A ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E ALIANÇA COM DEUS
Por: gilbertomaia • 11/8/2020 • Resenha • 1.110 Palavras (5 Páginas) • 202 Visualizações
Continuamos nossa reflexão sobre espiritualidade litúrgica, junto ao poço de Sicar (Jo 4,5-42). Pouco a pouco entramos na conversa de Jesus com a samaritana e, nessa santa intromissão, percebemos que também a liturgia é momento para conversar com Jesus, dele receber a água viva, o dom do Espírito Santo, que anima nossa vida espiritual tanto comunitária como pessoal.
ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E ALIANÇA COM DEUS
Num determinado momento da conversa, Jesus faz um pedido indiscreto à samaritana: “Vai chamar teu marido”. A mulher, diante de tudo o que ouvira de Jesus, não mente. Fala a verdade: “Não tenho marido”. Jesus concorda e, aproveitando aquela sincera resposta, entra mais intensamente na vida daquela mulher. “Você tem razão ao dizer que não tem marido. De fato, você teve cinco maridos. E o homem que você tem agora não é seu marido” (Jo 4,16-18).
Nossa reflexão, a esta altura da conversa de Jesus com a samaritana, concentrar-se-á na aliança de Deus com o seu povo. Aliança esta que os celebrantes renovam com Deus a cada vez que celebram a liturgia.
Casamento como sinal de aliança
A Bíblia, em muitos textos, compara aliança de Deus com a humanidade a um casamento. Vários profetas usaram esta imagem para mostrar o amor de Deus para com o povo. Oséias, um dos primeiros a usar a imagem do casamento como símbolo da aliança de Deus com seu povo, casa-se com uma prostituta para demonstrar como o povo traíra a aliança (Os 1,1-12). Mesmo sabendo que Gomer era uma prostituta, Oséias continua amando-a, demonstrando, através do seu matrimônio simbólico, o amor de Deus pelo seu povo, que havia se prostituído com ídolos e falsos deuses (Cf. a este propósito outros textos: Is 1,21; Jr 2,2; Ez 16; Ez 23).
O símbolo da aliança de Deus com seu povo também é interpretado pelo lado positivo. Ao ver seu povo como um errante, Deus promete desposá-lo com a mesma alegria de um noivo apaixonado, para que nunca mais seja considerado desamparado, e não amado. “Assim como um jovem desposa uma jovem, assim eu te desposarei, diz o Senhor” (Is 62,4-5).
Também Jesus usa a comparação do casamento para falar da aliança do povo com Deus. Inicia o anúncio do Reino comparando a presença do Messias no meio do povo a uma festa de casamento (Mt 22,1-14) e define-se, ele próprio, como o esposo (Jo 3,29) para demonstrar que a aliança com Deus realiza-se plenamente na sua pessoa. Depois, São Paulo tratará do mesmo tema em vários textos (por exemplo, 2Cor 11,2; Ef 5,25-33) e, por fim, João como que fecha a revelação anunciando a consumação da aliança nas bodas eternas (Ap 21,2).
Jesus, na conversa com a samaritana, compara o casamento à aliança com Deus. Aquela mulher, a exemplo de Gomer, tornou-se símbolo de um povo que abandonou a aliança com Deus para buscar alegria e vida em outros deuses, na idolatria. Por isso, não tinha marido, não tinha um compromisso de vida, não tinha uma aliança.
Liturgia como renovação da aliança com Deus
Na linha de reflexão, compreendemos que a liturgia é a celebração da renovação da aliança com Deus. Mas o que vem a ser a aliança com Deus? (vire [pic 1]
Dizem os evangelistas que em Jesus Cristo aconteceu a “nova e eterna aliança” (Lc 22,20). São estas as palavras que repetimos em todas as celebrações eucarísticas, no momento da consagração do vinho, “sangue da nova e eterna aliança”. Significa novo e eterno compromisso com Deus e, mais precisamente, novo e eterno compromisso com o plano divino, compromisso com o projeto do Reino de Deus entre nós.
Praticamente, em todos os sacramentos está presente o tema e a realidade da aliança com Deus. Os celebrantes são convidados a renovar, como comunidade e como indivíduos, o seu compromisso de fidelidade a Deus e ao projeto do evangelho, pelo qual Jesus Cristo selou com o Pai uma aliança eterna. Na missa, existe até mesmo um rito. Depois da consagração, todos os celebrantes colocam-se de pé e, como ressuscitados com Cristo, aclamam o “Mistério da fé” com a renovação do empenho em anunciar a morte e a ressurreição do Senhor e suplicar sua segunda vinda.
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