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Sincretismo religioso no Brasil

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Por:   •  28/11/2013  •  Seminário  •  6.878 Palavras (28 Páginas)  •  428 Visualizações

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O sincretismo religioso no Brasil, ou seja, a mistura de concepções, fundamentos, preceitos, ritualísticas e divindades se processou num quádruplo aspecto: negro, índio, católico e espírita porque outros foram menos dominantes ou de modo superficial e restrito a certas áreas.

O marco inicial surge com a escravatura do índio feita pelos primeiros colonizadores no Brasil. Entretanto, o aborígene pelas suas características de raça, de elemento da terra, conhecedor das matas, espírito guerreiro exaltado, sem qualquer organização com um rudimento de estrutura social, tendo a liberdade como apanágio de toda sua vida, não aceitou o jugo da escravidão. Tinha, contudo, uma crença no espírito e suas religiões. A influência do índio contribuiu para a formação da Umbanda fornecendo elementos da sua mitologia e cultivos, tais quais, a Pajelança, o Toré, o Catimbó, entre outros. Ademais, o caboclo, ancestral do índio que incorporava em suas manifestações, foi consolidado na prática umbandista 2

O colonizador, portanto, foi buscar nas terras africanas o elemento negro, o qual oferecia condições mais favoráveis para os misteres da lavoura, já conhecidos nas regiões de origem. Desse modo, houve um circuito branco-índio-negro que contribuiu sobremaneira para o complexo da formação brasileira, nele ressalvando, como uma constante a religiosidade em vários aspectos. Na época das senzalas, os negros escravos costumavam incorporar o que se conhece hoje como pretos-velhos, antigos escravos, que ao se manifestarem, compartilhavam conselhos e consolo aos escravos.

O sincretismo católico, produto da simbiose dos cultos de escravo e escravocratas no Brasil, chegou a tal ponto que se cultiva um orixá com nome e imagem do santo católico, não se podendo diferenciar em certas exteriorizações onde começa um onde termina o outro. São flagrantes os casos de São Jorge, Ogum, Nosso Senhor do Bonfim, Oxalá, São Cosme e São Damião, Ibeji, e Santa Bárbara, Iansã. Não raro, muitos chefes de terreiro mandam rezar missas e se declaram também católicos, além de haver um grande número de praticantes que frequentam as duas religiões. Houve, portanto, uma consolidação do santo católico, admitido já sob o aspecto de espírito superior, de guia-chefe ou como orixá, enquanto os candomblés procuraram mais se distanciar do sincretismo e não aceitar as imagens.

O primeiro relato histórico, segundo Cavalcanti Bandeira, cabe a Nina Rodrigues, falecido em 1906, quando já estava quase pronta a impressão do seu livro Os africanos no Brasil, referente aos estudos feitos entre 1890 e 1905, nos quais consta a descrição de um ritual praticado na Bahia, o mais semelhante da Umbanda atual, que é o seguinte:

Entre os casos que poderíamos citar, tomamos por sua importância à pastoral de um Prelado Brasileiro ilustre a descrição eloquentíssima do Cabula, por ele estudada, que mais não é do que uma instituição religiosa africana sob vestes católicas.

Diz d. João Corrêa Nery:

A Cabula: Houve alguém que disse ser grande e mais prejudicial do que pensamos, a influência exercida pelos africanos sobre os brasileiros. Parece mesmo que muito se tem escrito nesse sentido. Em certa região de nossa Diocese, tivemos, em nossa última excursão, oportunidade de observar a verdade desse asserto. Encontramos três freguesias largamente minadas por uma seita misteriosa que nos parece de origem africana. Nossa desconfiança mais se acentuou, quando nos asseveraram que antes da libertação dos escravos, tais cerimônias só se praticavam entre os pretos e mui reservadamente. Depois da lei de 13 de maio, porém, generalizou-se a seita, tendo chegado, entre as freguesias, a haver para mais de 8.000 pessoas iniciadas. Bem que agora esteja privada dos elementos mais importantes, que infelizmente possuiu outrora, ainda encontramos crescido número de adeptos. O tom misterioso e tímido com que nos falavam a seu respeito e a notícia da grande quantidade de iniciados ainda existentes, nos levaram, não só a procurar do púlpito invectivar essa tremenda anomalia, como também a tomar algumas notas que oferecemos à consideração e ao estudo dos curiosos. Graças a Deus nosso trabalho não foi inútil. Tivemos a "consolação" de ver centenas de cabulistas abandonarem os campos inimigos e voltarem novamente a N. S. Jesus Cristo, ao mesmo que tempo que, de muito bom grado, nos forneciam informações sobre a natureza, fins da associação que pertenciam. A nosso ver a Cabula é semelhante ao Espiritismo e à Maçonaria, reduzidos a proporções para a capacidade africana e outras do mesmo grau. Em vez de sessão, a reunião dos cabulistas tem o nome de mesa. O chefe de mesa é chamado de embanda e é secundado nos trabalhos por outros chamados cambones.

União Espiritista de Umbanda do Brasil, a Casa Mater de Umbanda

Pensa-se que a expressão embanda possa ser uma corruptela do termo Umbanda ou Quimbanda, mas de qualquer modo demonstra a antiguidade do ritual na Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro, já no século XIX, onde teve a linha mestra de uma de suas origens sob certos aspectos.

Na descrição do ritual cabulista é identificado o bater das palmas, as vestes brancas, a disposição das velas em sentido cabalístico como nos riscados, a engira, hoje gira, o modo de aceitar um novo membro do corpo de médiuns da casa, em alguns a iniciação dos profitentes do culto, a chegada do santé que é o santo como hoje se diz, a marcação de pontos, além do cambone, o chamado assistente cambono.

Uma referência com outra data precisa se encontra no livro Religiões Negras, de Edison Carneiro, 1963, em que surge à tona o nome Umbanda ao referir: "nos candomblés de caboclo, consegui registrar as impressões umbanda e embanda, sacerdote do radical mbanda: Ké ké mim ké umbanda. Todo mundo mim ké Umbanda."

De acordo com Cavalcanti Bandeira, Edison Carneiro, em 1933, teria estado na Bahia para fazer essa verificação. Assim, teve a primazia de fixar num livro brasileiro a palavra Umbanda, sem qualquer alteração, com essa grafia, em relação a um fato no culto que estudou naquele estado.

Pode ser fixado o ano de 1905 para a Guanabara, como marco, quando João do Rio publicou as suas reportagens enfeixadas depois no livro Religiões do Rio, onde aprecia e relata todos os cultos, seitas e religiões existentes na época e por ele vistos, não se referindo ao nome Umbanda que, embora conhecido e usado nesse período ao que parece, não tinha galgado a evidência e nem definia um culto de largas proporções. Entretanto, sua prática no Rio de Janeiro remonta ao tempo do Império,

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