O princípio fonético dos alfabetos
Tese: O princípio fonético dos alfabetos. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Carlavaljaboque • 21/8/2014 • Tese • 1.344 Palavras (6 Páginas) • 326 Visualizações
O princípio fonético dos alfabetos estipula que cada letra deve representar um único som, e que cada som deve ser representado por uma única letra. Na prática, a relação entre letras e sons é imperfeita na maioria das línguas, sendo impossível de ser plenamente atingida em idiomas como o português, nos quais o número de fonemas é maior que o número de grafemas que os representem.
O princípio fonético também enfrenta obstáculos pela tendência natural da língua falada de se modificar com o tempo, deixando o sistema de escrita obsoleto. O princípio etimológico preza a manutenção de grafias não fonêmicas em nome da memória da origem e evolução das palavras.
Uma ortografia perfeitamente fonética é possível no caso de línguas de poucos falantes e sem grande variação linguística (variações dialetais ou socioletais), mas deixa de ser desejável no caso de idiomas com uma grande distribuição geográfica (como o português). Nesse caso, é impossível uniformizar a escrita, pois uma grafia torna-se fonética para uma variante do idioma, mas não para outra.
Assim, no caso do português, para escrever foneticamente, por exemplo, o número "20", poderiam eventualmente usar-se as escritas bint, vint, vintchi, vinte, vinti, conforme fosse escolhida a pronúncia popular do Porto, de Lisboa, do Rio de Janeiro, de Curitiba ou de Luanda. Isto demonstra que, para uma grande língua, a escrita totalmente fonética não é viável. Há escritas, como a escrita chinesa, que adotam um sistema logográfico, em que a grafia é entendida por todos, inclusivamente por falantes de diferentes línguas, como o cantonês ou o mandarim. Entretanto, essa escrita apresenta o inconveniente de ter milhares de grafemas para reproduzir a riqueza lexical de um idioma.
A ortografia da língua portuguesa adota o meio-termo. As palavras são apresentadas não de maneira completamente fonética, mas aproximadamente fonética. Cada palavra terá, então, um aspecto reconhecido imediatamente por todos os falantes alfabetizados da língua, mas que não impeça que cada palavra escrita seja pronunciada de modo diferente em cada região.
Irregularidades[editar | editar código-fonte]
A ortografia portuguesa tem, por um lado, sons representados por mais de uma letra, e, por outro, letras que podem representar mais de um som. Algumas dessas irregularidades existem para todos os falantes do português, mas a maioria só vale para alguns dialetos.
Irregularidades supradialetais[editar | editar código-fonte]
Homofonias[editar | editar código-fonte]
G vs. J : quando vêm antes de e e i, são pronunciados da mesma forma. Seu uso é determinado somente pela origem das palavras. O J é sempre preferido em vez de G na escrita de palavras indígenas brasileiras e africanas, como jiboia e acarajé. (Por essa regra, as cidades de Bagé e Mogi das Cruzes deveriam ser grafadas com J e não com G).
S e SS vs. X : o x em muitas palavras soa como a letra s, tanto em seu valor sonoro (como em exemplo e exumação) como em seu valor surdo (como em sintaxe ou próximo).
Polifonias[editar | editar código-fonte]
E e O : cada uma dessas letras representa duas vogais diferentes, uma aberta (/ɛ/ e /ɔ/) e outra fechada (/e/ e /o/). Na escrita, geralmente não há indicação, como se verifica na homografia de besta /é/ (arma antiga também chamada de balestra) e besta /ê/ (animal quadrúpede).
QU e GU : desde 1945 em Portugal e 2009 no Brasil, essas sequências antes de E ou I podem representar tanto /k/ e /g/ quanto /kw/ e /gw/. O U é pronunciado em equino (relativo a cavalo), mas não em equino (ouriço-do-mar do gênero Echinus).
X : entre vogais, pode ter quatro valores: /ʃ/, /ks/, /z/ e /s/ (peixe, sexo, exemplo, próximo). O dicionário Houaiss reconhece também um valor fonético adicional, /gz/, existente somente como uma de três possibilidades de pronúncia no prefixo hexa (como em hexaedro).
Letras mudas[editar | editar código-fonte]
H : letra sem valor fonético próprio em português. Aparece nos dígrafos ch, lh e nh, em algumas interjeições, e em começo de palavra para preservar a escrita de origem (em latim era escrito para representar o som /h/, como nas línguas germânicas atuais).
Irregularidades dialetais[editar | editar código-fonte]
As irregularidades seguintes ocorrem na pronúncia de algumas regiões, mas não de outras.
Homofonias[editar | editar código-fonte]
B vs. V : no norte de Portugal e na Galiza, b e v são ambos pronunciados como o b no restante do mundo lusófono, tornando boa e voa homófonos.
E vs. I, O vs. U : em posição átona, e pode ser pronunciado como i1 , e o, como u2 , tornando júri homófono de jure (exceto em partes do Sul do Brasil). A ocorrência desse fenómeno fora de fim de palavra (tornando cumprimento homófono de comprimento) é um traço frequentemente associado ao português europeu, mas também ocorre em muitos dialetos brasileiros3 , embora em menor escala.
L vs. U : em quase todo o Brasil, l em fim de sílaba
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