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Obsolescencia Programada, um mal necessário

Por:   •  4/3/2016  •  Artigo  •  1.339 Palavras (6 Páginas)  •  473 Visualizações

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  1. INTRODUÇÃO

A partir da revolução industrial, o consumo dentro da economia teve um papel muito mais importante, o volume na linha de produção passou a ser um fator que evidenciava se a economia ia bem ou se a economia ia mal. Com isso a busca por aumentar a produção e incentivar o consumo tornou-se o carro chave nas tomadas de decisões estratégicas das grandes indústrias e comércio.

No começo do século XX, os EUA com a economia estimulada e com o consumo em alta, passaram por uma grande crise motivada pela superprodução, o que ficou conhecida como Grande Depressão ou Crise de 1929.

Devido à estagnação das linhas de produção, o aumento do desemprego e redução drástica no consumo, uma nova estratégia para reativar a economia deveria ser tomada. A partir dessa necessidade surgiu a ideia de obsolescência programada, proposta por Bernard London, em 1932. Segundo ele:

“Na atual e inadequada organização econômica da sociedade, muito é deixado aos caprichos do consumidor. [...] No período anterior a ela, de prosperidade, o povo americano não esperava até que as últimas possibilidades de uso de um bem fossem esgotadas. Substituíam artigos velhos por novos. Descartavam casas e automóveis bem antes que estivessem totalmente desgastados.” (LONDON, 1932)

A partir dessa perspectiva o autor exemplifica a situação vivida no pós-crise, a qual induziu os consumidores a usar os produtos até o fim de sua vida útil, e a reduzir o nível de consumo. Para reativar a economia, London sugeriu que os produtos passassem a ter prazo de validade e uma regulação feita pelo Estado do tempo de vida útil. Segundo ele essa seria uma forma de evitar que os bens gerados ficassem apenas com os proprietários, fazendo dessa forma com que a riqueza fosse distribuída entre a classe operária.

Contudo a obsolescência existente hoje em dia não segue o modelo proposto por London. A principal mudança é a inexistência do controle estatal, na regulamentação da vida útil, descarte e reaproveitamento. O responsável pela vida útil do produto é o próprio fabricante, o descarte é feito de forma irresponsável sem nenhuma política de reaproveitamento e reciclagem.

A falta de um órgão regulamentador da prática da obsolescência programada, leva com que haja um descontrole no volume de produção, extração e utilização de recursos naturais, assim comprometendo o meio ambiente. Outra consequência é o descarte inadequado, muitas vezes utilizando países de terceiro mundo como um depósito de lixo demonstrado no documentário franco-espanhol “Comprar, tirar, comprar – La historia secreta de la obsolescência programada” dirigido por Cosima Dannoritzer.

A obsolescência apesar de gerar danos colaterais, é uma ferramenta essencial em uma sociedade capitalista, que tem como base de crescimento o nível de consumo. Aceitando que essa sociedade dificilmente deixará o consumismo, de que maneira pode-se reduzir os danos causados e elaborar métodos de controle da produção?

 Um autor que retrata de forma adequada o decrescimento é Serge Latouche, em sua obra Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno, e por isso será de grande importância de desenvolvimento deste artigo.

  1. OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA E DESCRESCIMENTO

Para Latouche (2009) o planeta não suporta o ritmo de produção ao qual está submetido e não é possível mais conviver com o atual modelo de consumo, modelo este que tem três sustentáculos, sendo um deles a obsolescência programada:

São necessários três ingredientes para que a sociedade de consumo possa prosseguir o seu circuito diabólico: a publicidade, que cria o desejo de consumidor, o crédito, que lhe fornece os meios, e a obsolescência acelerada e programada dos produtos que, renova a necessidade deles. (LATOUCHE, 2009, p.17)

        Fica claro o papel da obsolescência programada, que desperta a vontade de algo novo, a necessidade de substituir e de comprar. Este consumo exacerbado gera uma grande quantidade de lixo que acaba afetando o meio ambiente e o aspecto social do planeta, dever-se-ia então encontrar uma forma de descarte adequada para os produtos que não tem mais uso.

        Mas não é o que acontece, a verdade é que grande parte do lixo é traficada para países de terceiro mundo, visto que o custo para o seu reaproveitamento é muito alto, e exige técnicas adequadas o que gera também problemas de saúde para as pessoas que vivem nesses países, já que a maior parte do lixo é eletrônico e contém metais pesados que podem causar doenças graves (NALINI, 2010).

        Há ainda de salientar o papel negativo da obsolescência programa na vida dos trabalhadores, Peres (2004) destaca principalmente o lado negativo dos certificados ISO, ou certificados de “qualidade total”:

A “qualidade total” torna-se, então, inteiramente compatível com a chamada lógica da produção destrutiva, na qual os traços marcantes são o desperdício, a destrutividade e a rápida obsolescência dos produtos. Visto sob esta ótica, não restam dúvidas de que o discurso da “qualidade total” é mais uma das estratégias do capital para atingir seu objetivo único e primordial: o lucro. O divulgado “respeito” pelo consumidor (que sofre com a baixa qualidade dos produtos) ou pelo trabalhador (afetado pela intensificação e exploração do processo de trabalho, ocultadas pelos certificados de qualidade), ocorrido com os processos de reestruturação produtiva, não passa de alienação diante da cruel realidade. (PERES, 2004)

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