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Orgulho E Preconceito

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Por:   •  3/11/2013  •  10.983 Palavras (44 Páginas)  •  462 Visualizações

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É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna necessita de uma esposa.

Por muito pouco que se conheçam os sentimentos ou modo de pensar de tal homem ao entrar pela primeira vez numa vizinhança, esta verdade encontra-se de tal modo enraizada nos espíritos das famílias circundantes que ele é logo considerado como propriedade legítima desta ou daquela de suas filhas.

- Meu caro Sr. Bennet - disse-lhe sua mulher um dia - sabe que Netherfield Park foi finalmente alugado?

O Sr. Bennet respondeu-lhe que não sabia.

- É como lhe digo - tornou ela - pois a Sra. Long ainda há pouco aqui esteve e contou-me tudo.

O Sr. Bennet não deu qualquer resposta.

- Não lhe interessa saber quem o alugou? - exclamou a mulher, impaciente.

- A senhora pretende participar-mo, e eu não me oponho a ouvi-la.

Como convite, era mais que suficiente.

- Pois saiba, meu caro, que, pelo que a Sr.a Long me disse, Netherfield foi alugado por um jovem de grande fortuna do Norte de Inglaterra. Chegou na segunda-feira, numa carruagem puxada por quatro cavalos, para visitar o local, e ficou tão encantado que desde logo aceitou as condições do Sr. Morris. Vem ocupar a casa ainda antes do dia de São Miguel e alguns dos seus criados deverão chegar já no fim da próxima semana.

- Como se chama ele?

- Bingley.

- É casado ou solteiro?

- Oh! Solteiro, naturalmente, meu caro! Um homem solteiro e de grande fortuna, com rendimentos no valor de quatro ou cinco mil libras anuais. Que maravilhoso acontecimento para as nossas filhas!

- Como assim? Que têm elas a ver com isso?

- Meu caro Sr. Bennet - retorquiu sua mulher -, que maçador que o senhor é! Sabe perfeitamente que encaro a possibilidade de ele vir a casar com uma delas.

- É essa a intenção dele ao vir instalar-se para aqui?

- Intenção! Que disparate é esse que está a dizer! Porém, é muito natural que ele se apaixone por uma delas, e exatamente por isso o senhor deve ir visitá-lo logo que ele chegue.

- Não vejo razão para isso. Podem perfeitamente ir a senhora e as pequenas, ou envia-las sozinhas, o que talvez fosse preferível, pois, uma vez que a senhora é tão bonita como qualquer delas, o Sr. Bingley poderia escolhe-la a si como a flor do grupo.

- Meu caro, o senhor lisonjeia-me. Fui, de fato, bonita nos meus tempos, mas não pretendo ser hoje em dia nada de extraordinário. Quando uma mulher se vê mãe de cinco filhas crescidas, ela tem, necessariamente, de deixar de pensar na sua própria beleza.

- Em tais casos, é raro uma mulher ter alguma beleza em que pensar.

- Não obstante, meu caro, o senhor tem de ir visitar o Sr. Bingley mal este chegue ao bairro.

- É coisa que não lhe garanto, desde já a previno.

- Considere ao menos a sorte de suas filhas. Pense só que bela colocação não seria para uma delas. Sir William e Lady Lucas estão resolvidos a ir dar-lhes as boas-vindas, e unicamente por esta razão, pois, como sabe, não é seu costume visitarem quaisquer recém-chegados. O senhor não pode deixar de ir, pois ser-nos-á impossível visitá-lo sem a sua ida prévia.

- Sem dúvida que exagera nos seus escrúpulos. Estou persuadido de que o Sr. Bingley terá todo o prazer em recebe-la; e vou aproveitar o ensejo para lhe enviar, por seu intermédio, um bilhetinho em que o asseguro do meu pleno consentimento quanto ao seu casamento com aquela das minhas filhas que mais lhe agradar; não posso, no entanto, deixar de incluir uma palavrinha em favor da minha pequena Lizzy.

- Espero bem que não faça tal coisa. Lizzy não é melhor que as outras. Não é nem mais bonita que Jane, nem tão alegre como Lydia, apesar de o senhor lhe dar sempre a preferência.

- Nenhuma delas é especialmente dotada - replicou ele. - São todas umas tontas e ignorantes, como a maioria das raparigas, de resto; Lizzy, no entanto, tem uma vivacidade que as irmãs não têm.

- Sr. Bennet, como pode insultar assim as suas filhas? O senhor tem prazer em irritar-me. Não tem qualquer compaixão pelos meus pobres nervos.

- Está redondamente enganada, minha querida. Tenho o maior respeito pelos seus nervos. São meus velhos amigos. É com consideração que a ouço mencioná-los de há vinte anos a esta parte, pelo menos.

- Ah! O senhor não sabe o que eu sofro.

- Mas espero que se restabeleça e viva o suficiente para ver chegarem muitos jovens de quatro mil libras anuais aqui à vizinhança.

- De nada nos serviria nem a chegada de vinte deles, uma vez que o senhor se recusa a visitá-los.

- Pode ter a certeza, minha querida, que, quando eles forem em número de vinte, os visitarei a todos.

O Sr. Bennet era um misto tão extraordinário de petulância, sarcasmo, reserva e capricho que a experiência de vinte e três anos não bastara ainda para a mulher compreender o seu carácter. Por seu lado, a mentalidade dela era bem menos difícil de revelar. Tratava-se de uma mulher de inteligência medíocre, cultura rudimentar e temperamento incerto. Quando irritada, procurava refúgio nos nervos. A principal ocupação da sua vida era casar as filhas e o seu passatempo as visitas e os mexericosÉ uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna necessita de uma esposa.

Por muito pouco que se conheçam os sentimentos ou modo de pensar de tal homem ao entrar pela primeira vez numa vizinhança, esta verdade encontra-se de tal modo enraizada nos espíritos das famílias circundantes que ele é logo considerado como propriedade legítima desta ou daquela de suas filhas.

- Meu caro Sr. Bennet - disse-lhe sua mulher um dia - sabe que Netherfield Park foi finalmente alugado?

O Sr. Bennet respondeu-lhe que não sabia.

- É como lhe digo - tornou ela - pois a Sra. Long ainda há pouco aqui esteve e contou-me tudo.

O Sr. Bennet não deu qualquer resposta.

- Não lhe interessa saber quem o alugou? - exclamou a mulher, impaciente.

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