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A História Social das Religiões

Por:   •  29/4/2017  •  Trabalho acadêmico  •  2.079 Palavras (9 Páginas)  •  317 Visualizações

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História Social das Religiões

O Mesolítico e o Neolítico.

As condições do clima e paisagem

        O fator determinante da cultura do mesolítico e do neolítico foi a mudança social provocada pela atividade da agricultura. Com o fim da época glaciária, por volta de ῀ 8.000, houve uma mudança significativa na flora e na fauna nas regiões setentrionais da Europa. As estepes deram lugar às florestas e as sociedades de caçadores acompanharam a migração da fauna (principalmente as manadas de renas) instalando-se nas margens dos rios e nos litorais. Essa nova realidade estruturou uma nova sociedade cujas bases foram a domesticação dos primeiros animais e os primórdios da agricultura. [1]

        Nessa época ainda havia resquícios de práticas religiosas do paleolítico – as oferendas de primícias ao senhor das feras –, como atestam os achados de renas com pedras na caixa torácica e no ventre, junto à numerosos objetos como flechas de madeira, ferramentas de osso, machados talhados em galhadas de renas (camada mesolítica da lagoa de Stellmoor, perto de Hamburgo). Prática que foi atestada em toda a Idade do Bronze e do Ferro em lagos da Europa Ocidental.

        Outras representações simbólicas de práticas religiosas no mesolítico foram atestadas na floresta de Compiègne, na fonte de Saint-Sauveur. Nesse sítio foram descobertos objetos de sílex do tempo dos gauleses, é interessante notar que essa prática se manteve nesses mesmos lugares sagrados, mesmo na Roma imperial com as proibições da Igreja. Isso “ilustra admiravelmente a continuidade (...) de certas práticas religiosas.” (ELIADE, 2010, p. 42).

O “levante espanhol” e o paraíso perdido.

        Nesse período se deu, também, uma substancial mudança nos ‘documentos’ simbólicos produzidos pelo homem – a pintura rupestre dá lugar a uma arte geométrica rígida e formalista de figuras antropomorfas e teriomorfas (principalmente cervos e cabritos-monteses), além de sinais (tiras onduladas, círculos, pontos, sóis), encontrada em Sierra Morena, nas paredes e em seixos.

        Além de ter relação com o paleolítico, pela proximidade com representações do aziliano (sociedade da região dos Pirineus franceses, no sítio da gruta Mas d’Azil) atestados por Hugo Hobermaier, essas descobertas representam um movimento do intelecto para uma maior abstração, causa, sobretudo, de uma nova linguagem (uma espécie de escrita) de sinais mágicos (principalmente símbolos fálicos). O que reitera a relação do desenvolvimento social com o fenômeno religioso.

        Foram achados na gruta de Birsek, na Suíça, 133 seixos pintados e quebrados, o que indica que tenham sido partidos por inimigos ou novos habitantes da caverna, na tentativa de eliminar a força-mágico religiosa presente nos objetos, (ELIADE, 2010).

        Esses objetos rituais de pedra, como sóis, figuras antropomorfas e sinais geométricos, são identificados, pelo paralelo etnográfico, com uma espécie de corpo místico dos antepassados (como se observa até hoje entre tribos australianas ou várias tribos sul-americanas onde se acredita na metamorfose dos antepassados com elementos celestes). Esses antepassados eram relacionados a uma espécie de paraíso dos caçadores aonde se julgava que os antepassados viviam, “onde a caça era farta e as noções de bem e mal eram praticamente desconhecidas” (ELIADE, 2010, p. 44).

        Em relação ao homem paleolítico, os achados arqueológicos documentais do mesolítico indicam uma continuidade da crença em senhores das feras e seres sobrenaturais. Mesmo que o paleolítico não apresente provas concretas de crenças em espíritos ancestrais ou corpo místico dos antepassados, se deve supor que eles a tinham, tendo em vista que se observa identidade destas com as práticas religiosas das civilizações de caçadores do paleolítico – as mitologias das origens (do mundo, do animal caçado, do homem, da morte).

A herança do paleolítico.

        O mesolítico, como o nome sugere, é uma transição de uma sociedade de caçadores (baseada na caça e na coleta) para uma sociedade baseada na cultura de cereais. O mesolítico se característica da quebra de unidade cultural das populações neolíticas o que desencadeia as divergências entre variadas sociedades, marca essencial do desenvolvimento das civilizações.

        Ainda que a caça subsista na sociedade agrícola, vai perdendo gradativamente sua importância como atividade econômica, entretanto, grande parte da simbologia ritual, mágico-religiosa, que envolve a atividade de caça perpassa a lógica-cultural que a sucede: defensores de aldeias (dos animais selvagens e depois de saqueadores), guerreiros, conquistadores, aristocracias-militares e organizações militares em geral.

        Mesmo os sacrifícios cruentos que se observa tanto no pastoreio como entre os agricultores guardam semelhança com a atividade de “abater a presa” própria dos caçadores.

“Vários milênios depois do triunfo da economia agrícola, a Weltanschauung do caçador primitivo se fará de novo sentir na história. Com efeito, as invasões e as conquistas dos indo-europeus e dos turco-mongóis serão empreendidas pela égide do caçador por excelência, o animal carnívoro. Os membros das confrarias militares (Männerbünde) indo-europeias e os cavaleiros nômades da Ásia central comportavam-se em relação às populações sedentárias que eles atacavam como carnívoros que caçam, estrangulam devoram os herbívoros da estepe ou o gado dos criadores. Numerosas tribos indo-europeias e turco-mongóis tinham epônimos de animais de rapina (em primeiro lugar o lobo) e se consideravam descendentes de um ancestral mítico teriomorfo. As iniciações militares dos indo-europeus comportavam uma transformação ritual em lobo: o guerreiro exemplar assumia o comportamento de um carnívoro.” (ELIADE, 2010, p. 47).

As consequências do sedentarismo.

        A sociedade do mesolítico se apresenta como a primeira onde a atividade social se dá sob o aspecto do sedentarismo. (cultura natufiana, em referência a WadyenNatuf, na Palestina, onde essa população foi identificada pela primeira vez). Isso levou a um significativo crescimento populacional e pelo desenvolvimento do comércio.

        Ao invés da habitação em cavernas, característica do paleolítico, o homem natufiano tinha sua habitação em choupanas e alimentação baseada em cereais silvestres. Utilizavam na atividade do trabalho foices de pedra e pilões para a preparação dos grãos. Inventaram o arco, as cordas, redes, anzóis e embarcações para viagens longas e, sobretudo, a cerâmica.        Todas essas novas tecnologias “suscitaram mitologias, fabulações e comportamentos rituais.” (ELIADE, 2010, p. 45).

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