Análise de Fonte "Espelho dos Reis
Por: matheus scandelari • 24/10/2023 • Trabalho acadêmico • 1.633 Palavras (7 Páginas) • 85 Visualizações
[pic 1]UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
Faculdade de
Ciências Humanas e Sociais
Campus Franca - SP
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CAMPUS FRANCA - SP
MATHEUS ROLIM SCANDELARI
HISTÓRIA - LICENCIATURA E BACHARELADO
PERÍODO NOTURNO
ANÁLISE DE FONTE
Frei Álvaro Pais nasceu aproximadamente no ano de 1270, na província de Pontevedra, mais especificamente na cidade de San Juan Del Salnés. Em 1304, se tornou professor e doutor em direito civil, além ingressar na Ordem dos Frades Menores por intermédio, provavelmente, de seu parente Frei Gonçalo Gómez. Sabendo disso, por um grande período como franciscano, pertenceu à corrente dos espirituais, os quais defendiam uma interpretação rigorosa da ordem. Coisa que mudou após Frei, por conta de sua afeição por papa João XXII, afastar-se desta corrente, mesmo demonstrando fidelidade pela tese da pobreza até sua morte. No ano de 1332, ele foi sagrado bispo de Corona, mas logo foi transferido para diocese de Silves, sendo impedido de sequer exercer seu ofício. Posto isso, nesse novo local, Frei teve diversos impasses com Afonso IV de Portugal, pois era contra a guerra proposta pela rei de Portugal contra Afonso XI de Castela e isso fez com que ele sofresse uma certa “perseguição”, fazendo com que fugisse para Sevilha, onde morreu provavelmente em dezembro de 1349.
Entrando no contexto da obra, Espelho dos Reis, como dito no próprio texto de Miguel Pinto de Meneses, tem o mérito de ser o primeiro trabalho conhecido de Filosofia Política escrito em Portugal. Continuando, a obra foi começada, por Frei, em 1341 e foi terminada em Tavira, três anos depois, em 1344, poucos anos antes de sua morte. Sob tal viés, O Espelho dos Reis foi escrito para comemorar a vitória cristã na batalha do Salado, ou seja, a vitória do rei de Castela (Afonso XI). Tal glória pôde ser justificada como a confirmação da superioridade cristã contra os “filhos espúrios de Maomé, pseudo-profeta, mago e condutor de camelos” (Espelho dos reis, vol. I: 07), trecho esse tirado de umas das fontes utilizadas para a realização dessa análise. Ademais, o livro vai abordar “outros problemas de grande interesse para o conhecimento das ideias políticas, sociais e Morais na Península Ibérica”, diz um trecho do texto proposto.
Nessa perspectiva, tentando compreender o que se esperas da obra, o "Espelho dos Reis" reflete as concepções de Frei Álvaro Pais sobre o poder, estabelecendo uma relação direta entre o monarca e Deus. Ou seja, Frei defende que o poder do rei é divino e que ele deve governar em conformidade com os preceitos cristãos.
Desse modo, o autor atribui ao monarca a responsabilidade de zelar pelo bem-estar do reino e de seus súditos, servindo como um modelo de virtude e justiça. Essas concepções refletem a mentalidade da época, em que o poder real era visto como algo sagrado e as virtudes cristãs eram consideradas fundamentais para o bom governo. Sob tal prerrogativa, a ideia de poder para Frei Álvaro Pais pode ser vista no seguinte trecho do texto proposto:
“E depois, no cap. Quoddam: «Os poderes do século estão submetidos à disciplina da religião, e mesmo que sejam investidos no cume do reino, estão adstringidos, pelo vínculo da fé, a pregarem em suas leis a fé de Cristo, e a conservarem, com bons costumes, essa pregação da fé».”
Após isso, tendo em vista a concepção de poder do autor, cabe dissertar e analisar os deveres e virtudes atribuídos ao monarca, que são listados por Frei Álvaro Pais em sua obra. Nesse sentido, é importante ressaltar que, como no texto são citados diversos deveres e virtudes, irei selecionar os mais importantes para fazer uma breve análise, tendo como principal fonte, além do livro, o texto de Ricardo da Costa “O Espelho de Reis (1341-1344), do galego Álvaro Pais”.
Sobre isso, começando pelos deveres, primordialmente “o poder dos reis é a seu modo espiritual e deve ser virtuoso, porque são mais elevados e superiores na dignidade temporal” e “se são mais elevados na dignidade, também o devem ser nos bons costumes, conforme há pouco se provou.”. Dessa forma, Frei começa a listar o que um rei deve fazer em seu mandato escolhido por Deus, onde, citarei cada uma explicando-a brevemente. Frei diz que, junto das principais virtudes, os reis devem unir-se a deus com fé e devoção, para que possa se unir com os outros; não devem procurar, tiranicamente, seus interesses ou glória, mas sim buscar o bem da multidão que lhe está sujeita; devem respeitar, honrar e defender as igrejas e seus prelados; devem cuidar de ampliar e aumentar o culto divino, combatendo os adversários de Cristo da igreja; devem ordenar o que é justo e repudiar as coisas ilícitas, além de punir os maus para que os bons vivam em harmonia; devem se portar com humildade entre os súditos, observando e valorizando a fidelidade que lhes foi concebida; devem também fazer a guerra justa e fugir da injustiça, dividindo sempre a presa com equidade e justiça.
Além desses deveres, Frei diz em um item que o rei deve preferir ser amado a ser temido, pois a natureza humana é mais facilmente atraída do que arrastada. Ademais, outro item importante é de que o rei sempre deve seguir conselho dos mais velhos na idade e costumes, ficando longe dos mais jovens, longe da dureza e da tirania.
Outrossim, para cumpri com os deveres corretamente, o rei deve ser virtuoso e, de acordo com Frei Álvaro Pais, existem quatro virtudes cardeais, que provocam estabilidade em quem delas se vale, “mantendo o espirito na unidade do próximo (justiça), na verdade (prudência), na firme necessidade e na igualdade (temperança) e em uma certa firmeza (fortaleza)”. Com isso, o autor vai fazer uma comparação dessas virtudes com pedras preciosas que formam a coroa de cristo e combatem os defeitos originais (ignorância, fraqueza, concupiscência e malícia).
Em primeiro lugar, a justiça, que era considerada a principal função real medieval cristã e, para Frei, mantém o espírito na utilidade do próximo e dá a cada um o que é seu. Sobre isso, a justiça se divide em duas partes: a severidade, uma virtude que coíbe a injúria com o devido suplício; e a liberdade, que distribui os benefícios. Fora dessa divisão, a justiça possui algumas virtudes dentro de si que devem ser atribuídas ao monarca, são elas a Concórdia/Discórdia; Inocência; Amizade; Piedade; Religião; Afeto e Humildade.
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