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A Angustia Da Vida Executiva

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Por:   •  23/10/2014  •  5.338 Palavras (22 Páginas)  •  714 Visualizações

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BenQ Mobile no Brasil, fabricante de celulares, esteve no centro de um furacão. A empresa é subsidiária do grupo taiwanês BenQ, que em 2006 registrou o maior prejuízo de sua história. Para ajustar as contas, fábricas foram fechadas mundo afora, e centenas de funcionários, demitidos. De Taiwan, Denise recebeu ordem para reduzir em 40% a estrutura da filial. Sua rotina tornou-se caótica. Ela chegou a trabalhar até 17 horas por dia. Nos finais de semana, reuniões intermináveis paralisaram sua vida pessoal.

Praticamente só respirava trabalho. Numa das decisões mais difíceis e doloridas de sua carreira, ela se viu na contingência de afastar 300 funcionários. "Amo o que faço, mas os momentos de infelicidade no trabalho já me fizeram ir diversas vezes para uma sessão de terapia", afirma Denise, uma das mais jovens presidentes de empresa no Brasil.

As angústias, temores e dilemas enfrentados por executivos do topo como Denise são o tema de um profundo mergulho nos corações e mentes dos altos executivos brasileiros, num estudo conduzido, nos últimos dois anos, pela psicóloga mineira Betania Tanure e pelos pesquisadores Antonio Carvalho Neto e Juliana Oliveira Braga. Professora associada da Fundação Dom Cabral e mestre convidada do Insead (França) e da London Business School, autora de sete livros na área de negócios e membro dos conselhos de administração da Gol e da Medial Saúde, Betania e seus colegas entrevistaram pessoalmente 263 presidentes, vice-presidentes e diretores de grandes empresas nacionais. Outros 965 altos executivos responderam a um extenso questionário. O levantamento abrangeu mais de mil executivos de aproximadamente 350 empresas. Dele emergiu um quadro preocupante. Acompanhe:

>>> 84% dos executivos são infelizes no trabalho.

>>> 76% deles acessam e-mail profissional fora do horário de trabalho.

>>> 58% acham que os cônjuges estão descontentes com o ritmo excessivo de trabalho deles.

>>> 55% vivenciam uma mudança radical no trabalho.

>>> 54% estão insatisfeitos com o tempo dedicado à vida pessoal.

>>> 35% apontam problemas com o chefe como a crise mais marcante de suas vidas.

"Fiquei abismada com o grau de desconforto dos executivos em seu trabalho", afirma Betania. Algumas entrevistas, que acabaram se convertendo em sessões de desabafo, duraram horas. Em alguns casos, tantas eram as queixas que a conversa teve de ser retomada. Todos foram ouvidos sob a condição de que seria mantida confidencialidade (o que faz toda a diferença em um trabalho dessa natureza). Lastreada pela atuação profissional de mais de duas décadas, a pesquisadora valeu-se da sólida relação de confiança estabelecida com seus entrevistados. Prevaleceu um clima de franqueza acima do comum em trabalhos dessa natureza. "Para seguir em frente, os executivos costumam colocar um véu em seus problemas e se recusam a olhar para suas infelicidades", afirma Betania.

Esta não é mais uma daquelas pesquisas simplistas, que se limitam a contabilizar respostas formais. Para chegar à conclusão de que 84 de cada 100 altos executivos brasileiros são infelizes no trabalho, os pesquisadores combinaram dois índices de avaliação. O primeiro, chamado Índice Global de Satisfação, considera variáveis como as horas trabalhadas, o grau de satisfação com os chefes e subordinados, os níveis de cobrança por resultados e os sistemas de recompensa, entre outros. O segundo critério, denominado Índice Global de Sensações e Atitudes, avalia o grau de ansiedade, insônia, problemas familiares, desânimo e consumo de bebidas alcoólicas, entre outros aspectos relacionados à vida pessoal. Depois de cruzados esses dados, com os respectivos pesos, foram considerados infelizes aqueles executivos cujos indicadores negativos sobrepujavam os positivos.

A globalização desponta no estudo como uma das principais vilãs responsáveis pelo aumento da tensão no mundo corporativo. Com a competição disparando de todos os lados, as empresas correm atrás de aumento de produtividade para brigar em condições de igualdade com a concorrência mais e mais voraz. Legiões de profissionais foram demitidas nesse processo. Quem antes fazia apenas o seu trabalho passou a realizar o de três pessoas. Quem chefiava um único departamento assumiu o comando de vários setores. Os que sobreviveram tiveram de provar sua competência de forma quase obsessiva. "O acirramento da competição globalizada representou uma virada no mundo corporativo brasileiro", afirma Betania. Metas cada vez mais ambiciosas foram estabelecidas. A tecnologia também teve um papel decisivo na aceleração do ritmo de trabalho nos últimos anos.

Equipamentos como o BlackBerry, o celular que facilita o envio e recebimento de e-mails, e os laptops, que permitem acessar a internet de qualquer lugar, sem precisar de rede fixa ou pontos wireless, acabaram por eliminar a fronteira entre a vida pessoal e o escritório. Trabalha-se o tempo todo. Na quadra de tênis. Em casa, com os filhos. No jantar romântico com a pessoa querida. Também nas férias e feriados. Veja o executivo paulista Davide Marcovitch, presidente do grupo Moët Hennessy na América Latina, dono de algumas grifes do setor de bebidas (Veuve Cliquot e Moët & Chandon), Marcovitch chega a passar 20 horas por dia no escritório em São Paulo. Ao longo de quatro décadas de carreira, ele afirma ter-se desligado das atribuições profissionais somente em duas ocasiões. "Uma na lua-de-mel, há 30 anos, e outra em 1999, numa viagem com minha mulher." Por que se sacrificar tanto? "É o único jeito de chegar ao topo", diz.

DENISE SANTOS 38 anos, presidente da BenQ Mobile

A carreira executiva deixou marcas na vida da engenheira elétrica Denise Santos, responsável pela BenQ Mobile no Brasil. Para ela, a solidão profissional revelou-se de forma dramática: "No ano passado, tive um problema de saúde, fiquei triste, mas ninguém me perguntou se havia algo de errado comigo". O desenvolvimento de grandes projetos também desgasta. Há três anos, participou da implantação do sistema GSM para a Claro e coordenava 400 pessoas. "Não conseguia dormir, passei a tomar remédios. No final, percebi que nada disso valeu a pena." Nos primeiros anos de trabalho, a entrega foi importante, mas virou escravidão. "Fui casada por sete anos e posso dizer que o excesso de trabalho foi uma das causas do fim", afirma. Depois da separação, ficou cinco anos sem nenhum relacionamento firme. Hoje, namora um homem

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