O Político nas Relações Internacionais
Por: Marcella Magalhães • 14/10/2021 • Artigo • 6.934 Palavras (28 Páginas) • 181 Visualizações
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O Político: De Karl a Carl
The political: From Karl to carl
Marcella Magalhães Pinto *
Bolsista CNPq
Resumo: O presente artigo tem por objetivo contribuir para elucidação conceitual da categoria do político nas obras de Karl Marx e Carl Schmitt. Faremos uma análise relacional entre os autores mediantes as perspectivas singulares de estruturação do campo do político, de seus limites e avanços. Sendo assim, levaremos em conta as formas recentes de se fazer política na contemporaneidade, ou seja, entender como a formação do estado (processo histórico) e sua atual administração produzem respostas políticas com caráter emergencial; para abordar a questão referente ao suposto fim do político, presente na obra do autor Giorgio Agamben. A discussão será pautada no campo da filosofia política no que concerne as ações políticas, que tem como pano de fundo o campo de poder (e de seus excessos) e das suas resistências.
Palavras -chave: Estado de Exceção, Ação Política, Político.
Abstract: The present paper intends to contribute with the conceptual elucidation of the category “the political” in the Karl Marx and Carl Schimitt pieces. We are going to do a relacional analysis among these authors, according to singular perspectives of political field organization, its limits and improvals. Nevertheless, we are going to consider the recent ways of doing politics: understand how the state are built (historical process) and how its current administration produces political answers with an emergencial character, to approach the question about the supposed end of “the political”, situated in the Giorgio Agamben piece. The discussion will be lined in the political philosophy field in what concerns to political actions, which has as background the power fiels (and its excesses) and its resistencies.
Keywords: State Exception, Political Act and Political.
O político de Karl Marx:
Antes de começar o artigo sobre o campo do político em Marx, é preciso tecer algumas recomendações sobre a polêmica discussão da existência ou não de uma Teoria Marxiana de Estado. Problemática esta, que dia, após dia, se recria no campo teórico/político. Esse campo é investigado por Noberto Bobbio, um grande crítico do marxismo, para ele existe uma falta/ausência dessa categoria no pensamento marxista, pois não existe um delineamento claro sobre como se "governar" e do que exatamente seria um Estado. No entanto, inúmeros elementos presentes na obra de Marx são deixados em seus trabalhos, que nos permitem compreender o lugar ocupado pela política na sua visão sobre a sociedade. Mesmo sendo uma teoria incompleta há uma tentativa de entender como se organiza/molda a estruturação da dimensão política na totalidade social e do que seria o Estado no capitalismo.
A temática do Estado é abordada por Marx em seus primeiros escritos em que articula filosofia e política. O rumo que Marx toma nesse percurso é a contraposição às concepções político-filosóficas da esquerda hegeliana. Isso aparece em dois textos publicados por Marx que são "A questão judaica" e o "O 18 de Brumário de Luís Bonaparte". Esses trabalhos representam um marco de ruptura da filosofia hegeliana e do direcionamento para o materialismo histórico.
Na obra "A questão judaica" é feita uma crítica em resposta aos artigos de Bruno Bauer, integrante da esquerda hegeliana. Em seus artigos, Bauer defende a emancipação da religião como condição necessária para a emancipação política. Seu posicionamento é a de que os judeus precisam abrir mão de sua condição religiosa para lutarem por uma efetiva emancipação política para com o Estado. Logo, essa emancipação seria o limiar da liberdade que o ser social pode ter dentro da concepção hegeliana do Estado absoluto, no qual o Estado é o ator responsável pelo controle dos conflitos oriundos do campo social. Em sua análise crítica, Marx vai advogar a favor da plena convivência da religião com o Estado político burguês, mesmo o Estado sendo Laico. Marx encaminha para a uma melhora da emancipação humana e mostra que a questão sine qua non para a liberdade humana não deve ser cerceada à emancipação política, uma vez que a emancipação política é a emancipação sob a universalidade abstrata do Estado e essa seria parcial.
Sendo assim, é feita uma crítica crucial no que consiste a compreensão do ser social, na defesa da emancipação política como forma última de emancipação humana. Essa ideia representa uma suspensão na concepção do autor sobre o Estado. Esse é o ponto de seu desenvolvimento teórico em que Marx desliga- se da concepção de “politicidade" como atributo positivo inseparável da autêntica entificação humana. Para os jovens hegelianos, as questões sociais buscam resoluções à universalidade racional do Estado absoluto. Para Marx as questões sociais da sociedade civil (o que Hegel chama de esfera das necessidades) não estão subordinadas ao interesse superior do Estado, pois para o autor as resoluções parciais das problemáticas estão alienadas pelo o homem, sendo assim, o que caracteriza a determinação ontológica da vida social são as condições materiais e é a partir delas que devemos buscar compreender a totalidade da dinâmica política.
Seguindo com a linha de pensamento do autor à uma especialização da emancipação humana e demonstra que a questão central para a liberdade humana não deve ser limitada à emancipação política, uma vez que a emancipação política é a emancipação sob a universalidade abstrata e alienada do Estado. Dessa maneira, o autor faz um deslocamento para o campo do político e assume a relação entre emancipação política e emancipação humana.
"A emancipação política não é o modo radical e isento de contradições da emancipação humana. (...) o Estado pode ser um Estado livre, sem que o homem seja um homem livre". Karl Marx, A questão judaica. São Paulo, Moraes, 1991, p. 23.
(...) E a crítica que Marx faz ao Estado como entidade absoluta no sentido hegeliano. Entendendo a emancipação política como um evento parcial na emancipação humana, percebe-se que a essência do Estado está fundada na abstração do político em relação à totalidade social. Abstração essa que, longe de ser irreal ou ilusória, torna-se decisiva no desenvolvimento das contradições do sistema e no andamento da luta de classes". Karl Marx, A questão judaica. São Paulo, Moraes, 1991, p. 28.
As normas sociais na esfera da sociedade civil são a base real da alienação do Estado abstrato, anunciada por Marx na obra "A questão judaica". A percepção desse aspecto dá a possibilidade de superar a lógica hegeliana e compreender o Estado não como representante do interesse geral, mas, pelo contrário, como o representante dos interesses comuns da classe dominante, como forma da dominação cujo conteúdo social é determinado na esfera da sociedade civil, onde se relacionam as forças produtivas e as relações sociais de produção. O Estado está fundado sobre a sociedade civil, não o contrário. Ele se mantém na sociedade civil dos homens genéricos, egoístas, desfiliados da comunidade.
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