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Analise - Dr. Strangelove e a Barganha

Por:   •  21/5/2016  •  Resenha  •  4.158 Palavras (17 Páginas)  •  394 Visualizações

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Dr. Strangelove

O filme Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb traz uma temática muito interessante em termos de análise a partir dos conceitos da barganha. Baseando-se na situação que se encontrava o cenário internacional onde, durante vários anos da Guerra Fria, a tensão entre EUA e União Soviética foi latente, existindo uma "paz armada" que exigia um enorme esforço da diplomacia de ambas as nações para evitar que este conflito deflagrasse numa luta armada e fosse utilizada a bomba atómica. A história se desenrola em três diferentes cenários: aquele onde Ripper se encontra, que vive um panorama de guerra na medida que forças americanas tentam entrar na base, e seus soldados os combatem pensando que os mesmos são agentes comunistas disfarçados; o cenário de um dos B-52 que segue as ordens e parte para seu alvo, e continua insistente movido basicamente pela obsessão do Major King (Kong), que comanda o bombardeiro mesmo depois de ter sido danificado pelos soviéticos e não ter esperanças de voltar para casa; e aquele que se passa na Sala de Guerra, onde acontecem as discussões e onde são tomadas as grandes decisões, na qual o presidente Merkin Muffley está reunido com toda sua comitiva, em especial o general Buck Turgidson e o personagem que dá nome ao filme, Dr. Strangelove.

Em sua trama o filme mostra Jack Ripper, um general norte americano transtornado, que direto de sua base ordena que o Capitão Lionel Mandrake, um militar da RAF presente na sua base, coloque a unidade em Alerta Vermelho e transmita o plano R aos vários aviões que se encontravam em ação. Entretanto, o "Plano R" só deveria ser utilizado se houvesse um ataque russo em solo norte-americano. Esse plano seria uma reação imediata, com ataque às instalações nucleares soviéticas. Mas o plano é ativado graças a paranoia de Ripper, que imagina que a "ameaça vermelha" está retirando a pureza dos fluídos americanos. Nessa situação, podemos perceber que Ripper achou uma brecha nas instruções de ataque, e faz todas as ações possíveis para obter sucesso no plano, como foco principal eliminando a comunicação, o ponto chave do ataque. Mas não se trata de um compromisso irrevogável, já que existe uma maneira de voltar atrás da ação, à utilização do código. Ripper não possui um motivo aparente para atacar a União soviética, somente seu ódio pelos “comunas” e uma teoria que ele mesmo elabora que não faz nenhum sentido, mostrando-o que estaria em um possível delírio psicótico. Ele desenvolveu uma teoria onde a adição de flúor em vários produtos, da água até o sal, é uma estratégia dos russos para contaminar os americanos, daí ele só toma água destilada ou da chuva. Esse comportamento que beira a loucura (se é que não pode ser considerado loucura em si) pode ser tido como resultado da enorme propaganda anticomunista disseminada pelo governo americano. Na instauração do medo, os instintos mais básicos de sobrevivência do homem são acionados, e por isso o general tem com clareza o que deve fazer para salvar sua pátria da ameaça comunista. Assim, envia uma ordem para que os bombardeiros que carregam ogivas nucleares e rondavam o território soviético ataquem, cortando todas as formas de comunicação com a base e com os aviões, o único meio de se comunicar seria através de um código de três letras, que no caso só o General Ripper o possui. Em seguida, para impossibilitar que tal ação seja contida ele dá a ordem para que os soldados não confiem em ninguém que não conheçam pessoalmente devido ao fato dele acreditar piamente que os comunistas podem estar infiltrados em sua própria base.

A mensagem do plano R logo chega aos aviões, eles, portanto cortam a comunicação da aeronave e introduzem o plano de ataque. Esse tipo de agressão aparentemente sem nenhum motivo e de grande caráter de poder destrutivo é iniciada sem antes ocorrer um diálogo prévio entre o inimigo para achar uma solução que satisfaça  a ambos. Sendo um tipo de ação de confrontação, que só se preocupa com os próprios interesses, tentando impor sua solução sobre o outro. É uma ação de total risco de conflito e propício a guerra total. A desconfiança do General Ripper se baseia apenas na diferença de ideologias entre os Estados Unidos e a União Soviética, ele se mostra tão alienado que desconsidere quaisquer outras ações possíveis.

Ripper e Mandrake, dois militares com posturas distintas. Ripper e sua comparação de méritos relativos é uma das considerações que o leva a ter essa decisão aparentemente desnecessária, ele considera os Estados Unidos com maior poder bélico, e mais bem preparados para uma guerra do que os russos. Esse tipo de concepção o encoraja a partir para a confrontação direta. Ações de pensamentos soma-zero similarmente nesse caso vai encorajar o conflito por parte do General já que ele supõe que suas armas nucleares vão conseguir destruir o inimigo. Mesmo que a União Soviética comece a contra-atacar, e os Estados Unidos sofram perdas consideráveis, a ação vale a pena ser concluída.

Tal situação fica crítica entre os dois, Ripper e Mandrake, quando este primeiro dá a falsa notícia do ataque da URSS, instaurando o medo da concretização da guerra em Mandrake e influenciando-o a se colocar contrário a decisão do General Ripper, argumentando sobre a quão precipitada e infundada é essa medida com base nos noticiários que mostravam tranquilidade no país e não uma nação sob ataque como dizia Ripper. Mandrake descobre que nenhuma ordem de guerra foi emitida pelo Pentágono e tenta parar Ripper, mas ambos estão trancados no escritório. No momento em que Mandrake diz que não pode aceitar a ordem do general e que irá tentar impedir, Ripper o ameaça revelando um revolver sobre a mesa após ter trancado todas as saídas do escritório. Nesta situação notamos o uso da ameaça pelo general como meio para atingir seu objetivo que, no momento, era impedir que o Capitão Mandrake atrapalhasse de alguma forma seu plano. Ao mostrar a arma, o general tenta constranger Mandrake para que não faça nada. Notamos também que ele utilizou de uma ameaça fracionada, pois demonstra o risco do não cumprimento dela, e não a certeza da morte. Quando o general se coloca naquela situação tem um incentivo para comprometer-se com a ameaça, pois, se bem-sucedida não será preciso cumpri-la. Mas a eficácia da ameaça depende da credulidade do outro. A ameaça seria ineficaz se o ameaçador não pudesse demonstrar que teria um incentivo para cumprir a ameaça caso esta falhasse e isso é mostrado por meio da insanidade que se percebe em Ripper. A ameaça como método de barganha política e uma tática perigosa, devendo ser usada como último recurso por possuir alto teor destrutivo por ambos os lados se ela não funcionar de imediato. Ameaças apresentam conteúdo de predomínio inteiramente a questões individuais, igual ao que ocorre a uma confrontação de ações, isso porque é uma tática que não leva em conta nenhum interesse do outro. Até um equacionamento das ações é desapressado nesse tipo de situação, ameaças levam em conta um alto poder de comprometimento do ameaçante.  

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