Resenha - Documentário Príncipes do Iene - João Augusto

O documentário conta a história da relação do Banco do Japão com a economia e as políticas do país. O Banco do Japão tinha o papel de criar e implementar a política monetária, manter o sistema financeiro estável e ainda promover um crescimento econômico. Suas políticas eram expansionistas, baseadas em decisões sobre taxas de juros, oferta monetária e de crédito. Às políticas são atribuídas a contribuição para o surgimento da bolha econômica, um período em que houve um crescimento especulativo rápido nos preços dos ativos, principalmente no mercado de imóveis e no mercado de ações.

 Com os mecanismos de taxas de juros e oferta monetária, o crédito foi alargado e proporcionou uma ascensão dos investimentos em imóveis e ações. O depoimento de uma mulher, Noriko Yamagiwa, exemplifica essa grande oferta de crédito do Banco do Japão, ela diz que jovens de 20 a 30 anos de salários modestos foram capazes de comprar segunda e terceira casas. Continuando a usar números para mostrar a crescente valorização dos setores imobiliários e acionista, o documentário expõe que as ações subiram 240% e os preços das terras cresceram 245% entre 1985 e 1989. É relatado ainda que até o final da década de 80, o valor do jardim à volta do Palácio Imperial no centro de Tóquio, valia tanto quanto todo o estado da Califórnia e, embora o Japão representasse apenas 1/26 do tamanho dos Estados Unidos, sua terra foi avaliada em quatro vezes a dos Estados Unidos, além de apenas um dos seus 23 distritos de Tóquio (Central Chiyoda Ward) ter valor de mercado maior que todo o Canadá.

Mas essa bolha não se manteria constante e sustentável por muito tempo, o que não estava no pensamento dos investidores, que continuavam a investir na expectativa da contínua valorização, se endividando cada vez mais. E o pior aconteceu, a bolha teve um colapso, diversas empresas e investidores tiveram enormes problemas financeiros, consequentemente se estendendo aos bancos e provocando uma recessão. Essa situação impactou a economia do Japão, enfraquecendo o sistema financeiro, deixando altas dívidas e estagnando a economia.

Outro ponto mostrado no documentário é a relação conflituosa do Banco do Japão com o Ministério das Finanças, havendo distintas visões entre eles sobre as políticas a serem adotadas, mostrando as pressões e influências significativas sobre as decisões a serem tomadas. Essa relação entre ambos teve destaque no crescimento da bolha e seu colapso. Resumindo, era um conflito de visões e uma pressão sobre o Banco do Japão interessada nas políticas monetárias a serem executadas, tudo isso diretamente ligado à economia do país.

O documentário faz questionamentos sobre as políticas adotadas, sobretudo mediante às pressões sofridas, baseadas em falas prontas de mudanças gerais e estruturais do sistema econômico japonês, indo de encontro à realidade que o Japão vivia, bem como é questionado no documentário: "Alegou-se que para acabar com a recessão e melhorar o desempenho, o Japão deveria mudar do capitalismo do bem-estar de volta ao capitalismo acionista. No entanto, ainda não está claro por que um país que tinha governado um consistente e significativo excedente da balança comercial teria necessidade de mudar seu sistema econômico para se tornar mais competitivo."

Assim, o documentário mostra criticamente o papel do Banco do Japão, suas políticas, conflitos e envolvimentos com outras instituições, suas responsabilidades em relação à bolha e econômica e, por fim, ainda relata um pouco sobre a transparência dos bancos centrais em todo o mundo, havendo diferença entre o que eles querem mostrar e como realmente funcionam, possuindo poderes significativos mas também "independentes, inexplicáveis e obscuros", "operando nas sombras" e afetando todos nós, sem qualquer prestação de contas a qualquer instituição democrática.