ENSAIO SOBRE TEORIA FEMINISTA E PÓS-COLONIALISTA
Por: micaela_lima • 14/6/2020 • Trabalho acadêmico • 1.913 Palavras (8 Páginas) • 360 Visualizações
PUC Goiás – Escola de Direito e Relações Internacionais – Curso de RI
Teorias das Relações Internacionais III – Prof. Danillo Alarcon
Atividade avaliativa N2
Discente: Micaela Santiago Lima
Abordagem feminista e pós-colonial
A concepção de “Soberania” nas diferentes perspectivas do 4º debate teórico das RI
Desde sua origem, no começo do século XX, a disciplina de Relações Internacionais passou por uma série de debates tanto sobre seus temas chaves, quanto acerca das metodologias apropriadas para suas investigações (TICKNER, 1997). No decorrer do desenvolvimento das relações internacionais como campo de estudos surgiram diversos debates pragmáticos, os quais visavam captar as lacunas e serem variações das teorias que acabavam não considerando como relevantes ao estudo a área para além das teorias clássicas e já consagradas. Neste trabalho, será discutido a concepção de soberania dentro do quarto debate teórico das relações internacionais, que discorre sobre as abordagens feminista e pós-colonialista.
O “Orientalismo” de Edward Said é a obra por muitos considerada como inauguradora da corrente teórica pós-colonial. De uma forma geral, a corrente teórica pós-colonial possui fundamentos em comum em todas as áreas do conhecimento onde é explorada. No entanto, sua abordagem nas Relações Internacionais tem resultados específicos, como a proposta de descolonizar as relações internacionais, tanto como disciplina e campo de conhecimento quanto no que diz respeito às relações globais. Essa proposta, no entanto, só pode ser realizada a partir de uma crítica ao eurocentrismo e imperialismo, o que demanda uma “viragem epistemológica”, ou seja: uma nova epistemologia a partir do Sul e para o Sul. Em sua obra publicada em 1978, Said explicita as relações de dominação através do saber-poder que sempre estiveram presentes nas relações entre o ocidente e o oriente. Ele, sendo um palestino radicado nos Estados Unidos, descreve minuciosamente a experiência europeia no oriente e a criação do que ele vai chamar de “Orientalismo – a invenção do Oriente pelo Ocidente”.
Os franceses e os britânicos, que foram os maiores possuidores de colônias ao redor do mundo, tiveram uma longa tradição que Said chama de orientalismo. Esse termo, para o autor, possuí uma série de significados. Um dos significados que Said apresenta refere-se a um modo específico de abordar o oriente, que tem como fundamento o lugar especial que este ocupa na experiência ocidental europeia; isso porque o oriente aparece como “adjacente” à Europa, seu rival cultural e uma de suas imagens mais profundas e mais recorrentes do Outro. Essa mesma oposição ajudou a definir a Europa como uma imagem, ideia, personalidade, experiências contrastantes ao oriente. O orientalismo expressa e representa essa oposição em termos culturais e ideológicos numa forma de discurso baseado em instituições, vocabulário, erudição, imagens, doutrinas, burocracias, e estilos coloniais europeus que foram impostos às colônias (SAID, 2007).
Apesar de ser uma teoria extremamente recente, o pós-colonialismo tem sido bastante utilizado, no que tange as Relações Internacionais, tem se tornado uma análise muito recorrentemente. Após o início da multilateralização do sistema internacional, outros movimentos e relações ganharam projeção. O estudo das relações sul-sul tem sido prova dessa virada de agenda de estudos internacionais, em que Universidades de países antes denominados coloniais iniciaram o aprofundamento em seus estudos nos mais diversos temas. “A crítica pós-colonial ficou famosa tanto por seu objeto de pesquisa, quanto por aquilo a que indiretamente se opunha: os discursos nacionalistas anticoloniais e racialistas, dominantes da primeira metade do século XX” (HALL, 2011).
Para melhor compreensão do que a teoria pós-colonial aborda, faz-se necessário antes que se saiba e se tenha um entendimento a respeito do significado do termo “pós-colonial” as razões que o fortaleceram, ou segundo Hall, “as razões que o fizeram portador de tantos e tão poderosos investimentos inconscientes” o que representa um signo de desejo para alguns e para outros sinal de perigo (HALL, 2011). Onde está a origem do atual entusiasmo pelo termo Pós-colonial? Segundo Shohat, esse entusiasmo tem a sua origem na crise das formas de pensar o terceiro mundo. É esta crise nas formas de pensar o terceiro mundo que ajuda a explicar o atual entusiasmo pelo termo “pós-colonial”, que é uma nova designação para o discurso crítico que tematiza assuntos que surgiram das relações coloniais e depois cobrindo um longo período histórico, incluindo o presente (SHOHAT, 1992).
Na obra “Regimes of Soverignty: International Morality and the African Condition”, o autor Grovogui (2002) apresenta questões relacionadas aos regimes de soberania, e afirma que jamais houve um regime único de soberania, e menos ainda que fosse aplicável a todo o sistema internacional. Dessa forma, o status soberano concebido pelas potências ocidentais às entidades estruturadas de acordo com o pós-colonialismo, eram apenas um aspecto que demonstrava a não interferência nos assuntos domésticos dessas entidades, mas que não tinha o objetivo de capacitar os indivíduos. Em ordem que um Estado seja reconhecido como soberano, é preciso haver dois requisitos básicos, povo e território.
O advento da teoria feminista nas relações internacionais acontece na década de oitenta, no contexto do terceiro debate, quando Robert Keohane publica o ensaio “International Relations Theory: Contributions of a Feminist Standpoint”, em 1989. Utilizando a teoria feminista como seu próprio objeto de análise, Keohane convida mulheres teóricas para contribuir em uma conversa emergente e deixa suas impressões preliminares acerca dessa contribuição. Para embasar seu argumento, Keohane adota a tipologia de Harding (1986) a qual aponta para três tipos de feminismo: o standpoint (também conhecido como feminismo de ponto de vista), o empiricista e o pós-moderno.
Segundo Keohane (1989), o feminismo empiricista compreenderia que os Estados e o sistema interestatal são fundamentalmente estruturas gendradas (serve para designar algo marcado por especificidades de gênero) de dominação e interação. Partindo de visão do feminismo standpoint, o qual argumenta que a experiência das mulheres marginalizadas da vida política provê perspectivas em questões sociais, garantindo compreensões válidas sobre a política internacional, leva Keohane a considerar que esta vertente feminista proporciona um ponto de partida promissor para o desenvolvimento de uma teoria feminista de relações internacionais.
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