O Consumo e a Cidadania
Por: Fernando Florencio • 27/8/2017 • Resenha • 1.242 Palavras (5 Páginas) • 237 Visualizações
O Consumo e a Cidadania
Fernando Silva Florencio
Paulo de Oliveira
Prof. Msc. Renato Miranda
Ifes – Instituto Federal do Espírito Santo
Pós-Graduação em Gestão Empresarial
12/06/2017
RESUMO
O aquecimento global, a destruição dos recursos naturais e o aumento da população são assuntos sempre atuais tanto nos meios de comunicação quanto nas rodas de conversa. A soma desses problemas com o incentivo ao consumo desenfreado, principalmente pela mídia, pode resultar em um problema irreversível, a escassez de recursos naturais, fundamentais para a permanência do homem no planeta. Nesse contexto, este trabalho tem como objetivo evidenciar a influência do marketing no comportamento de consumo das pessoas, verificar possíveis consequências do consumo desenfreado no meio ambiente e nas relações sociais e sugerir mudanças, baseadas na literatura atual, como meio de superar esses problemas.
Palavras-chave: Marketing, Consumo, Sociedade.
- INTRODUÇÃO
Pessoas nascidas no início dos anos 80 já escutavam de suas professoras que um dia a água poderia acabar caso as pessoas continuassem a desmatar as florestas e poluir os rios. Muitos consideraram remota a possibilidade de que iriamos presenciar tal fato. Entretanto, aqui estamos. A falta de recursos hídricos já é realidade, não só aqui, como também, em outros países.
O aquecimento global é o grande aviso de que algo muito ruim acontece com o planeta. Apesar disso, esse alerta tem sido ignorado por muitos governos, como por exemplo, os Estados Unidos, que ratificaram a saída do Acordo de Paris.
Segundo a comunidade científica, a causa do aquecimento é a emissão de vários gases nocivos na atmosfera, como o CO2, que aumenta exponencialmente em função do aumento do consumo. (KENSKI, 2016). Nos sistemas capitalistas mais consumo significa mais produção, que por sua vez gera mais empregos, que por sua vez gera mais renda, que por sua vez gera
mais consumo, iniciando novamente o ciclo. Assim, o consumo é a peça principal que compõe a engrenagem da economia. Entretanto, se mais consumo significar mais uso dos recursos naturais e considerando ainda o aumento populacional, qual seria o “prazo de validade” do planeta Terra?
Essa não é uma questão que pode ser respondida facilmente. Mas, sabemos que a exploração crescente dos recursos naturais no método atual coloca em risco as condições de vida na Terra, na medida em que a economia capitalista exige um nível de produção insustentável.
Esse tema é muito complexo, pois as possibilidades de fixar limites são inviáveis economicamente. Será que temos saída? O caminho para a solução pode ser considerado sem saída pelos métodos convencionais e exige medidas drásticas.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O consumo está muito além do que o simples ato da compra de produtos, ou seja, da simples relação de compra e venda. Segundo TASCHNER (2009), o consumo funciona como um marcador social que define os grupos sociais em uma escala de importância, os bens posicionam as pessoas em relação às outras na pirâmide social. Dessa forma, o consumo pode tanto unir pessoas quanto segregar, muitas vezes, impondo barreiras intransponíveis entre pessoas de grupos distintos. Nesse caso, o consumo interfere nas relações sociais como fator de exclusão, deixando claro quem faz parte da camada social mais alta e da mais baixa.
Segundo BARBER (2003), a interferência do capitalismo consumista é ainda mais visível quando atua na infantilização dos adultos. Encorajado pela publicidade e pelo entretenimento, o consumidor adulto é compelido a gastar em vez de economizar, criando o modelo do consumidor ideal, ou seja, impulsivo e que não reflete muito antes de comprar. Criando uma legião de adulto-infantis, que acreditam no mito da eterna juventude, tomados pela síndrome de Peter Pan.
Embora o consumo, erroneamente, seja usado como forma de autoafirmação em uma comunidade ou círculo de convivência, nos é lançada a questão: é possível consumir e ao mesmo tempo praticar a cidadania? Os conceitos de cidadania e consumo tem algo em comum, o fato de que as pessoas precisam exercê-los para que eles existam. De fato, os dois deveriam andar juntos para que houvesse equilíbrio nessa relação.
Entretanto, segundo BAUMAN (2008), se as pessoas continuarem a se promoverem em função do consumo, no intuito de se tornarem atraentes e desejáveis, de modo a aumentar o seu “valor de mercado”, seria a transformação dos indivíduos em mercadorias. Ou seja, para conseguir atrair a atenção de outros indivíduos, farão de tudo para permanecer sempre na linha de frente das “prateleiras”, consumindo o que for necessário para isso.
A crescente influência do consumismo e do comercialismo parece ser um perigoso caminho, que está levando à substituição gradativa dos valores morais, éticos e cívicos por interesses meramente mercadológicos. Pessoas não podem ser consideradas mercadorias e suas escolhas em algumas áreas da vida não podem simplesmente ser pautadas segundo o melhor “custo-benefício”. A mercantilização do ser humano nos afasta cada vez mais de nossa essência humana e das virtudes éticas e morais. SANDEL (2012).
A influência do consumo é tamanha na sociedade que, segundo BAUMANN (2014), causou mudança até mesmo na estrutura das universidades, onde é dado como certo que somente as melhores instituições sobreviverão a essa interferência. A ideia geral é que os docentes consigam eles mesmos recursos para estudos e pesquisa, independente da ajuda do Estado ou da universidade. Tal postura segundo o autor endossa uma lógica de realizações e resultados rápidos.
O planeta não suportará essa rapidez exigida pela sociedade consumista, onde predomina a obsolescência acelerada e programada dos produtos. LATOUCHE (2009) afirma que, a humanidade consome quase 30% acima da capacidade de regeneração da biosfera. Considerando esse fato e contrapondo a ideia de crescimento sustentável, ele propõe o Decrescimento como solução para esse problema.
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