Resenha de Leitura: Vinte anos de Crise – 1919-1939, de Edward Carr
Por: Bruno Santos • 5/6/2018 • Resenha • 1.706 Palavras (7 Páginas) • 548 Visualizações
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DISCENTES: Bruno Henrique Santos (vespertino) RA: 151222878
Thiago teixeira Bobo (vespertino) RA: 161224547
Caio Salviano Turato (noturno) RA: 171220242
DOCENTE: Prof. Matías Daniel Avelino Ferreyra Wachholtz
DISCIPLINA: Teoria das Relações Internacionais I
CURSO: Relações Internacionais, 2º ano
Resumo de Leitura: Vinte anos de Crise – 1919-1939, de Edward Carr
Sobre o Autor
Edward Carr foi um historiador, diplomata, jornalista e importante teórico das Relações Internacionais inglês, responsável por criar a didática realista-utópica e tido como fundador da vertente realista clássica na disciplina, durante o período do entreguerras.
Vinte anos de Crise
Nessa primeira parte da obra em questão, Carr propõe como problema delinear as diferenças entre o utópico e o realista, e sublinhar a caracterização do pensamento realista na ciência política.
Ele se inicia por destacar o quanto a ciência política internacional, como chamada à época, consistia numa ciência recente, cujo crescimento se deu amplamente como consequência da Grande Guerra, essa que foi responsável pela mudança da opinião popular da guerra como um “negócio de soldados”(p.4), e a política internacional como “negócio de diplomatas”(id.), para um estado de maior preocupação com a popularização da política internacional. Assim, ele evidencia o surgimento de novas ciências enquanto resultados de demandas populares, como ele coloca na página 5 que “é o objetivo de dar saúde que cria a ciência médica, e o objetivo de construir pontes que cria a ciência da engenharia. O desejo de curar as doenças do corpo político deu impulso e inspiração à ciência política.”, ou seja, conscientemente ou não, há um objetivo por trás de toda busca de conhecimento.
Porém, o que diferencia as humanidades das ciências exatas é o fato de que as aspirações e convicções do cientista influenciam sua percepção dos fatos, bem como a relação do povo a eles. Em suas palavras:
Um revisor literário poderia, concebivelmente, criticar este livro em termos, não de que seja falso, mas de que seja inoportuno; e esta crítica, justificada ou não, seria compreensível, enquanto que a mesma crítica a um livro sobre
as causas do câncer seria sem sentido. Todo julgamento político ajuda
a modificar os fatos a que se refere. (CARR, 1939, p. 7)
Carr então passa a destacar a importância da utopia, já que o objetivo condiciona o pensamento, e logo uma ciência recente tende a encontrar-se inundada de idealismos. Para exemplificar isso ele recorre às sociedades dos séculos XIV e XV, em que as trocas econômicas eram feitas em ouro, o que proporcionou o surgimento da alquimia em busca da transmutação do chumbo em ouro, sem se atentar se as propriedades do chumbo permitiam que isso fosse possível. Desde as antiguidades Grega e Chinesa já havia a tentativa de criação de uma ciência política, porém, assim como os alquimistas, estes pensadores recorriam ao imaginativo e negavam os fatos de forma absoluta.
Trazendo para séculos mais recentes, o autor destaca como o comércio na Europa ocidental do século XVIII e suas restrições impostas pelo governo motivaram fisiocratas franceses e o britânico Adam Smith à idealização de um desejado comércio livre e universal, levando ao nascimento da Economia Política, bem como a Revolução Industrial no século XIX trouxe novos problemas sociais para o pensamento europeu, levando teóricos como Saint-Simon, Fourier e Robert Owen a conceberem o que foi posteriormente chamado de “Socialismo Utópico”. Mesmo que não vivamos numa república de Platão, ou um comércio universal de Adam Smith, ou numa comunidade cooperativa de Fourier, podemos perfeitamente venerar esses autores como os pais fundadores de suas respectivas ciências, pois esse estado inicial de aspiração é fundamental ao pensamento humano.
Daí a necessidade trazida pelo autor de se chegar a um paradigma realista em uma ciência, uma vez que todo saber tem esse estágio de desprendimento do desejo e análise impiedosa dos fatos. A esse respeito, o autor postula:
O impacto do raciocínio sobre o desejo, que, no desenvolvimento de uma ciência, segue- se ao colapso de seus primeiros projetos visionários, e marca o fim de seu período especificamente utópico, é normalmente chamado de realismo. Representando uma reação contra os sonhos volitivos do estágio inicial, o realismo está sujeito a assumir um aspecto crítico e, de certo modo, cínico. No campo do pensamento, coloca sua ênfase na aceitação dos fatos e na análise de suas causas e conseqüências. Tende a depreciar o papel do objetivo, e a sustentar, explícita ou implicitamente, que a função do pensamento é estudar a seqüência dos eventos que ele não tem o poder de influenciar ou alterar. No campo da ação, o realismo tende a enfatizar o poder irresistível das forças existentes e o caráter inevitável das tendências existentes, e a insistir em que a mais alta sabedoria reside em aceitar essas forças e tendências, e adaptar-se a elas. Tal atitude, embora defendida em nome do pensamento "objetivo", pode facilmente ser levada a um extremo em que resulte a esterilização do pensamento e a negação da ação. Mas há um estágio em que o realismo é o corretivo necessário da exuberância da utopia, assim como em outros períodos a utopia foi invocada para contra-atacar a esterilidade do realismo. (p. 14)
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