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Resenha: 20 anos de Crise, de Edward Carr

Por:   •  29/9/2016  •  Resenha  •  1.509 Palavras (7 Páginas)  •  4.710 Visualizações

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Resenha: 20 anos de crise, de Edward Carr

O britânico Edward Hallett Carr (1892 – 1982) foi um jornalista, historiador e teórico das relações internacionais, e posteriormente classificado como realista. Foi também professor das universidades de Oxford e Cambridge, além de ter seguido carreira diplomática no British Foreign and Commonwealth Office, cargo que conferia a ele o conhecimento necessário e competência para escrever sobre o assunto com grande autoridade e eficiência.

        Foi um grande estudioso e produtor de trabalhos sobre a União Soviética e se mostrava favorável para a história da URSS no período de 1917 e 1929. Dentre muitos de seus livros, se destaca 20 anos de crise, publicado pela primeira vez em 1939, obra que enfatiza uma boa análise e explicação da vulnerabilidade do período entre guerras, além de fazer uma forte crítica ao liberalismo nas relações internacionais.

        A obra é dividida em cinco partes, subdivididas em capítulos: “A Ciência da Política Internacional”, que contém dois capítulos; “A Crise Internacional”, que possui quatro capítulos; “Política, Poder e Moral”, que contém três capítulos; “Direito e Mudança”, que possui, como a parte II, quatro capítulos; e finalmente. a conclusão do livro contem apenas um capítulo: “As perspectivas de uma nova ordem internaciona”. Nesta resenha apenas as partes I e II do livro serão discutidas.

        No primeiro capítulo, “O Começo de uma ciência”, Carr discute o nascimento da disciplina de política internacional como uma ciência. Começa pelo contexto histórico pós Primeira Guerra Mundial e como a população dos países envolvidos estava reagindo a maneira que seus governos comandavam os rumos da política internacional. Carr argumenta que a ciência política nasceu com o objetivo de elaborar e realizar projetos fantasistas que são teoricamente infalíveis, mas quando eles falham, os autores precisam encontrar uma saída de toda esta utopia, esta foi a abertura para a corrente realista crescer. Essas teorias estavam apenas preocupadas em atingir seu objetivo final, sem levar em conta o trajeto que seria necessário para chegar lá. Como, por exemplo, quando o presidente dos Estados Unidos durante a  Primeira Guerra Mundial, Woodrow Wilson, de tradição liberal, viajou para a França com o objetivo de assinar o Tratado de Versalhes levando seus 14 pontos, quando foi interrogado se ele realmente pensava que eles iriam obter êxito respondeu que de qualquer maneira eles deveriam funcionar, isso ilustra claramente nesta fala o pensamento liberal: sem um plano de curso delimitado, mas um objetivo final bem estabelecido.  De qualquer forma, os autores que criaram tais teorias idealistas não podem ter sua relevância diminuida, Adam Smith como criador da economia política ao apresentar o livre-mercado, Charles Fourier e Robert Owen como fundadores do socialismo ao propor as comunidades utópicas e, finalmente, Platão e Confúcio como os precursores da própria ciência política.

        Já no segundo capítulo, Utopia e Realidade, Carr faz uma relação muito bem pensada entre os utópicos com os intelectuais e os realistas com os burocratas: O radical é necessariamente utópico, e o conservador realista. O intelectual [...] gravitará para a esquerda tão naturalmente, quanto o burocrata [...] gravitará para a direita. Até hoje a direita é fraca em termos de teoria, e sofre por sua inacessibilidade de idéias. A fraqueza característica da esquerda é o fracasso em traduzir sua teoria na prática (pg 27). Ou seja, os intelectuais, ou utópicos, são os que têm o trabalho carregado de teoria e fraco em prática. São os da ala da esquerda. Já os realistas, ou burocratas, são fracos em teoria, mas sua práxis é bem avançada. Os burocratas são aqueles que tendem para a direita. Porém, ao avançar mais no segundo capítulo, Carr faz um contraponto ao seu pensamento anterior quando escreve que a superioridade intelectual da esquerda é posta frequentemente em dúvida. A esquerda sozinha cria princípios de ação política e desenvolve ideais para o estadista buscar atingir. Mas é desprovida de experiência pratica que surge do contato próximo com a realidade (pg 28). O contraponto está no fato que, anteriormente, Carr diz que a esquerda é forte em teorias, mas fraca em prática e aqui se contraria ao questionar a superioridade intelectual da esquerda, quando na verdade, o questionamento é na capacidade de colocar suas idéias em prática e não na sua capacidade intelectual, que é o que Edward Carr diz neste último trecho.

 Carr mais uma vez critica a esquerda pela falta de empirismo em suas teorias, porém um pouco antes em seu texto não parece tratar o problema com tal grandeza. Seguindo mais um pouco no texto, o autor afirma que ao chegar ao poder, a esquerda abandona seus ideais básicos e começa a tender para a direita mantendo a fachada de governo de esquerda aumentando a confusão da terminologia política. Infelizmente, isso é algo que tende a ser verdade, nos dias atuais, como no Brasil em que a esquerda ao assumir o poder executivo fez alianças com bancos e a burguesia.

        Ao entrar na segunda parte do livro, no capítulo III, O Pano de Fundo Utópico, percebemos a crítica ferrenha que Edward Carr faz àqueles que acreditam que a opinião pública deve ser ouvida sem ressalvas, o que para os mais desavisados, pode parecer que ele era contra a democracia por utilizar-se de termos como “tirania da maioria”, mas na realidade se referia mais a opinião pública internacional do que a própria opinião pública nacional. Argumenta dizendo que, por vezes, a opinião pública é ainda mais cruel que os próprios estadistas que frequentemente tentam fazer concessões. Carr se questiona a respeito da crença da opinião pública estar sempre certa, quando na verdade, segundo ele “em assuntos internacionais, a opinião pública estava quase sempre tão errada quanto impotente” (pg 52). O autor diz, muito coerentemente com seu pensamento geral, que a teoria utópica tem como base a lei natural de que a justiça é regida pela opinião publica e que a verdade irá triunfar. Para ilustrar não tão brevemente este argumento, Carr usa de exemplo a Crise da Manchúria, quando em 1931, para impedir a expansão da influencia do governo nacionalista chinês, liderado por um ditador, os dirigentes militares japoneses adotaram uma forte política na China. Um incidente serviu de deixa para o inicio das agressões japonesas. A China pediu ajuda a falida Liga das Nações, mas nada efetivamente foi feito, assim, a crença popular, a opinião pública a respeito das instituições liberais foi caindo, desta forma Edward Carr consegue exemplificar dois argumentos de uma vez: a ineficácia das instituições liberais e o equívoco da opinião pública.

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