Carnavais, Malandros e Heróis, Para Uma Sociologia Do Dilema Brasileiro
Por: Yasmim Suellen • 24/8/2021 • Ensaio • 4.023 Palavras (17 Páginas) • 183 Visualizações
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNICURITIBA
DIREITO NOTURNO
TURMA 1º F
ALINE MANNES
JULIANA JOAQUIM THOMASI
LARISSA MATIOSKI BRASIL
Carnavais, malandros e heróis, Para Uma Sociologia Do Dilema Brasileiro
DaMatta, Roberto.
Trabalho apresentado para a disciplina
de direito e sociedade, com orientação
do professor Guilherme Bauer.
CURITIBA, 2010
O livro começa apresentando uma classificação dos eventos sociais de acordo com a sua ocorrência. São divididos em eventos cotidianos, e aquele fora do dia-a-dia (festas, bailes, reuniões etc.). Esses eventos do dia-a-dia acabam por reunir pessoas de grupos que ocupam o mesmo âmbito social. Já os eventos fora do dia a dia são feitos para a sociedade e pela sociedade estando enquadrados nas normas e regras sociais, sendo os denominados rituais. DaMatta ainda faz uma subdivisão dos eventos entre formais e informais.
Um exemplo utilizado para fazer analise desses tópicos são o carnaval (considerado como informal) e o dia da pátria (considerado formal). Quanto às vestimentas eles se diferenciam pelo significado do papel expresso por cada uma das duas. No caso do Carnaval, as fantasia representam, para Damatta, como a vontade interior do individuo e não carrega consigo o peso da sua função real. Já no caso do dia da pátria, as fardas representam uma hierarquia e o não uso delas não exclui a responsabilidade de sua função.
Quanto aos rituais, não são momentos aparte do cotidiano, e sim, modos de salientar aspectos do mundo diário. Há três tipos de realizar essa salientaçao: reforço (paradas militares), inversão (carnaval) e neutralização (igreja). Como diz o autor: “os rituais seriam, assim, instrumentos que permitem maior clareza as mensagens sociais.”
O capitulo II apresenta uma forma utilizada para transformar um simples objeto em um símbolo, isso se dá através do deslocamento, ou seja, quando deslocamos um objeto de seu lugar originário, este torna-se então um símbolo. Por exemplo: uma espada quando usada na guerra é apenas uma espada, mas quando pendurada em uma parede torna-se um símbolo que caracteriza o dono do ambiente. Há então, duas formas de deslocamento: a peregrinação e a procissão. A primeira nos remete a idéia de busca por um fim, como uma cura, benção, salvação, etc. Faz também uma generalização do homem, considerando-os como todos filhos de Deus. Já a procissão, os fiéis não vão até o santo, e sim, o santo ao passar pelas ruas, vai até os fieis. Diluem-se assim as barreiras entre casa-rua (espaço de descanso, intimo, aonde de encontra paz- espaço de trabalho, publico,luta diária).
Faz-se então uma analise profunda sobre o carnaval, e todas as suas formas de apresentação: o carnaval de rua, os blocos, os clubes e as escolas de samba. O carnaval de rua é caracterizado por ser de bairro, familiar e aberto ao publico. Os chamados blocos são sólidos e estruturados, não tem a necessidade de causar impacto e reforçam a vizinhança. Já as escolas de samba, apresentam uma forte hierarquia, suas apresentações são sempre luxuosas e exaltam a imagem do nobre. No entanto, os clubes são sempre lugares privados, algumas vezes com venda de ingressos, tornando-o publico, mas só para aqueles que puderem pagar.
O autor faz uso do método comparativo para analisar o carnaval americano, mais especificamente o de Nova Orleans, com o carnaval brasileiro. O questionamento básico, feito com relação à esse estudo, seria se encontramos o mesmo fenômeno nesses dois tipo de carnavais, em sociedades completamente diferentes. O carnival americano é mais do que uma situação, e sim um lugar, onde sexo deixa de ser considerado pecado e a hierarquização do mundo e das pessoas faz parte da ideologia popular. A primeira distinção entre esses dois modelos a ser destacada seria o fato de o carnival ser localizado, enquanto o carnaval é generalizado. Enquanto no Brasil este período é caracterizado por liberdade e anonimato, em Nova Orleans é realizado como sendo exclusivo de uma única classe e sendo dividido em várias Krewes que servem de modelo para a ordem carnavalesca. É importante ressaltar que o carnival é diferenciado para brancos, negros de classe média e alta e por fim negros pobres. Já no Rio de Janeiro o carnaval se divide em duas categorias: os de rua, formadas por blocos, e o de clubes, que são organizações de classe média à alta.
No momento do desfile, a escola de samba é assemelhada a Krewes de Nova Orleans, porém, nestas os ricos sempre permanecem juntos, enquanto naquelas há uma união de negros favelados, marginais ou suburbanos indicando uma alta capacidade de organização. Nelas os pretos e pobres são os “doutores” e os “professores” da ginga, da dança, da criatividade. São eles que manifestam essa superioridade da raça, e são considerados privilegiados por isso, como cita o próprio autor. O carnaval brasileiro pode ser considerado como inclusivo, aberto e “democrático” (grifos do autor), ao contrário do carnaval americano que é exclusivo, aristocratizante e discriminativo. O grande questionamento proposto pelo autor, e que acreditamos que melhor define o motivo pelo qual esses objetos estão sendo estudado, seria: “como é possível ter um carnaval aristocrático numa sociedade igualitária e ter- no caso brasileiro- precisamente o inverso, ou seja: um carnaval igualitário, numa sociedade hierarquizada e autoritária?”
Para fazer a comparação entre esses dois modelos, de modo que a pesquisa se tornasse válida, foi preciso associá-los aos seus devidos contextos, problemas e valores. No caso americano observa-se uma tentativa clara de recolocar um princípio de diferenciação em um meio social onde o “credo oficial o exclui legal e juridicamente”. Já no Rio, há uma inversão carnavalesca onde ficam suspensos temporariamente classificações exatas de pessoas, coisas, categorias, grupos, etc. O autor propõe então uma comparação entre os símbolos de ambos, no caso americano o Rex, símbolo da aristocracia, estando deslocado em tempo e espaço, o que o faz tornar-se símbolo. No Brasil, o símbolo do carnaval é o malandro, o qual afronta a idéia de que em nosso mundo burguês individualista somos sempre ordenados por eixos únicos, fazendo-nos acreditar em outras dimensões e eixos. Assim, encontra-se no mundo social brasileiro as chamadas equações compensatórias, por exemplo, ricos mas infeliz, burro mas belo, inteligente mas chato, etc. A inversão que ocorre no carnaval brasileiro é então, considerada oposta ao do americano, pois os marginais e inferiores (chamados de indivíduos), se transformando em pessoas e vice-versa. Entra então a necessidade de se explicar o motivo da diferenciação dos dois termos feita pelo autor, onde a concepção de “indivíduo” esta associada à idéia de alguém sem ninguém e sem posição social, no entanto, “pessoa” é um titular de direitos, um alguém no contexto social.
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