Análise da Obra "O Cortiço"
Por: Jeferson Antunes • 4/9/2018 • Resenha • 1.158 Palavras (5 Páginas) • 127 Visualizações
Análise de “O Cortiço” e sua relação com a introdução de “O Povo Brasileiro” e com a história de Malasartes, do livro “Carnavais, malandros e heróis”.
Por: 3° ano 301 - Escola Estadual "Juscelino Benedito de Araújo"
O livro “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo, retrata a sociedade brasileira, especialmente carioca, do século XIX. É um romance naturalista, que explica o comportamento dos personagens a partir da influência que sofreram e ainda sofrem do meio em que vivem. Também animaliza os mesmos, baseando suas ações em instintos naturais, como os sexuais e os de sobrevivência. Por falar da influência do meio de vivência nos humanos pode ser ligado à história de Malasartes analisada em “Carnavais, malandros e heróis”, de Roberto DaMatta. Por tratar da sociedade brasileira, pode ser relacionado à introdução de “O Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro, que também observa a influência do meio. Nesta, o autor diz que atuaram sobre a população três forças diversificadoras: a ecológica, a econômica e a imigração.
No livro de Azevedo, João Romão é um português ambicioso. Após se tornar proprietário de uma venda, com muita economia e com a ajuda de Bertoleza, sua amante, ele vai comprando as terras do entorno e construindo o cortiço São Romão. Para fazer as construções, o casal furta materiais. Essa inversão de desvantagens em vantagens é, segundo Roberto DaMatta, “sinal de todo bom malandro e de toda e qualquer boa malandragem”, referindo-se às trapaças de Malasartes.
O conjunto habitacional abriga pessoas da classe baixa da cidade, denunciando as condições precárias em que vivia boa parte dos cariocas – e brasileiros – no contexto. Os moradores do local são excluídos da sociedade e formam entre si um grupo próprio, embora cheio de diferenças. Os personagens do livro são uma pequena parcela da população que acaba por representar o povo brasileiro: a obra apresenta as diferenças sociais, culturais, de origem étnica e de pensamento dentro de um pequeno universo, que gira em torno do cortiço de João. Essas diferenças, como dito na obra de Darcy Ribeiro, não formaram uma sociedade “dilacerada pela oposição de componentes diferenciados e imiscíveis”, embora isso não signifique uniformidade. Resumindo, Ribeiro diz que o povo é muito mais marcado pelo que têm em comum como brasileiros do que pelas diferenças.
A vida dos moradores do São Romão não era fácil. Apesar disso, eram constantes as festas no cortiço. Isso mostra a alegria dos brasileiros. Apesar de todos os problemas, esse povo tenta contorná-los com festividades. Essa característica é destacada também em “O Povo Brasileiro” no trecho: “[...] inverossímil alegria e espantosa vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que alenta e comove a todos os brasileiros.”. Existe outra generalização (essa bastante negativa) no trecho que marca a mudança de postura do português Jerônimo após seu interesse em Rita Baiana: “O português se transformava, lenta e profundamente. [...] Queria coisas novas, prazeres picantes e violentos; começou a gastar mais do que guardar; ficava cada dia mais preguiçoso. Aos poucos, Jerônimo virava brasileiro.”.
É importante observar como as atitudes dos personagens são justificadas, ou pelo menos explicadas, na obra pelo meio em que vivem. Os moradores do cortiço tendem a viver na pobreza, enquanto a família de Miranda tem tudo para continuar na classe alta da sociedade. Além disso, analisando mais a fundo, vemos vários outros exemplos: o assassinato de Firmo, planejado por Jerônimo, é todo explicado pela rivalidade destes por Rita Baiana; o alcoolismo de Piedade, esposa de Jerônimo, é justificado pelo abandono que ela sofreu por parte do marido; essa situação dos pais de Senhorinha explicará o futuro dela como prostituta, como se vê no trecho: “[...] o carinho que Pombinha tinha por Senhorinha era o mesmo que antes Léonie tinha por Pombinha. A cadeia continuava: o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela pobre menina, filha de pai ausente e mãe bêbada.”. A influência do meio é muito importante também na obra de Roberto DaMatta, em sua tentativa de explicar as atitudes de Pedro Malasartes. Isso é chamado, em seu livro, de “pré-determinação”: é a situação inicial que explica a trajetória das pessoas. Roberto cita também Guimarães Rosa, que diz que “o começo é tudo”, no livro “Sagarana”. Os objetivos de Pedro e João Romão com suas ações, no entanto, são diferentes: enquanto o português busca
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