AS CRÍTICAS DA ANTROPOLOGIA PÓS-COLONIAL E PÓS-MODERNA À ANTROPOLOGIA CLÁSSICA
Por: missengland29 • 23/9/2015 • Artigo • 2.044 Palavras (9 Páginas) • 1.150 Visualizações
AS CRÍTICAS DA ANTROPOLOGIA PÓS-COLONIAL E PÓS-MODERNA À ANTROPOLOGIA CLÁSSICA
Resumo
A Antropologia Clássica sofreu várias críticas com a globalização e o fim do período colonial, principalmente devido ao desaparecimento de culturas isoladas, que eram tidas como o objeto de estudo antropológico. A antropologia pós-moderna e pós-colonial surge, então, como uma tentativa de recuperar o status da antropologia e apresenta alternativas ao estudo antropológico.
Palavras-chaves: Antropologia, pós-modernidade, pós-colonialismo, crítica antropológica, Antropologia clássica.
A Antropologia pós-moderna surge como uma crítica à Antropologia Clássica. Considera-se que a abordagem clássica sofreu, ao longo dos anos, a perda de seu objeto clássico de estudo, já que as ditas “sociedades primitivas” não mais se apresentam como anteriormente, em especial durante o período colonial. Essa crítica não implica, porém, uma ruptura com a Antropologia Clássica. Ela indica a busca por respostas às mudanças que vinham ocorrendo nas sociedades e as transformações que marcam o cenário antropológico hoje.
A tradição antropológica, com o trabalho de campo, ganha projeção com Bronislaw Malinowski. No intuito de legitimar a antropologia, ele desempenha a chamada pesquisa de campo, a etnografia. Segundo ele, para fazer etnografia era preciso definir objetivos verdadeiramente científicos, mantendo a imparcialidade em relação ao objeto de estudo. Foi isso que ele tentou fazer nas Ilhas Trobriand, na Nova Guiné, relato de sua principal obra, Os Argonautas do Pacífico Ocidental. Sua teoria funcionalista considerava imprescindível viver entre os nativos, analisar a rotina dos indivíduos e estabelecer uma documentação da mentalidade dos mesmos, através de relatos de rituais e expressões típicas. No caso dos trombriandeses, ele utiliza o Kula, ritual de troca entre as tribos, para afirmar que os indivíduos não percebem a estrutura social como um todo e caberia, portanto, ao etnógrafo integrar os detalhes observados. Sua teoria, porém, apresentava uma descrição etnográfica extremamente rica seguida de um simplismo de acepções teóricas e um enorme aplanamento do que é cultura.
A Antropologia estrutural, por outro lado, é marcada, principalmente, pela obra do francês Claude Lévi-Strauss. Sua teoria parte do pressuposto que existe uma estrutura inconsciente comum a todos os indivíduos. Assim como Malinowski, ele acredita que o homem não tem consciência do motivo pelo qual ele age de determinada maneira. O antropólogo, que ele também afirma ter uma visão privilegiada, é quem se mostra capaz de explicar a forma com que os indivíduos agem. Assim, ele buscava encontrar essa estrutura comum para, então, explicá-la. Por esse motivo, ele focou seus estudos nas estruturas elementares do parentesco e nos mitos. Nessa medida, o estruturalismo acaba sendo considerado uma extensão mais consistente do funcionalismo de Malinowski.
É possível perceber, portanto, que a Antropologia Clássica se desenvolveu em um período marcado pela supremacia européia: o período colonial. Havia uma divisão clara entre os Estados “civilizados”, os europeus, e os Estados coloniais. O contato entre europeus e as tais “sociedades primitivas” dos Estados coloniais era extremamente reduzido. Muitas vezes, apenas antropólogos entravam em contato com as tribos e sociedades dos povos colonizados. Assim, a Antropologia se propôs a estudar essas culturas isoladas e distintas, o que de certa forma satisfazia a “necessidade” européia de suprir suas curiosidades em relação aos “exóticos” povos; sem, no entanto, retratar de maneira explícita o jogo de poder existente. Neste contexto, o termo cultura foi apropriado por discursos políticos para justificar o processo colonizador, afirmando a superioridade européia.
É partindo desse ponto que Edward Said desenvolve seus trabalhos. Árabe nascido em uma colônia britânica, Said trabalha com a idéia de que Oriente era, na década de 70, basicamente uma invenção européia e o fora desde a Antiguidade. Era um lugar de romance, seres exóticos, de memórias e paisagens obsessivas, de experiências notáveis. Nessa época, o principal para o visitante europeu era a representação européia do Oriente e sua ruína contemporânea.
Ele chama de orientalismo um modo de resolver o Oriente que está baseado no lugar especial ocupado por ele na experiência ocidental européia. O Oriente é uma das mais profundas imagens do Outro, que ajudou a definir a imagem européia devido ao contraste. Said entende por orientalismo várias coisas interdependentes. Primeiro, há uma designação acadêmica: qualquer um que dê aulas, escreva ou pesquise sobre o Oriente é um orientalista. Orientalismo pode ser um estilo de pensamento baseado em uma distinção epistemológica feita entre Oriente e Ocidente. O terceiro tipo de orientalismo trata dele como uma instituição organizada para negociar com o Oriente, ou seja, orientalismo como um estilo ocidental para dominar, reestruturar e ter autoridade sobre o Oriente. O orientalismo deriva, principalmente, de uma proximidade entre Inglaterra e França e o Oriente.
Ele afirma que idéias, culturas e histórias não podem ser estudadas sem que sua configuração de poder também o seja. Assim, o Oriente foi orientalizado porque permitiu ser feito oriental. Apesar disso, o orientalismo não é um conjunto de mentiras, mas sim um corpo criado de teoria e prática em que houve considerável investimento material. É a hegemonia que confere ao orientalismo essa durabilidade.
A imposição dominante é que o conhecimento produzido pelo ocidente é apolítico. Na prática, a realidade é muito mais problemática. Assim, o orientalismo está marcado pelo fato político: quando um europeu chega ao Oriente, ele chega primeiro como europeu, depois como indivíduo. Said é um oriental e colocou o Oriente islâmico no centro das atenções.
A demarcação absoluta entre leste o oeste, de acordo com Said, demorou anos para ser feita. O relacionamento ocidente-oriente sempre foi um de forte-fraco. O oriental era irracional, depravado, infantil e diferente, enquanto o europeu era racional, virtuoso, maduro e normal. O que dava ao mundo oriental sua inteligibilidade e identidade não era resultado de seus esforços, mas era toda a complexa série de manipulações cultas pelas quais o oriente era identificado pelo ocidente. Said afirma, portanto, que a realidade orientalista é tão desumana quanto persistente já que uma ordem de soberania é estabelecida do leste para o oeste. O orientalismo expressa a força do Ocidente e a fraqueza do Oriente, tal como ela é vista pelo Ocidente.
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