Pedagogia
Por: paulaprofessora • 21/11/2015 • Resenha • 4.160 Palavras (17 Páginas) • 189 Visualizações
A mão e a Luva
Luís Alves: Mas que pretendes fazer agora?
Estêvão: Morrer.
Luís Alves: Que ideia Estêvão. Não se morre por tão pouco.
Estêvão: Morre-se. O golpe foi profundo, por mais aborrecível que pareça a ideia da morte, o pior é de viver!
Narrador: Era mais ou menos nove horas, íamos à casa de Luís Alves. Entramos para o quarto, acendi um cigarro e dei-me a passear ao longo do aposento, enquanto Luís preferiu um charuto e um sofá. Ficamos em silêncio por um bom tempo.
Estevão: Sei que tudo isso há de parecer ridículo, mas o que te querer? Eu vivia na persuasão de que era amado, e era-o talvez. Ou o que eu suponha ser amor, não passava de passatempo ou zombaria.
Luís Alves: Talvez seja.
Estevão: Não, não é possível! Tu não a conheces.
Narrador: Mal sabia eu, que aquela nobre criatura tão delicada seria capaz de ser tão fria e irônica. Em meio de pensamentos ouço a voz do meu amigo
Luís Alves: Dá tempo ao tempo, e ainda te hás te rir dos teus planos de ontem. E queres um conselho?
Estevão: dize.
Luís Alves: O amor é uma carta, mais ou menos de veludo, escrita em papel de velino, corte-dourado, muito cheiroso, carta de parabéns quando se lê carta de pêsames quando se acabou de ler.
(Estevão aplaude a metáfora do amigo com um sorriso)
Narrador: Um mês depois cheguei-me a São Paulo e achei que aquela paixão estava definitivamente morta e enterrada. Fui para casa de meu amigo, acomodei- me e após um conversa com o Luís, andando pela casa cheguei à janela e me deparei com uma linda moça de roupão. Via-lhe a face cor de leite, sobre qual se destacava a cor escura dos cabelos. O roupão finamente bordado, dando um ar de elegância. Sai pelo jardim na intenção de encontra-la. A moça chegara à cerca, olhou em derredor e por fim sentou-se no banco que ali havia, dando as costas para o jardim de Luís Alves. Quando me reclinei sobre a cerca, e procurando abafar a voz para que só chegasse aos ouvidos dela, mas proferi este simples nome:
Estevão: Guiomar!
(Guiomar solta um grito de surpresa e de susto e olha para o lado que partira a voz, e em tom de suplica Estevão se desculpa).
Estevão: Perdoe-me; foi uma centelha de passado que estava debaixo da cinza: apagou-se de todo.
Guiomar: Está perdoado.
(Ficaram se olhando por um bom tempo, Guiomar rompeu o silêncio).
Guiomar: Há dois que não nos vemos, creio eu.
Estevão: Há dois anos.
Guiomar: Já está formado, não? Lembra-me ter lido o seu nome...
Estevão: Estou formado.
Narrador: Ficamos um quarto de horas conversando, foram as melhores horas que já tive... Quando formos interrompidos pela Baronesa que já estava na hora do seu passei da tarde.
Guiomar: Preciso ir, (estendeu a mão a Estêvão) Passe bem, senhor doutor.
Narrador: Guiomar caminhou para a casa fiquei acompanha-la com os olhos, fiquei algum tempo ali ainda encostado na cerca, na esperança de vê-la pelo menos caminhou, mas passou por mim como se nem me conhecesse. Retirei-me dali cabisbaixo e triste.
Narrador: Após sair-me dali a Baronesa passeou pouco mais de meia hora.
Baronesa: Parece muito tarde.
Guiomar: E é, madrinha. Demorei-me hoje por causa de um encontro que tive na chácara.
Baronesa: Um encontro?
Guiomar: Um Homem, o sobrinho da minha mestre de colégio... lembre-se dele..
Baronesa: Você está zombando comigo! Um homem na chácara?
Guiomar: Não era bem na chácara e sim no jardim do senhor do Luís Alves a beira da cerca. Trocamos algumas palavras
Oswald: Desculpa interromper, mas já são nove horas! O calor está forte.
Baronesa: Tem razão, mas Guiomar tardou hoje tanto em ir buscar-me, que o passeio começou tarde.
Narrador: As três entraram para dentroi, porem só Oswald e a Baronesa que ficaram na sala, Baronesa toda preocupada com o rapaz com quem Guiomar estava a conversar contou a inglesa.
Oswald: Tenha calma, quando a esse rapaz saberemos de quem se trata, e que relações tiveram no passado.
Narrador: Sai do jardim com o coração meio inclinado, senti que debaixo da cinza uma faísca estava prestes a repetir o incêndio. Luís observou tudo durante aquele três quartos de horas, e achou um pouco atrevida a escolha do lugar. Luís: vai contar-me tudo!
Narrador: O presente me defendia, mas senti que havia algo que me distanciava de Guiomar.
Luís: Eu já havia percebido, queres então que te leve lá?
Estêvão: Quero. Narrador: Assim foi a reação de Luís quando lhe contei do encontro que tive com Guiomar.
Estêvão: eu a amo!
Luís: Digo-te que vocês não nasceram um para o outro, que, se ela não te amou naquele tempo, muito menos te amará hoje.
Estêvão: Então... Gosta dela?
Luís: Acho-a bonita nada mais. Casava- me, não aceitou.
Estêvão: Já vês que somos diferentes.
Luís: Queres o que?
Estêvão: Um serviço de amigo.
Luís: A baronesa pediu que cuida-se de um processo, passo-te e entrarás ali como advogado.
Narrador: Aceitei a oferta com ambas às mãos e agradeci com muita ternura e sorrisos. A promessa cumpriu-se na seguinte noite. Luís acompanhou-me, a recepção foi boa, mas salvo por parte de Guiomar que apareceu aborrecida. Quando a saudei, ela mal pôde me retribuir o comprimento. Mas sentia-me feliz por respirar o mesmo ar. A primeira a reparar a indiferença de Guiomar comigo foi Mrs. Oswald.
Oswald: Sabe que descobri um namorado seu? (Guiomar fez um gesto de estranheza)
Oswald: Não digo que a senhora o namore também, digo que é ele quem anda apaixonado. Certo?
Guiomar: talvez
Oswald: O Dr. Estêvão. (Guiomar faz um gesto de desdém)
(Guiomar ficou séria) Guiomar: Mrs. Oswald, falemos de outra coisa. (Mrs. Oswald ficou calada por alguns minutos)
Guiomar: Está bom, não vejo razão que se zangue comigo.
Oswald: Não estou zangada. É que uma aliança tão conveniente seja repelida pela senhora; mas se isto é motivo de desgosto... (Guiomar responde com um simples sacudir de ombros, seco e rápido, mas depois se arrepende).
Narrador: Jorge era pretendente e prometido de Guiomar, provavelmente teria mais chance do que eu, vivendo do que os pais herdara.
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