Politica Governo Reagan
Por: josevitorcosta • 21/5/2020 • Artigo • 1.572 Palavras (7 Páginas) • 180 Visualizações
No início do governo Reagan, a política externa foi marcada por uma conduta mais competitiva em relação ao embate ideológico, postura que se amenizou com a posse de Mikhail Gorbachev frente à União Soviética, em 1985. A política externa, que oscilou bastante no decorrer do dois mandatos, estava sendo formulada contrastando os erros das do período Carter. Um aspecto importante para os Estados Unidos foi o resgate do poder hegemônico a partir da América Latina (TREIN, 1983). Dessa maneira, o comportamento político norte-americano, da época, no que se refere à URSS foi confrontacionista no campo retórico e combativo nos países do Terceiro Mundo financiados ou com participação soviética.
A negociação em questão da limitação de armas estratégicas continuou em pauta nas relações EUA-URSS. No que diz respeito às orientações presidenciais para assuntos de segurança, a National Security Decision Directive 75 é a principal responsável por demonstrar o diálogo entre as duas nações. Segundo essa, os EUA precisariam ter “resistência externa ao imperialismo soviético; pressão interna na União Soviética para enfraquecer as fontes do imperialismo soviético e conduzir negociações para eliminar, na base da reciprocidade estrita, divergências pendentes” (NSDD 75, 1983).
Durante os anos de 1981 e 1983, o gasto com defesa foi considerado um dos maiores da história do país, pois somente no ano de 1981, o orçamento foi de 220 bilhões de dólares crescendo para o total de um trilhão entre os anos de 1981 e 1985. Nos anos subsequentes, 1984 e 1985, a retórica dura foi contornada e houve conciliação e acomodação de interesses entre as potências (SMITH, 1988, p.53). Reagan sinalizou afirmativamente para negociações sobre a redução de armas estratégicas, desde que a União Soviética também se comprometesse com essa meta. Reagan e Gorbachev reuniram-se para debater o tema entre os anos de 1985 e 1988 (SAMUEL, 2012, p. 135-6). As atitudes conciliadoras, que aproximavam as superpotências e aumentavam as possibilidades das negociações EUA-URSS, ao longo do segundo mandato de Reagan (1985-1989), ocorreram em grande maioria, depois das reformas econômicas e políticas de Gorbachev (1985): perestroika e glasnost.
É interessante salientar que a Doutrina Reagan não foi um anúncio formal assim intitulado, mas sim, uma política externa fruto de inúmeros discursos presidenciais, nas quais as idéias de combate aos grupos esquerdistas foram colocadas como prioridade. No caso específico do discurso do Estado da União, pronunciado em fevereiro de 1985, Reagan declarou apoio político às ações anticomunistas “do Afeganistão à Nicarágua” e considerou aqueles que combatiam o comunismo ao redor do globo como “lutadores pela/defensores da liberdade”. Diversos comentarista políticos e jornalistas refletiram sobre esse discurso presidencial e esse tema da política externa estadunidense. Conforme Charles Krauthammer, “a militância democrática” e o “combate às revoluções anticomunistas” compreendiam os dois princípios substanciais da Doutrina Reagan. A partir desse momento, o uso tornou-se corriqueiro, ainda que não constasse em documentos do Conselho de Segurança Nacional (CANNON, 2000, p.323). Porém, o presidente apenas uma vez fez uso da expressão Doutrina Reagan, em uma declaração proferida em outubro de 1988 na Universidade Nacional de Defesa:
Em Granada, depois de mais de uma década à margem, a América finalmente voltou para as batalhas pela liberdade. E nos anos seguintes, nós estávamos lá. Em todo o mundo, no Afeganistão, Angola, Camboja, e sim, América Central, os Estados Unidos estão até hoje com aqueles que lutaram pela liberdade. Nós estamos com as pessoas comuns que tiveram coragem de pegar em armas contra a tirania do comunismo. Esta posição é o cerne do que alguns chamaram de Doutrina Reagan.
O conflito ideológico Leste-Oeste, do qual Reagan fez parte, esteve presente nas mais diversas regiões e continentes: Ásia, África, América Latina e Europa. Nas nações vizinhas à União Soviética, o Afeganistão foi o que se destacou com o recebimento de ajuda financeira e militar dos Estados Unidos, a milícia afegã recebeu um significativo respaldo para confrontar o grupo afegão pró-soviético. A guerra civil no Afeganistão (1979-1992) passou a ser primazia norte-americana no continente asiático quando a URSS promoveu uma intervenção com o propósito de auxiliar o Partido Democrático Popular do Afeganistão, de orientação marxista, em 1979. Além disso, a localização estratégica do país induziu os EUA a impugnarem à potência rival, dando o suporte necessário à milícia islâmica mujahideen (LYNCH, 2011). Outro país asiático que contou com apoio financeiro estadunidense, só que em menor proporção, foi o Camboja que opunha-se ao Vietnã em polêmicas provenientes da Guerra da Indochina (1975-1989).
No que lhe concerne ao continente africano, apesar da África não estar situada no centro da disputa da Guerra Fria, o presidente Reagan revogou a Emenda Clark em 1985. Então, os Estados Unidos enviaram ajuda financeira à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que contrapunha-se ao Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA). A guerra civil angolana foi uma zona de choque entre as superpotências, não somente pela assistência soviética à MPLA, mas também pela presença de tropas cubanas no território. Assim sendo, deduz-se que o suporte militar soviético a guerrilhas foi imprescindível para Reagan encaminhar ajuda externa aos “lutadores pela liberdade” como enunciava a “Doutrina Reagan”. Outro país que, apesar de não sofrer interferência militar direta da União Soviética, deparou-se com a intromissão ainda que branda dos EUA, devido a existência de grupos de orientação marxista em combate, foi Moçambique. Mesmo sem o financiamento de forças armadas, Reagan disse que não admitiria o desembarque de tropas cubanas naquele ou em qualquer país do continente. Um quadro parecido aconteceu com o governo comunista da Etiópia, que foi alvo de críticas e denúncias de violações dos direitos humanos enquanto Reagan esteve na presidência. (LYNCH, 2011).
Já na América Latina, uma região tradicional de busca de influência política norte-americana, Reagan apresentou uma atenção maior em virtude da administração Carter ter se posicionado de forma contrária aos regimes políticos autoritários. De acordo com Pecequilo (2003, p.233), o então atual presidente criticou seu antecessor pela (...) complacência com o avanço dos regimes hostis aos Estados Unidos na região (especialmente na América Central e Caribe), e pelo afastamento de antigos aliados tradicionais pelas pressões dos direitos humanos e democracia.
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