FÉ E RAZÃO UMA QUESTÃO QUE PERPASSA OS TEMPOS
Por: unicell • 14/12/2018 • Artigo • 3.699 Palavras (15 Páginas) • 229 Visualizações
FILOSOFIA
ODAIR GUIMARÃES
FÉ E RAZÃO
UMA QUESTÃO QUE PERPASSA OS TEMPOS
Franca SP
2018
RESUMO
A questão da relação entre fé e razão é antigo, tão antigo quanto o próprio Cristianismo. O estudo da razão nasceu com os antigos gregos, pensamento que nasceu e desenvolveu-se por meio de uma linguagem não mítica, o que possibilitava um relacionamento lógico com os eventos naturais e mais tarde no campo da política e da ética. Ao final da antiguidade, a cultura Grega se mistura com os povos semíticos, habitantes do oriente médio, neste momento a filosofia se depara com o fenômeno crença, mais precisamente a fé. A partir deste contexto há um contato permanente entre a tradição filosófica grega e a tradição religiosa judaica, que mais tarde influenciará sobremaneira na formação do cristianismo e, posteriormente da igreja católica e da cultura cristã na idade média. É neste contexto que a questão fé e razão ganha corpo e perpassa pelos séculos, para se ter uma ideia nas Sagradas Escrituras, no Novo Testamento, Pedro exorta os cristãos da Ásia já no primeiro século “a saberem dar as razões de sua confiança (fé) a quem o solicitar” (1 Pd 3, 15). Nesta exortação já prefigura o problema da relação entre Teologia e Filosofia.
Este artigo pretende abordar a tradicional questão da relação entre fé e razão mostrando o quão antiga é, e que, com o passar dos tempos e mediante a evolução cultural e tecnológica vai se transformando num problema conciliatório em todas as áreas do conhecimento humano, desvelando a forte crise em que a contemporaneidade vive de crença nos valores absolutos e universais, além do relativismo que inaugura uma fase de um ceticismo radical.
Há alternativa? A tolerância é uma alternativa com valor científico?
Palavras-chave: Fé e Razão.
Introdução:
A Filosofia não se satisfaz com o dado imediato ou perceptível, ou com a experiência subjetiva, ao voltar seu olhar para a totalidade de nossa realidade, ela transcende os diversos campos, e somente tem compromisso com uma visão racionalmente fundada, opondo-se às tradições de cunho religioso. Embora esta questão pareça estar tomando vulto na contemporaneidade, ela é tão antiga quanto as Sagradas Escrituras, conforme atesta Urbano Zilles em sua obra Crer e compreender.
Por vezes, o leigo pode ter a impressão de que o tema da fé e razão tenha suas raízes nos tempos modernos. Isso é um grande equívoco, pois os antecedentes dessa questão já se encontram na antiga Grécia, no caminho do mito ao lógos (razão). Por isso já está presente no querigma apostólico. Enquanto os gregos, com a luz natural da razão, perguntavam por Deus, os judeu-cristãos partiam da resposta, do Deus que se revelou, no Antigo Testamento, aos patriarcas e profetas e, de maneira plena, no Novo Testamento, em Jesus Cristo. (ZILLES, 2004, p.67)
Com certa frequência a filosofia sempre formulou questões contra certas concepções religiosas, e até hoje as faz, exigindo sempre juízos racionais, mas não rejeitando as afirmações de fé, sustentadora do nosso mundo no âmbito divino, assim a indagação filosófica se vale daquilo que se pode justificar racionalmente, não esgotando apenas na explicação tradicional da fé.
A fé por sua vez não pode se furtar ao diálogo franco e aberto com a filosofia, não se fechando em dogmatismos, nem fugindo da objeções científicas, mas sempre com disposição a argumentar. O acesso à verdade somente se dará através do diálogo que supera o tempo, ensina a grandeza, mas também aponta os limites e as diferenças das muitas concepções. Assim sendo se faz necessário que a fé supere as antinomias e tenha coragem de dialogar com os opostos, não se limitando apenas ao debate com seus pares.
Segundo o saudoso Papa João Paulo II, na Fides et ratio, a separação entre Teologia e Filosofia, a partir da Baixa Idade Média, tornou-se nefasta: “Alguns começaram a professar uma desconfiança geral, cética ou agnóstica, quer para reservar mais espaço à fé, quer para desacreditar qualquer possível referência racional à mesma” (fides et ratio , n. 45).
Considerações Históricas:
“A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade” (fides et ratio , n. 1). Assim começa a encíclica Fides et Ratio, a décima segunda Encíclica do Papa João Paulo II, de 14 de setembro de 1998 que aborda as relações de fé e razão e servirá também para nortear este trabalho.
A questão entre fé e razão envolve diversos problemas filosóficos que foram se desenvolvendo a partir da história ocidental num grande imenso histórico que vem desde a antiguidade, passando pela idade média, modernidade até atingir nossa contemporaneidade. A Teologia ao longo da história se construiu a partir de uma conceituação filosófica, pois sem esta base a mesma se perderia em estruturas de pensamento inconsistentes, sem idoneidade o que dificultaria sobremaneira a compreensão da fé, isto posto; fica claro a necessidade que a Teologia tem de ter a Filosofia como interlocutora.
No período da patrística, o cristianismo em seus primeiros passos, via na filosofia grega um aliado, sob forte influência de Plotino e de sua filosofia neoplatônica consorciada com o estoicismo. Plotino vai para Roma e funda uma escola neoplatônica permanecendo até o ano 529, sua filosofia era chamada de Religiosidade de Caráter Filosófico, já prefigurando ai uma aproximação da fé com a razão, Plotino foi o que mais influenciou Agostinho.
O apologista Alexandrino Tito Flávio Clemente trata o Evangelho de “a verdadeira Filosofia” (Stromata, I, 18, 90, 1), foi uma referência no consórcio fé e razão com um retorno ao logos joanino, se para os gregos o logos tem o sentido de métron, ou medida, para Clemente de Alexandria, a perspectiva é Cristã, sendo Jesus a medida de todas as coisas.
Com Agostinho de Hipona, inicia a Patrística Latina, Agostinho teve contato com o neoplatonismo através de Plotino, nascendo a partir deste encontro o consórcio entre a teologia e filosofia grega. A partir de Agostinho há um filosofar na fé, para ele a fé não
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