EXPERIÊNCIA RELIGIOSA: CRISTIANISMO E UMBANDA
Por: amauripsilva • 24/2/2018 • Trabalho acadêmico • 6.226 Palavras (25 Páginas) • 371 Visualizações
FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE SÃO PAULO
Amauri Pereira Alves
David Britto
EXPERIÊNCIA RELIGIOSA: CRISTIANISMO E UMBANDA
Trabalho apresentado como requisito da disciplina Psicologia da Religião da Faculdade de Teologia Batista de São Paulo
Professor: Dra. Patrícia Pazinato
SÃO PAULO
2017
INTRODUÇÃO
Neste trabalho verificaremos na bibliografia qual a definição de experiência religiosa no âmbito da psicologia, e quais as contribuições e diálogos estabelecidos entre a psicologia e religião. Um difícil diálogo, mas que encontra seu ponto de união na busca de sentido do ser humano. Trataremos de dois casos de experiência religiosa, um no contexto cristão evangélico e outro na umbanda observando os pontos comuns e os conflitos.
- EXPERIÊNCIA RELIGIOSA NA PSICOLOGIA
Nas diversas culturas, todo acontecimento, seja natural ou vital, é observado em um prisma sagrado. Nas religiões são apresentadas variedades de concretizações e mediações. Qualquer experiência é reveladora do divino para os seres humanos em busca da transcendência, essa sempre oculta dimensão da fé inatingível (VALE, 1998). A forma como as religiões tratam estas experiências, é cercada de mistérios e falta de clareza. Trata-se de um universo encantado que não pode ser compreendido pela razão. Alves (2009) nos diz que o ambiente religioso escapa a nossa capacidade de explicar, manipular ou prever.
Na psicologia da experiência religiosa este assunto é atingido por essa ambigüidade radical. Por meio de relatos de milagres, aparições, visões, experiências místicas, divinas e demoníacas, Alves (2009) nos diz que talvez a marca de todas as religiões, por mais longínquas que estejam uma das outras é o esforço para pensar a realidade toda a partir da exigência de que a vida faça sentido. Através de cada coisa e de cada evento se esconde e se revela um poder espiritual. E a linguagem religiosa habita no invisível (ALVES, 2009).
O sagrado se instaura ao poder do invisível. E é ao invisível que a linguagem religiosa se refere ao mencionar as profundezas da alma, as alturas do céu, o desespero do inferno, os fluidos e influencias que curam, o paraíso, as bem-aventuranças eternas e o próprio Deus. Quem, algum dia, viu qualquer uma dessas entidades? (ALVES, 2009, p.22.)
A experiência religiosa se apresenta como múltipla e carregada de contradições e polarizações, uma extraordinária poliformia, apresentando tensões constitutivas opostas, paradoxalmente podem até ser não religiosa. Esta complexidade exige um mínimo de acordo para se ter clareza do que se está dizendo ao se tratar de experiência religiosa.(VALLE, 1998)
Amatuzzi (1997) ressalta a importância da experiência religiosa na vida do indivíduo ressaltando que ela tem uma repercussão direta na vida da pessoa. Tal experiência transforma ou modifica a vida do sujeito, “A experiência religiosa abre a pessoa para um mundo inteiramente novo e diferente do cotidiano, do qual só é possível dar conta a partir de dentro dele mesmo” (AMATUZZI, 1997, p. 37).
A psicologia não decorre de conceituações de outras ciências, o estudo deontológico da duvida e a especulação racional decorrente de premissas de outras ciências como filosofia e teologia não é referencial para essa. Por ser uma ciência de observação, especialmente quando analisa fenômenos eminentemente subjetivos como os fenômenos de experiências religiosas “não cabe a psicologia um juízo de valor. Sua tarefa é esclarecer os fatores, estruturas e processos de natureza psicológica implicados.” (VALLE, 1998, p. 18) cabe ao psicólogo da religião estar permanentemente atento a como ele constrói sua teoria. Valle (1998) ressalta que, o estado da questão precisa estar bem claro para garantir a validade do método e da teoria, dentro dos limites e possibilidades que a ciência psicológica implica”. (VALLE, 1998, p.21) . Pereira diz que o fenômeno da experiência religiosa é objeto de reflexão e não pode ultrapassar disto sob pena de deixar de ser um fenômeno.
A fenomenologia da experiência religiosa é, então, e mais não pode ser, uma reflexão acerca do que está manifesto da experiência religiosa.A sua capacidade especulativa não pode, de modo algum, ultrapassar o que for objetivamente autorizado pelo dado objetivo do objeto em apreço. Se o fizer, deixará de ser uma fenomenologia, para passar a ser outra coisa qualquer (PEREIRA, 2008 p.9)
É necessário progredir com cautela, de modo a não adulterar a fenomenologia primeira constituinte de uma experiência, apenas acessível por meio do que dela se manifesta, ou seja, por meio dessa mesma fenomenologia.
- Definição de experiência no senso comum e na filosofia
Do ponto de vista etimológico, experiência, do grego “empeiria”, vem da matriz empírico e do empirismo. O conceito de experiência no senso comum e em ciências abrange um leque muito amplo e complexo. Na religião por exemplo Otto Maduro, especialista em religiões populares, associa experiência ao conhecimento. Segundo Valle, Maduro supõe algumas experiências qualitativas prévias a ele próprio. Essas experiências funcionam como mapas de orientação para entender, classificar e explicar como e por que a realidade é como é e funciona como funciona (VALLE, 1998).
O conceito de experiência na filosofia está presente nos filósofos gregos pré-socráticos. De acordo com Valle (1998), querendo entender as transformações da natureza, estes filósofos deixavam de lado o caráter religioso do mistério e apelavam para razão. Para ele, Platão postula entre o “mundo sensível”, o mundo da experiência, sem consistência própria, mais sombra e aparência do que realidade, enquanto que o “mundo inteligível” para ele é da razão ( Logos). “A experiência tem a função de fornecer a base pratica (“empírica”) necessária para a formulação das noções ou idéias, cuja a origem é outra, metafísica”(VALLE, 1998)
Sobre experiências, a posição dos filósofos modernos, mais abertos ao religioso,segundo Valle (1998) pode ser assim resumida:
O ser humano enquanto religioso mostra sentimentos, modos de compreensão e atitudes que não podem ser reduzidos a representações, pois a ultrapassam. A maneira de encarar e precisar esse “a mais” do religioso varia muito: para F Schleinder é o sentimento de dependência absoluta; para K. Barth e R. Bultmann é a confiança sem reserva apesar do sofrimento e do mal; para P. Tillich é a preocupação ultima. Já P. Ricoeur fala de sentimento de pertença a uma economia do dom, com sua lógica de superabundância, irredutível à lógica da equivalência; e R. Rosenzweig vê o religioso como sendo o sentimento de ser precedido na ordem da palavra, do amor e da existência. (VALLE, 1998, p.56)
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