O Planejamento e Gestão Ambiental
Por: polyanaoliveira • 15/11/2018 • Relatório de pesquisa • 3.228 Palavras (13 Páginas) • 203 Visualizações
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ/DCAA
Curso: Bacharelado em Geografia
Disciplina: Planejamento e Gestão Ambiental
Docente: Maria Eugênia Bruck de Moraes
Discentes: Adriana Yamashiro, Amanda Dias, Ingrid Gouveia, Iorrana Sacramento e Polyana Oliveira
Relatório de Campo – Comunidade Campina
1. Introdução
A partir do resgate de práticas de culturas ancestrais e da união com os conhecimentos da ciência moderna, no fim da década de 1970, os australianos Bill Mollison e David Holmgren desenvolveram o conceito de permacultura, que visava criar um “sistema integrado de espécies animais e vegetais perenes ou que se perpetuam naturalmente e que são úteis aos seres humanos” (MOLLISON; HILMGREN, 1978 apud HOLMGREN, 2002).
Com o tempo, esse conceito evoluiu, deixou de significar apenas suficiência alimentar e passou a ser um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis. Assim, a visão da permacultura evoluiu de uma agricultura permanente para uma cultura permanente (HOLMGREN, 2002).
De acordo com Henderson (2012), a permacultura é uma ciência dinâmica, que ao possuir caráter holístico e transdisciplinar, dialoga com diversas áreas do conhecimento, encontra-se num constante processo de construção.
A partir dessa nova visão da permacultura, de considerar as pessoas, as edificações e as formas como se organizam no espaço de maneira mais harmônica com a natureza, as ecovilas surgem como uma forma de valorizar a vida em comunidade, mais próxima à natureza e mais integradora.
Como mostram muitos estudos, é fato que para sobrevivermos enquanto espécie nós precisamos aprender a viver sustentavelmente, ainda mais diante de uma modelo de sociedade que se mostra cada vez mais desmedido e desintegrador. Nesse sentido, as ecovilas têm se mostrado uma “maneira efetiva e acessível de combater a degradação dos nossos ambientes sociais, ecológicos e espirituais” (GEN, 2016).
A aula de campo, que será descrita nesse relatório, ocorreu na Comunidade Campina, ecovila localizada no município de Palmeiras, Bahia, próximo ao Vale do Capão, na região da Chapada Diamantina. Foram dois dias experimentando viver em comunidade, praticando hábitos saudáveis e sustentáveis, em harmonia com a natureza, através de valores oriundos da permacultura.
No local que atualmente é a Campina, na década de 1890, era uma grande propriedade de terra produtora de café. Devido à ameaça causada pela queda do preço do café como consequência de sua alta produção, a concorrência paulista mandou atear fogo em toda a produção que ali existia. Com isso, o solo ficou muito debilitado e desfavorável ao desenvolvimento da vegetação. Posteriormente, 180 hectares dessa área foram comprados por Luís, um dos fundadores da Campina.
A Comunidade Campina surgiu, verdadeiramente, em 1991, quando Luís, juntamente com alguns amigos, resolveu criar uma comunidade com uma forma alternativa de viver. Entretanto, apenas a partir do ano 2000 é que os valores e práticas da permacultura foram iniciados. Devido ao solo pobre, grandes foram os esforços para que ele viesse a produzir novamente. Após um longo tempo de cuidados intensivos para seu melhoramento, a vegetação voltou a crescer e a agricultura pôde ser iniciada. Pode-se dizer que a Campina possui uma história de superação, em vista às dificuldades iniciais, e de várias adaptações que foram feitas para que as ações fossem as menos impactantes e danosas possíveis.
2. Experiências: horta orgânica, bioconstrução e funcionamento do sistema de saneamento.
A Comunidade Campina se empenha na produção de alimentos orgânicos, ervas medicinais e na permacultura. Na Casa Amarela, também são produzidos alguns cosméticos como sabonetes, desodorantes e tinturas. No primeiro dia da aula de campo, pela manhã, fomos conhecer o Herbário Mandala e as atividades ali desenvolvidas, as quais que em sua maioria são desenvolvidas pelas mulheres que vivem na ecovila, mas que não deixa de contar com o auxilio dos homens. Assim, aprendemos a retirar plantas “daninhas”, afofar o solo com algumas ferramentas, preparar o solo para plantar algumas mudas de plantas, como a pitangueira, por exemplo (figura 1).
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Figura 1: Amanda e Adriana aprendendo a plantar uma muda.
No segundo dia, também pela manhã, pudemos aprender um pouco sobre bioconstrução, fazendo uso de materiais ecológicos. Inicialmente, um dos moradores da comunidade, Helder, deu uma breve explicação sobre o solo utilizado para a bioconstrução, que é constituído por 70% de argila e 30% de areia, ou seja, ideal a construção dos blocos. Em seguida, iniciamos o trabalho de pisoteamento do solo, deixando-o mais consistente para dar forma aos blocos (figura 2a). Os blocos depois de formados deveriam ficar exposto ao sol durante 15 dias para a secagem. Após a constituição dos blocos, tivemos a oportunidade de participar da construção da base de um muro de uma futura lanhouse, localizada próxima à Casa Amarela (figura 2b). Essa atividade nos permitiu perceber que é possível construir casas de modo ecologicamente consciente, sem agressão ao meio ambiente.
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Figura 2: a) Pisoteamento do solo argiloso; b) Comemoração pelo sucesso da bioconstrução.
O sistema de saneamento básico adotado pela Campina consiste em acumular a água proveniente dos vasos sanitários e pias em BETs (Bacias de evapotranspiração), evitando a poluição dos rios próximos e do lençol freático. As BETs são constituídas por materiais como pneus, britas e tijolos que são capazes de acumular água suficiente para as plantas consigam absorvê-la com suas raízes, juntamente com os nutrientes, favorecendo seu crescimento e permitindo que a bacia nunca encha.
Além desse sistema, próximo à cozinha havia um filtro que sai da pia da cozinha que desenvolve o mesmo processo estabelecido pela BET dos banheiros. O que diferenciava era um coletor de gordura para que então a água seguisse o mesmo procedimento que ocorre na BET, porém neste caso a água não fica acumulada.
3. Leitura da paisagem
No primeiro dia, no período da tarde, fizemos uma trilha em direção ao morro Cocuruto, onde no decorrer da trilha foi feita uma leitura da paisagem em diferentes zonas, procurando evidenciar as diferenças nas características ambientais e nas sensações que cada zona proporcionava. Neste percurso realizamos quatro paradas e em cada uma delas, anotamos nossas percepções auditivas, visuais, olfativas, de iluminação solar entre outras sobre cada local.
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