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Avaliação da Disciplina “Futebol, Poder e Relações Internacionais”

Por:   •  22/11/2019  •  Seminário  •  2.229 Palavras (9 Páginas)  •  252 Visualizações

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1ª Avaliação da disciplina “Futebol, Poder e Relações Internacionais”

Aluna: Tatiane L. de Medeiros

  1. O futebol chega ao Brasil no final do século XIX como um dos produtos exportados pelos ingleses e se difundiu rapidamente entre as elites, devido principalmente a adoção da pratica da Educação Física nas escolas. Dessa forma, jogar futebol era um elemento de diferenciação social praticado por jovens brancos pertencentes as famílias que formavam a elite. É nesse contexto que Lima Barreto produz suas crônicas onde ele, mulato de origem humilde, critica o futebol exatamente por entende-lo como um espaço de reprodução de preconceitos de raça e classe.

É apenas no ano de 1923 que a situação começa a mudar quando o Vasco é campeão carioca com um time de jogadores negros da classe trabalhadora iniciando uma revolução não somente no futebol como em toda a vida social. Nesse momento onde a questão da identidade nacional está em voga é que já devidamente popularizado em todas as classes sociais, o futebol se torna um elemento fundamental para a construção do que é ser brasileiro, passando necessariamente pela valorização da mestiçagem. As teses de Gilberto Freyre e a interpretação feita por Mario Filho do mito da democracia racial servem como alicerce para isso.

O futebol jogado na América do Sul era bem diferente daquele praticado pelos ingleses. Os “estilos nacionais” acontecem dentro do espaço simbólico onde os sentimentos nacionalistas se expressão numa pratica valorizada e entendida por amplos setores da população, inclusive transbordando para além das fronteiras nacionais. O resultado disso na América do Sul é uma valorização de uma corporalidade específica, num certo tipo de uso social do corpo que busca vencer o adversário através da exploração de suas potencialidades estéticas e da habilidade. Isso não é um processo individual, mas coletivo onde o aplauso é a recompensa e o estímulos. No “estilo brasileiro” temos a valorização do desempenho individual, um lugar maior para a habilidade, inventividade e improvisação, onde o craque surge como herói se sobrepondo a disciplina e a tática que ficou conhecido como futebol-arte. O mito das três raças representado pelo mestiço, onde o lugar do negro é determinante, é que alimenta essa construção.

  1. Stuart Hall entende que as identidades nacionais não são coisas com as quais nascemos, mas são formadas e transformadas no interior das representações. Sabemos o que é ser brasileiro pela forma como a “brasilidade” foi representada pela cultura nacional. Dessa forma, uma nação não pode ser entendida somente como uma entidade política, mas algo que produz sentido num sistema de representação cultural. Não somos apenas cidadãos de um Estado, somos participantes de uma ideia de nação tal como representada na sua cultura nacional. As culturas nacionais são compostas por instituições culturais, símbolos e representações. A cultura nacional pode ser entendida como um discurso, uma maneira de construir sentidos que organizam a forma como agimos e também como entendemos a nós mesmos.

Um dos elementos que formam essa cultura nacional são as narrativas da nação, na forma como contada nas histórias e na literatura nacional, na mídia e na cultura popular. Elas fornecem imagens, histórias, eventos históricos, símbolos e rituais que simbolizam experiências compartilhadas que dão sentido a essa “comunidade imaginada” que é a nação. Não importa o quão diferente sejam seus membros, a cultura nacional busca unifica-los numa identidade nacional, para dessa forma representa-los como pertencentes a uma grande família nacional.

Em nações do “velho mundo” essa identidade nacional é construída através de uma volta ao um passado glorioso, um passado de glórias em guerras. Em nações mais novas como as da América Latina o vácuo deixado pela não existência de grandes guerras que possibilitem a criação de mitos de glória somada a ausência de uma imprensa forte capaz de difundir mitos de criação e elementos culturais possibilitou que o futebol ganhasse grande importância na formação das identidades nacionais.

Nas primeiras décadas do século XX a América Latina até então agrária começa a se industrializar e urbanizar, trazendo consigo o surgimento de debates indenitários. Isso coincide com a ascensão do futebol, único elemento que naquele momento unia classes trabalhadoras, a nova classe média que estava surgindo e a elite.

Especificamente no Brasil, a popularização do futebol acontece devido as conquistas do movimento trabalhista, principalmente a redução da jornada de trabalho, fazendo com que os trabalhadores tenham tempo livre possibilitando o lazer. E como a prática do futebol não exigia muitos equipamentos somente uma bola ele se populariza.

O futebol enquanto um significante privilegiado, onde a significação é tão grande que não admite ausência de significado. Dessa forma é uma característica inerente do futebol a transformação de seus eventos em eventos narrativos onde o significado nunca está dado. O processo significativo do jogo é construído num campo de debates onde ideias diversas se enfrentam. DaMatta (1982, p. 27), por exemplo, aponta que no Brasil conversas sobre futebol são chamadas de discussões. É exatamente essa característica, inerente do futebol, onde as incertezas do jogo oferecem uma oportunidade de diferentes interpretações. Essa “discutibilidade” (Bromberger) que o futebol tem como uma de suas características básicas. No embate entre discursos várias dimensões de identidade são construídas e reconstruídas. Hobsbawn coloca os esportes como uma espécie de “reduto” do nacionalismo moderno, principalmente na possibilidade de reificação da nação em um time, diminuindo o caminho para o processo de identificação.

  1. O esporte sempre foi usado pela política principalmente para a construção de um consenso interno e para a projeção de uma imagem internacional. Mas a intensificação do uso político do esporte só acontece a partir da década de 1930 com a ascensão de regimes totalitários ao poder.

Mussolini desde que chega ao poder em 1922 se aproveita de toda a força que os espetáculos esportivos poderiam representar nas massas, conferindo ritualização da fidelidade nacional e da legitimação da ordem. De acordo com Gilberto Agostino isso acontecia porque a questão física era fundamental para a consolidação de uma ideologia guerreira, algo de suma importância para regimes totalitários. Inclusive organizações governamentais financiavam a construção de uma série de instalações favoráveis à pratica de esportes. O Duce dava maior importância para esportes como boxe, ginastica e esgrima. O futebol demora a ser visto como um esporte condizente com o regime, mas também sentiu a ingerência do Estado, um dos acontecimentos mais importantes foi a outorga, em 1926, de um novo estatuto para o futebol. Foi a grande repercussão da Copa do Mundo do Uruguai que levou o governo italiano a se interessar por sediar uma Copa do Mundo, o governo fascista, sempre atento a qualquer possibilidade de mobilização nacional, percebeu a dimensão que o futebol poderia alcançar numa estrutura de poder que valorizava a força e o combate. Assim a copa de 1934 aconteceu na Itália, ali diante de um enorme esquema de propaganda, todos os jogos da Azurra eram representados como uma guerra, onde a presença dos emblemas nacionais e do próprio Duce tinham uma posição de destaque. Sob suspeitas de favorecimento do juiz a Itália se sagra campeã naquele ano e Mussolini faz questão de entregar o troféu. A vitória é entendida como o reflexo de uma nação forte e pronta para enfrentar seus inimigos.  

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