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Resenha Hannah Arendt - Crise na Educação

Por:   •  29/6/2019  •  Resenha  •  2.347 Palavras (10 Páginas)  •  840 Visualizações

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Universidade Estadual de Campinas

Prof. José Alves de Freitas Neto – Introdução ao Estudo de História

Julia Santos Souza             RA: 238337

Campinas, SP – 2019

ARENDT, Hannah. A Crise na Educação. in: Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2016.

O século XX foi um momento de grande fervor da chamada filosofia política, por conta de todos os fatores que aconteciam na Europa. Hannah Arendt foi uma das poucas mulheres a terem voz nesse movimento, apesar de se afastar da ideia de ser uma filósofa; ela preferia que seus trabalhos fossem classificados somente como “teorias políticas”.

Nascida em 1906, dentro do império alemão, no que hoje pode ser chamado da cidade de Hannover, veio de uma família de judeus originários da Prússia. Começa seus estudos na Universidade de Marburg, tendo aulas de filosofia e de teologia protestante, indo depois para Universidade Albert Ludwig em Freiburg, e terminando, em 1929, em Berlin com uma bolsa de estudos.

Neste momento Hannah começa a analisar as questões políticas relacionadas aos judeus, frente ao antissemitismo que crescia na Europa, e fazia parte da resistência antinazista. Com a ascensão de Hitler ao poder em 1933, Arendt foi proibida de continuar suas pesquisas por conta da sua descendência judia. Ela é presa pela Gestapo durante oito dias e, após ser liberta, decide deixar a Alemanha, perdendo sua nacionalidade alemã no ano de 1937, se tornando apátrida até o ano de 1951, quando consegue cidadania estado-unidense.

É nos Estados Unidos que ela escreve suas principais obras, que são a “Origem do Totalitarismo” em 1951 e “Eichmann em Jerusalém” no ano de 1963. No primeiro livro ela tenta analisar de que modo surgiu na Europa o que iria levar ao terror do holocausto, e no segundo ela cria a ideia de “banalidade do mal” a partir do julgamento de Eichmann, um oficial nazista.

O livro que tratamos aqui, “Entre o passado e o futuro”, foi escrito entre essas duas obras, no ano de 1961. Entretanto, o capítulo em questão, que é “A Crise na Educação”, foi publicado anteriormente, no ano de 1957, na Partisan Review. Este ensaio é dividido em quatro partes, onde a autora trabalha os aspectos da crise da modernidade que nos levou a uma crise no sistema educacional.

Na primeira parte desse texto, Arendt define o que para ela caracteriza essa crise e quais fatores levaram a ela. Ela trabalha a ideia de que essa crise na educação faz parte da chamada “crise da modernidade”, que se manifesta de formas diferentes em cada país.  O enfoque é dado a América, termo que ela usa para se referir aos Estados Unidos, porque, de acordo com a autora, este é o único país onde essa crise da educação se transformou em um problema político.

A primeira palavra chave utilizada no texto é natalidade, porque o fato de sempre estar chegando seres novos no mundo é a essência do problema da educação. Logo em seguida ela diz que o motivo pelo qual essa crise só atinge essas proporções na América é decorrente do fato de que essa é e sempre foi uma terra de imigrantes, ou seja, uma terra que constantemente está recebendo gente nova. O papel da educação nada mais é do que inserir nessas pessoas novas, pelo nascimento ou pela imigração, uma ideia de pertencimento ao mundo. No caso dos imigrantes, esse pertencimento é instaurado a partir do aprendizado do inglês, que não é a língua natal de nenhum deles, já que a língua que você fala é parte de quem você é. Como disse Fernando Pessoa em seu “Livro do Desassossego” (1982), “Minha pátria é a língua portuguesa”.

Em um segundo momento é colocado a teoria de que é a partir dos recém-chegados que iremos construir o futuro do mundo, e para que isso aconteça devemos educá-los para tal. Com isso ela fala que educação e política são conceitos que não devem se misturar, porque na política sempre tratamos de pessoas que já foram educadas, os adultos, e eles não podem ser reeducados, então o uso da educação na política toma um sentido de coerção sem uso da força.

Nesse aspecto, a América representa o mundo novo, frente a um mundo velho que não pode encontrar as soluções necessárias para os problemas “da pobreza e da opressão” (2 §, p. 4), que são aspectos que precisam ser vencidos para atingir o progresso. A educação, assim como todos os aspectos da sociedade de massa, foi reformulada a partir dessa bandeira de progresso.

Ela continua trabalhando as razões pela qual a América sofre essa tão aguda crise educacional até o final da primeira parte, resgatando o ideal de igualdade, que é um conceito muito precioso para a sociedade norte-americana. A igualdade americana vai além da igualdade perante as leis, buscando “por igualar ou apagar tanto quanto possível a diferença entre novos e velho” (4 §, p. 5), e esse temperamento político é perigoso para a autoridade do aprender.

Entrando na segunda parte, Arendt se utiliza de três ideias-base para explicar essa crise, que foi definida na parte anterior. A primeira ideia é a de que existe um mundo da criança e uma sociedade formada por essas crianças, e por conta disso essas crianças são banidas do mundo dos adultos, sendo forçadas a viver dentro da tirania que é exercida pelo seu próprio grupo. Para a autora, a educação consiste em preparar as crianças para o mundo dos adultos, então banir ela do mesmo causa uma ruptura nas relações entre adultos e crianças, que hoje estão “quebradas” (1 §, p. 6)

A segunda ideia tem a ver diretamente com o ensino, já que a pedagogia atualmente se tornou uma ciência desligada da matéria do ensinar (4§, p. 6). Isso tem como base o fato de que o professor recebe uma formação em ensino, não na matéria em particular, e isso faz com que ele perca sua autoridade primordial como professor, que é o próprio saber. Isso deixa as crianças abandonadas a seus próprios meios e faz com que o professor que “abstém-se da sua autoridade deixe de poder existir” (4 §, p. 6).

Já a terceira ideia é baseada em uma teoria moderna de aprendizagem, que consiste na ideia de substituir o aprender pelo fazer e do trabalho pelo jogar. Essa ideia é baseada em conceitos do pragmatismo, de que só aprendemos coisas nas quais fazemos por nós mesmos (1 §, p. 7). A infância nada mais é que um período transitório e a escola é a responsável por conduzir a criança nessa transição para o mundo adulto, mas quando essa teoria é aplicada nas escolas, é retirado das crianças a autonomia em detrimento de mantê-las inseridas nesse mundo da infância, o que irá causas prejuízos no desenvolvimento da mesma.

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