A Resenha os Sonhadores
Por: nicksni • 8/6/2021 • Resenha • 957 Palavras (4 Páginas) • 279 Visualizações
Resenha “Os sonhadores”
Nicole de Araujo Lopes (RA00274512)
2° período
O filme de Bernardo Bertolucci, “Os sonhadores”, discorre sobre a relação dos gêmeos parisienses Theo e Isabelle, com Matthew, um americano. A amizade é construída no contexto da revolução de 1968, esta que, superou barreiras étnicas, culturais, políticas e de classe. Os três jovens fazem parte de um grupo de cinéfilos que lutam contra as medidas tomadas pelo então governo, uma delas em relação a cinemateca que frequentavam. O filme conta ainda com a recriação dos discursos de Jean Pierre Kalfon, e de Jean Pierre Léaud, na manifestação contra a demissão de Henri Langlois da cinemateca. A obra descreve um momento crítico, com um retrato quase documental da época, há também referências diretas a obras de Godard como “Band à Part”, de Mamolian como “Queen Christina” e de Browning com “Freaks”, com a recriação de alguns momentos fílmicos. Há um clima repleto de intertextualidade, no qual temas políticos, cinematográficos e sexuais são explicitamente debatidos.
Os jovens vão para a rua e, nos poucos minutos de luta visíveis no filme, há uma discussão entre Matthew e Theo, talvez a mais importante: quando Theo agarra o coquetel molotov, Matthew tenta impedi-lo do ato, pregando o pacifismo, com beijos: "fazer amor e não a guerra", como se dizia nos levantes de 1968. O coquetel atirado desencadeia repressão da polícia francesa. A fala de Matthew pode ser interpretada como uma crítica de Bertolucci ao modo como se agiu em 1968, o ano que entrou para a história por uma série de revoltas e levantes em escala global, na fala de Mathew: “Primavera de 1968, o mundo finalmente atravessou a tela de projeção “.
Foi uma época marcados por contestações à guerras em todo o mundo, a Europa Ocidental, que até então era aliada dos EUA, pela pressão de suas próprias sociedades, como visto na sociedade francesa do filme, buscava o caminho da paz. No contexto da Guerra Fria (1945-1991), a juventude se rebelou em todo o mundo e protagonizou uma revolução cultural e nos costumes. No dia 3 de maio de 1968, estudantes franceses ocuparam a universidade mais tradicional do país, a Sorbonne. Os manifestantes passaram a criticar a política trabalhista e educacional do governo do general Charles de Gaulle, as guerras desencadeadas pelo contexto bipolar e a falta de paz ao redor do mundo.
De Gaulle governou a França por mais de uma década após 1958, período no qual ele tentou elevar seu país a condição de destaque na Europa. Desejava limitar dos EUA e da União Soviética os papéis no continente, para isso tomou medidas como retirar a França do exército integrado da OTAN e tentou aumentar a participação internacional do país. As tensões na Europa se formaram por conta da impotência do europeu diante aos excessos da bipolaridade: “Nenhuma unidade óbvia entre os europeus além de seu ressentimento por serem tratados como peões pelos Estados Unidos e pela União Soviética em um jogo de geopolítica global. foram lembretes cruéis do papel central que a União Soviética e os Estados Unidos continuaram a desempenhar na determinação minando o curso das relações internacionais.” (HANHIMAKI, 2010).
Apesar disso, no contexto maior, a Guerra passava por um momento de distensão, termo utilizado em referência à redução geral de tensão entre a União Soviética e os Estados Unidos durante a Guerra Fria, ocorrido justamente no final da década de 1960 e se estendeu até o início dos anos 1980. Desde então, o termo tem sido usado em política internacional, para indicar uma situação internacional na qual nações que tinham anteriormente um relacionamento passam a restabelecer relações diplomáticas e culturais, apaziguando seu relacionamento e diminuindo o risco de conflito declarado. A détente (termo em francês) da Guerra Fria começou na Europa, que era cada vez mais um caso à parte no contexto das relações internacionais na década de 1960. O sistema internacional não era uma simples construção hierárquica, o que demonstra o fato dos protestos e os interesses não só da nação francesa, mas de seus cidadãos, Isabelle e Theo que possuíam interesses próprios. “A multipolaridade existia sob o manto da bipolaridade e os fracos influenciavam as políticas dos fortes”. (HANHIMAKI, 2010)
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