado é através de trocas com outras nações, desde que o estado exporte mais que importe. Basicamente Thomas Mun desenvolve a ideia da balança comercial. Segundo ele, uma balança comercial favorável implica no enriquecimento do estado.
Thomas Mun critica o bulionismo (metalismo, ideia de que a riqueza é advinda do acúmulo de metais preciosos) e distingue riqueza de forma que capital e dinheiro não se misturam. Para ele, o capital deve ser aplicado e gerar um retorno em mercadoria (ativos, capital) ou em moeda. Para o autor, o Estado pode investir capital para ter retorno em mais moeda e mais mercadorias que podem novamente serem comercializadas. Uma importação que permita exportar os produtos antes importados a um valor maior pode, por exemplo, criar posteriormente um fluxo de moeda maior para dentro da nação que o fluxo que anteriormente havia saído. O que interessa ao estado é a riqueza e não necessariamente a acumulação de moeda trará tais riquezas. Acumular moeda não tem relevância para Thomas Mun, pois ele dá mais importância a ativos e capital do que a moeda em si.
A todo tempo Thomas Mun fala sobre comerciantes, mas mencionando sempre qual a importância do comércio para a Inglaterra. Produtos que a Inglaterra tem monopólio devem ter o seu preço aumentado ao máximo enquanto produtos sem monopólio devem ser o mais barato possível. O autor era diretor da companhia das índias orientais, portanto, defendia a exclusividade de comércio e transporte de mercadorias por navios ingleses. Suas motivações se confundem com sua posição de diretor da companhia, ou seja, ele defende seu ponto de vista como diretor e como cidadão e comerciante inglês preocupado com a riqueza da Inglaterra.
O autor parte de o princípio que custos são exclusivamente monetários. Ele não considera tempo gasto em determinada atividade ou mão de obra como custo, apenas o dinheiro propriamente dito gasto em determinado empreendimento. Portanto, mesmo que, considerando todos os custos, seja mais vantajoso pagar um navio para fazer um transporte, Thomas Mun recomenda que sejam usados navios próprios, para diminuir apenas o custo monetário.
O autor descreve passos a se seguir para que esse enriquecimento através de exportações seja possível, reforçando o ponto de que o tratado é essencialmente prático, e não uma discussão econômica. Dentre esses passos ele considera aproveitar melhor as riquezas naturais da nação (para que se diminua a necessidade de importar tais produtos que possam ser criados em sua própria terra), diminuir as importações excessivas, exportar com os próprios navios para diminuir os custos e também importar produtos que possam ser exportados para vizinhos a valores maiores. Apesar de defender que o estado sempre deve importar menos, Thomas Mun recomenda um modo de importar que não é ruim: quando se importa para depois exportar novamente a um valor maior. Através desse modo também é possível acumular moeda e, portanto, enriquecer o estado, segundo a ideia do metalismo.
Além de outros argumentos de meios válidos para enriquecer uma nação, por exemplo seu argumento de como manter uma balança comercial favorável é um meio de aumentar o valor das terras de uma nação, Thomas Mun expõe meios que não são válidos para enriquecer uma nação, como alterar o peso ou valor das moedas, o que era comum desde o Império Romano. O argumento que o autor usa é que ter um estado ter uma moeda inconsistentes, em valor, peso ou tipo, pode afetar negativamente as trocas com outras nações. Além disso, se todas as nações tomassem tal caminho, o empreendimento seria inútil e apenas causaria confusões.
Dizia também que trocas internas não enriquecem o estado, pois o ganho de um é a perda de outro enquanto as trocas externas permitiam um ganho de igual grandeza às taxas de lucro obtido.
As importações deviam vir preferencialmente de lugares distantes, de modo a não enriquecer países vizinhos —e, é claro, negociantes rivais. As exportações geravam empregos, ao passo que importações estrangeiras baratas o destruíam.
Depois de argumentar sobre como um estado poderia enriquecer através de uma balança comercial favorável, Thomas Mun parte para explicar como um rei pode enriquecer sem prejudicar seus seguidores. Isso reforça o propósito inicial do livro: servir de um manual essencialmente prático ao rei e aos capitalistas da época.
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