Resenha: Complexidade Econômica
Por: Márlon Martins • 17/6/2018 • Resenha • 6.815 Palavras (28 Páginas) • 579 Visualizações
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Paulo Gala é um economista graduado em Economia pela Universidade de São Paulo (1998), mestrado em Economia pela Fundação Getulio Vargas/SP (2001) e doutorado em Economia pela Fundação Getulio Vargas/SP (2006). Atualmente é professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. Tem experiência na área de Economia, atuando principalmente nos temas macroeconomia, finanças, economia brasileira e desenvolvimento econômico. Paulo Gala fez parte de seu doutorado no Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Colúmbia, em Nova York, onde escreveu parte da obra e obteve contato com temários de complexidade econômica e de dados econômicos por Big Data, além do conhecimento do Atlas de Complexidade Econômica produzido por Hausmann e Hidalgo.
O economista Hausmann e o físico Hildalgo criaram um método de extraordinária simplicidade e comparabilidade entre países numa parceria entre o Media Lab do MIT e a Kennedy School de Harvard, utilizando a tecnologia Big Data, que por sua vez permite o armazenamento e processamento de grandes quantidades de dados a serem processados complexamente de maneira rápida. A partir da análise da pauta exportadora de um determinado país é possível medir de forma indireta a sofisticação tecnológica de seu tecido produtivo ou sua “complexidade econômica”. A metodologia criada para a construção dos índices de complexidade econômica culminou num atlas que reúne extenso material sobre uma infinidade de produtos e países para 50 anos desde 1963. (772 produtos e 144 países em 2012).
Os dados de produtos são apresentados em quadrículas de tamanho proporcional ao valor agregado em relação ao valor total do país ou outra categoria analisada. Essa maneira de visualização escalar dos produtos facilita a percepção acerca da complexidade econômica do país de análise. Um país com alta complexidade econômica terá uma relativa maior diversidade de produtos na sua pauta de exportação, ou seja, mais quadrículas, já que produtos sofisticados demandam conhecimento científico e tecnológico que resultam numa variedade de desenvolvimento de produtos que partem de princípios análogos para a produção. Em contrapartida, um país de baixa complexidade econômica tem uma relativa baixa diversidade de produtos na sua pauta de exportação, já que não produz muitos produtos sofisticados e limita-se à exportação de algumas commodities de abundância em seu território e/ou mesmo de produtos de baixa sofisticação tecnológica.
Com o advento dos dados através da Big Data, a criação do Atlas de complexidade econômica e dos conceitos dos indicadores de complexidade a luz dos trabalhos de Hausmann e Hidalgo, a obra se propõe ser uma maneira de explicar a grande problemática do desenvolvimento econômico e como entender a riqueza e a pobreza das nações, bem como poder fazer uma correlação de princípios já existentes nos clássicos da economia e, através da análise empírica favorecida pelo Atlas, poder atestar as veracidades ou equívocos dos postulados das teorias econômicas que buscam explicar a relatividade do desenvolvimento econômico.
2. CAP I: DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: DIVISÃO DO TRABALHO, RETORNOS CRESCENTES E COMPLEXIDADE
“Ou seja, não ubiquidade com diversidade significa ‘complexidade econômica’” (GALA, 2017, p. 22).
“Portanto, quanto mais complexa a estrutura produtiva de uma economia (bicicletas, carros, trens, helicópteros, químicos), maior o potencial de divisão do trabalho e maior o potencial para aumentos de produtividade” (GALA, 2017, p. 38).
“Ser desenvolvido significa dominar tecnologias avançadas de produção e criar capacidades e competências locais nos setores mais nobres” (GALA, 2017, p. 39)
O autor começa afirmando que existem duas grandes perspectivas acerca do processo de desenvolvimento econômico das nações. A tradicional, estruturalista, para a qual a peça chave para a riqueza das nações estava na especialização produtiva em atividades econômicas com retornos crescentes de escala. A moderna, da complexidade econômica, que parte de uma abordagem empírica, analisando um enorme banco de dados de Big Data e redes para o comércio internacional. Atividades com retornos crescentes de escala, grande incidência de inovações tecnológicas e múltiplas energias proporcionam desenvolvimento econômico. A não ubiquidade da produção gerada dessas atividades produz uma competição imperfeita. Países de alta complexidade econômica são capazes de produzir produtos com singularidade, de modo que produzem monopólios e/ou oligopólios em um certo tipo de produção. Como exemplo do autor no livro, os equipamentos médicos de processamento de imagem, algo que praticamente só Japão, Alemanha e Estados Unidos conseguem fabricar. Por outro lado, países de baixa complexidade econômica produzem ou extraem bens simples, facilmente feito por outras nações, o que cria uma competição perfeita e por isso um menor valor agregado.
Com isso, o autor ressalta que para que para um país se desenvolver ele precisa ser capaz de construir empresas nesses setores já muito bem ocupados, onde os potenciais de economias de escala e lucros são enormes, estando nisto a produtividade. Sem entrar nesses mercados e ocupar um espaço importante neles, não há ganhos de produtividade relevantes e não há desenvolvimento econômico. Claro que isso não é uma tarefa simples. É necessário tecnologia de ponta e em demanda, que possa alcançar a dos países complexos ou mesmo superá-los, pois muitas mercadorias de concorrência perfeita caracterizam-se por ter barreiras produtivas como patentes que impedem a reprodução dos mesmos produtos.
Para um país ser complexo do ponto de vista econômico, não basta a não-ubiquidade dos produtos exportados, mas também a diversidade da sua pauta de exportação. Um país poderia exportar produtos não ubíquos como commodities que só ele pudesse exportar, mas não seria complexo se não produzisse bens de alta complexidade de produção. Por isso, o índice de complexidade econômica de um país no Atlas depende desses dois fatores: ubiquidade e diversidade da produção. As economias de escala geram forças centrípetas em relação aos polos já existentes com retornos crescentes e, em contrapartida, os custos de transporte, do trabalho e ocupação geram forças centrífugas. A resultante disso é são redes produtivas estáticas, que não se mudam com facilidade. Por isso, o desenvolvimento econômico é sempre um fenômeno regional ou local.
Os produtos complexos tendem a se localizar em restritas regiões. Essa análise da
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