O Trabalho Voluntário Na Copa Do Mundo

A FIFA divulgou na semana passada que 130 mil brasileiros se inscreveram para trabalhar como voluntários na Copa do Mundo de 2014. O número de pessoas dispostas a trabalhar de graça no mundial do Brasil supera e muito o da Copa passada na África do Sul, onde 70 mil pessoas se inscreveram.

Um dado, porém, é gritante nesta história toda. A entidade que precisa do trabalho voluntário para organizar uma Copa do Mundo é a mesma que faturou R$ 310 milhões em 2010 com o evento na África do Sul. No ano passado, esta mesma entidade fechou com superávit de R$ 2,4 bilhões, uma elevação de R$ 68 milhões quando comparado com o ano passado. Diante dos números a conclusão é simples: a FIFA não precisa de trabalho voluntário. Ela pode pagar. Deveria pagar.

Se a organização da Copa do Mundo do Brasil tivesse o mínimo de seriedade, não permitiria este absurdo. No mundial brasileiro estão sendo investidos R$ 25 bilhões. Parte desta grana vem dos cofres públicos, mesmo que você não queira. Isto, para a FIFA pousar por aqui, organizar um evento de um mês, e voltar para a sua sede na Suíça com o bolso bufando de DINHEIRO.

Quando cito seriedade, não coloco em cheque a capacidade do Brasil em organizar uma Copa do Mundo. Mas sim de permitir que uma entidade que lucra bilhões por ano, explore descaradamente os brasileiros, usando como pano de fundo um pseudo sentimento de patriotismo. Não há contrapartida social nisto. Por mais que tentem convencer.

Muito mais nobre seria utilizar mão de obra de quem realmente precisa. Esquentar a carteira de trabalho de quem nunca teve um emprego. Gerar experiência de trabalho e de vida para estas pessoas. Remunera-las decentemente. Assim, a Copa do Mundo deixaria o legado que tanto falam também na área social.

É constrangedor imaginar que não se faça nada diante de um fato bizarro. E um argumento tão inocente. O discurso conveniente do espírito da Copa do Mundo. Este espírito que move 130 mil pessoas a se inscreverem como voluntários para trabalhar de graça na Copa do Mundo. É o mesmo que faz com que a FIFA lucre cifras imaginárias a cada quatro anos. Sem demonstrar o mínimo de constrangimento diante de suas “estratégias comerciais”.