Transformaçoes religiosas
Por: Denner Moises • 25/6/2015 • Trabalho acadêmico • 3.536 Palavras (15 Páginas) • 230 Visualizações
As transformações religiosas e a representação da Impressão das Chagas
de Francisco de Assis nos centros artísticos “hispano-italianos” dos séculos XV e XVI
Aldilene Marinho Cesar
RESUMO: O objetivo desta comunicação é discutir parte da iconografia franciscana, através de quatro pinturas com o tema da estigmatização de Francisco de Assis, produzida nos principais centros artísticos da “Itália” e da “Espanha”, entre meados do século XV e o final do século XVI. Propondo como marco divisor a realização do Concílio de Trento (1545-1563), pretende-se relacionar estas pinturas com alguns dos aspectos das transformações na cultura religiosa católica desse período, considerando-as participantes, através de seus usos e funções, da construção de algumas dessas transformações. Com isso, propõe-se que estas imagens deixariam gradualmente de figurar a manifestação do divino no mundo para significar, cada vez mais, um encontro místico e individualizado entre o fiel e o sagrado.
PALAVRAS-CHAVE: História da Arte, Pintura, Francisco de Assis.
SOMMAIRE:
L'objectif de cette communication est de discuter partie de l’iconographie
franciscaine, à travers de quatre peintures avec lesujet de la stigmatisation de François d’Assise, produit dans les principaux centres artistiques italiens et ibériques, entre les milieux du XVème siècle et la fin du XVIème. En proposant comme borne diviseur la réalisation du Concile de Trente (1545-1563), on prétend rapporterces peintures avec certains aspects destransformations dans la culture religieuse catholique de cette période, en les considérant participants, à travers leurs usages et fonctions, de la construction de certaines de ces transformations. Ainsi, on propose que ces images cesseraient graduellement de figurer la manifestation du divin dans le monde pour signifier, de plus en plus, une rencontre mystiqueet individualisée entre le fidèle et le sacré.
MOTS-CLÉ : Histoire de l'Art, Peinture, François d’
Assise.
Francisco de Assis (1181-1226), segundo o historiador Jacques Le Goff, teria sido “uma das personagens mais importantes de seu tempo e, até hoje, da história medieval” (LEGOFF, 2001: 9), pela sua constituição como um novo modelo de santidade, baseando-se na imitação de Cristo que resultara numa identificação tão radical, chegando a se expressar em seu próprio corpo no momento mais valorizado de sua biografia, a estigmatizarão. Nascido em Assis, na região central da Itália, numa família de comerciantes, Francisco, após um processo gradual de conversão, por volta dos 25 anos teria se voltado para uma vida religiosa dedicada aos pobres e ao desprezo pelas riquezas materiais. Propondo uma restauração daquilo que entendia como os valores simples e verdadeiros da religião cristã, o jovem de Assis, em torno do qual logo viria a se reunir um grupo crescente de companheiros, criou uma * Mestranda do Programa de Pós-graduação em Históri a Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq-Brasil.
nova regra religiosa, cujas diretrizes principais e
ram a pobreza e a humildade. Aprovada em
1210 pelo papa Inocêncio III, a primeira Regra inau
gurava também a primeira das três ordens
religiosas iniciadas durante a vida de Francisco (L
E GOFF, 2001: 16). Até a sua morte em
1226, sua popularidade aumentou enormemente, tanto
pela atuação da sua Ordem junto aos
pobres, quanto pelos inúmeros relatos de milagres e
visões ligados ao seu nome. Além disso,
ao contrário dos grandes bispos e doutores da Igrej
a que possuíam esmerada formação letrada
e teológica, Francisco de Assis era leigo, desconfi
ava da escolástica e considerava que “o
Evangelho era a única regra necessária a uma vida r
eligiosa” (LE GOFF; SCHMITT, 2002:
236). De acordo com Georges Duby, foi exatamente es
sa “ingenuidade” da pregação
franciscana – que, em princípio, propunha somente a
vida exemplar e não uma doutrina
religiosa – que a fez “singularmente eficiente” (DU
BY, 1976: 170). Estes elementos
contribuíram para que Francisco fosse considerado u
m santo ainda em vida, sendo
oficialmente canonizado pelo papa Gregório IX, apen
as dois anos após a sua morte.
Apesar da História das Religiões haver produzido in
úmeros trabalhos sobre a
religiosidade e as fontes primárias franciscanas, a
iconografia de Francisco foi, nesse campo,
relativamente pouco estudada – com exceção de uns p
oucos estudos como os de Joaquín
Luaces,
La imagen del fraile franciscano
(LUACES, 1996) e Virgilio Vega,
La Difusión de la
iconografía franciscana a fines de la Edad Media
(VEGA, 1996) –, restringindo-se a algumas
passagens em trabalhos de caráter mais amplo que tr
atam da arte religiosa cristã de um modo
geral. No campo da História da Arte o panorama não
diverge muito. Estudos tradicionais
produzidos por Émile Mâle (MÂLE, 1932) e Louis Réau
(RÉAU, 1957) que pesquisaram
amplamente a iconografia da arte cristã, dedicam so
mente parte de suas análises às
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