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A Música E O Cérebro

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Por:   •  21/10/2013  •  2.850 Palavras (12 Páginas)  •  191 Visualizações

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A Música e o Cérebro

As "funções musicais” são um conjunto de atividades cognitivas e motoras envolvidas no processamento da música

| Neurociência | Temas Livres |

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Há tempos vem se falando sobre as influências da música sobre a atividade mental e, em alguns casos, até sobre o comportamento animal. Bebês se acalmariam ouvindo músicas clássicas, bois confinados engordariam mais, galinhas botariam mais ovos e tantas outras observações curiosas. De qualquer forma, o tema música-cérebro tem sido fascinante.

De fato, atualmente algumas pesquisas têm revelado interações entre reações humanas e estímulo musical. Os trabalhos mais recentes se beneficiam dos exames de imagens funcionais cerebrais obtidas de aparelhos de ressonância magnética e tomografia por emissão de pósitrons.

Procura-se compreender, cada vez mais, o comportamento musical neurológico e as reações mentais das pessoas à música e ao som. Além de ampliar os conhecimentos sobre a fisiologia neurológica, esses trabalhos visam obter subsídios para as bases da musicoterapia em pacientes com distúrbios neurológicos e psiquiátricos. Uma das conclusões que já se pode obter é que nossos cérebros têm circuitos distintos para perceber, processar e tocar música.

A música, como atividade neuropsicológica, requerer múltiplas funções cerebrais, tais como a função auditiva para escutar e apreciar a harmonia, ritmo, timbre, a função visual, para ler uma partitura, a função motora para execução instrumental e, mais fascinante, as funções cognitivas e emocionais para a interpretação e representação musical interior (Barbizet e Duizabo, 1985). Estudar as relações multifuncionais da música com o cérebro amplia os conhecimentos sobre a integração cerebral da capacidade de percepção e atividades comportamentais complexa.

O termo “funções musicais”, utilizado pela neurociência, são um conjunto de atividades cognitivas e motoras envolvidas no processamento da música. São mecanismos pelos quais o cérebro se organiza para coordenar todas as operações mentais envolvidas com a música. Atualmente já se pesquisa se a pessoa tem as habilidades musicais preservadas.

Outro termo que está cada vez mais presente nos exames de neurociências é a “amusia”. No plural, as amusias correspondem à perda das funções musicais. Observando que as afasias, que são alterações neurológicas da linguagem, nem sempre são acompanhada das amusias e, por causa disso, deduz-se que haja uma autonomia dos processos de comunicação verbal e musical, conseqüentemente, uma independência estrutural e funcional dos substratos neurobiológicos (Sergent, 1993).

Anatomicamente sabe-se que não existe um centro neurológico específico para a música, como existe para a linguagem, sendo a função musical difusamente presente em diversas áreas cerebrais, mesmo naquelas áreas envolvidas com outros tipos de cognição (Zatorre e McGill, 2005).

Para as pesquisas atuais a música ultrapassou sua natureza artística e passou a ser um instrumento para o estudo de vários aspectos da neurociência. Não é demais afirmar que o ato de ouvir e de produzir música envolve praticamente todas as funções cognitivas. Outra constatação interessante é que as áreas ativadas pela função musical variam com as experiências individuais e com o treinamento musical, tornando então muito mais complexo este estudo.

Sabe-se, há tempos, que cada cérebro tem suas preferências musicais pessoais, porém, alguns critérios de preferência são universalmente comuns e presentes em todos os cérebros. Acredita-se que as músicas capazes de chamar a atenção possuam uma estrutura melódica e temporal (harmonia e ritmo) suficiente para desencadear processos mentais automáticos de análise que criam expectativas sobre como a melodia deve prosseguir, desde as primeiras notas ouvidas. Esse processo não consciente de tentar adivinhar as próximas notas e, eventualmente acertar, é um estímulo prazeroso de recompensa que mantém o cérebro interessado em continuar expectando. Isso acaba resultando no sentimento de gostar da música.

Por conta dessa avidez cerebral em construir uma suposta familiaridade musical, quanto mais música se ouve, mais o cérebro aprende a acertar antecipadamente os padrões de melodias e ritmos, assim, mais música quer ouvir. O prazer da música talvez venha do trabalho agradável que ela dá ao cérebro.

As melodias simples demais como, por exemplo, um batuque ou um simples dó-ré-mi-fá-sol-lá-si-dó, têm uma estrutura musical tão trivial que rapidamente deixam de estimular o cérebro a pressupor o próximo passo musical, perdem o interesse, logo, deixam de estimular o sistema de recompensa. Não obstante, a mesmice musical desses arranjos mais simples pode exercer um efeito rítmico, hipnótico ou torporoso no cérebro, mas não estimula o prazer pleno em desejar mais música.

Por outro lado, seqüências musicais muito complexas e difíceis de serem adivinhadas pelo cérebro, ou que não seguem algum padrão (normalmente de natureza cultural), são frustrantes para o sistema de recompensa. Por não oferecer prazer algum, a novidade musical complexa, estranha e algo bizarra é logo abandonada (Housel, 2002).

Na Universidade Federal Paulista de Medicina, o neurologista Mauro Muszkat pesquisou as alterações elétricas no cérebro de pacientes ao escutarem música. De um modo geral, as funções musicais parecem ser complexas, múltiplas e de localizações assimétricas, envolvendo o hemisfério direito para altura, timbre, discriminação melódica, e o esquerdo para ritmos, identificação semântica de melodias, senso de familiaridade e processamento temporal e seqüencial dos sons. No entanto a lateralização das funções musicais pode ser diferente em músicos, comparado a indivíduos sem treinamento musical, o que sugere um papel da música na chamada plasticidade cerebral segundo Muszkat. Para este neurologista, “um paciente que tenha sofrido algum dano cerebral pode recuperar algumas funções se for estimulado com a música”.

A arte não apenas produz prazer no ser humano, mas, sobretudo, provoca uma reação vivencial, um juízo, uma resposta (Blasco, 1998). Como arte a música tem o poder de sugestão, de projeção, de permitir a realização imaginária de desejos inconscientes, de lembranças, de sentimentos hedonistas e de comunicação, aliás, de comunicação universal.

Segundo o eminente maestro e compositor alemão Hans-Joaquim Köellreutter, figura proeminente da educação musical no

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