Pedagogia

José Carlos Libâneo (2001), a introdução de seu texto Natureza e identidade da Pedagogia. O que é a Pedagogia, quem é o pedagogo?, fala sobre o que é a Pedagogia. Ele expõe a informação de que, para muitos, Pedagogia é praticamente sinônimo de ensino (maneira de ensinar). Nessa introdução, ele menciona a ideia do senso comum segundo a qual a Pedagogia estaria direcionada apenas e exclusivamente ao ensino.

Conforme o autor, a Pedagogia:

[...] é ensino, ou melhor, o modo de ensinar. Uma pessoa estuda

pedagogia para ensinar crianças. O pedagógico seria o metodológico, o modo de fazer, o modo de ensinar a matéria. Trabalho pedagógico seria o trabalho de ensinar, de modo que o termo pedagogia estaria associa do exclusivamente a ensino. Há, de fato, uma tradição na história da formação de professores no Brasil, segundo a qual pedagogo é alguém que ensina algo. Essa tradição teria se firmado no início da década de 30, com a influência tácita dos chamados pioneiros da educação nova [...] (LIBÂNEO, 2001, p. 05 e 06).

Libâneo mostra que o entendimento de que Pedagogia era um curso exclusivamente destinado a formar professores das séries iniciais da educação básica se firmou com a influência dos “pioneiros da educação nova”. Ele explica esse raciocínio: com base da palavra Pedagogia, na qual “peda” origina-se de “paidós” (criança), então, Pedagogia seria o ensino para crianças.

Contudo, de acordo com o autor, “a ideia de conceber o curso de Pedagogia como formação de professores, a meu ver, é muito simplista e reducionista, é, digamos, uma ideia de senso comum”. (LIBÂNEO, 2001, p. 06).

Por isso, o autor faz a seguinte afirmação a respeito do curso de Pedagogia:

A Pedagogia se ocupa, de fato, com a formação escolar de crianças, com processos educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas, antes disso, ela tem um significado bem mais amplo, bem mais globalizante. Ela é um campo de conhecimentos sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. O didata alemão SCHIMIED-KOWARZIK (1983) chama a Pedagogia de ciência da e para a educação, portanto é a teoria e a prática da educação. Ela tem um caráter ao mesmo tempo explicativo, praxiológico e normativo da realidade educativa, pois investiga teoricamente o fenômeno educativo, formula orientações para a prática a partir da própria ação prática e propõe princípios e normas relacionados aos fins e meios da educação. (LIBÂNEO, 2001, p. 05 e 06).

Como visto, Libâneo defende a ideia de que a Pedagogia tem mesmo a função de se ocupar com o ensino destinado às crianças; contudo, ela mostra que o termo, antes de tudo, tem um significado mais “amplo” e “globalizante”. O autor fala que a Pedagogia é uma ciência (“um campo de conhecimento”) que tem por base todo o processo educativo, envolvendo desde as questões históricas até as normas para as ações educativas.

Sobre isso, Libâneo explica que a Pedagogia tem, ao mesmo tempo, o caráter explicativo, praxiológico e normativo. Explica-se: o caráter explicativo faz referência a Pedagogia observar e investigar teoricamente as questões educacionais; praxiológico, pois tem a função de criar orientações para a prática educativa por meio da própria prática e, por último, normativo porque propõe normas e orientações que regem a prática da educação.

Libâneo mostra que a Pedagogia não está restrita às ações da sala de aula. Pois, a educação pode ocorrer em vários lugares, pois há várias formas de educação: “na família, no trabalho, na rua, na fábrica, nos meios de comunicação, na política, na escola” (LIBÂNEO, 2001, p. 06). Por isso, entendo que a Pedagogia pode variar de acordo com a modalidade da educação, percebe-se que, na sequência pode-se haver a pedagogia, familiar, pedagogia sindical e, por fim, a pedagogia escolar – essa se restringiria aos processos de educação que ocorrem dentro da escola.

Assim, esclarecendo sobre as vários modalidades de educação e de Pedagogia, Libâneo salienta que se deve entender a Pedagogia como uma prática cultural (“forma de trabalho cultural”) repleta de intencionalidade: “É esse caráter de mediação cultural que explica as várias educações, suas modalidades e instituições, entre elas a educação escolar”. (LIBÂNEO, 2001, p. 08)

O autor prossegue e afirma que há na, Pedagogia, questões sociopolíticas. Pois, de acordo com ele, se a educação é uma prática social que precisa transformar as relações de uma sociedade antagônica (onde um pode ter interesse de exploração sobre o outro), ela deverá ser crítica: transformar as relações dessa sociedade antagônica com direções e intencionalidades.

Sobre as afirmações anteriores e sobre a o caráter intencional da educação, LIbâneo explica: “Há, pois, duas características fundamentais do ato educativo intencional: primeiro, a de ser uma atividade humana intencional; segundo, a de ser uma prática social.” (LIBÂNEO, 2001, p. 09) O fato de ser uma atividade humana intencional se refere a constatação de que há na educação uma relação de influência; assim, haverá sempre uma intencionalidade educativa, que, de acordo com Libâneo, gera escolhas, valores e compromissos éticos.

Sobre a segunda característica, segundo a qual a educação é uma prática social, extrai-se que a educação está repleta de intenções sociais, ou seja, a educação está subordinada aos interesses da sociedade em questão, sejam eles econômicos, sociais, políticos ou ideológicos.

Por fim, Libâneo diferencia as ações pedagógicas das ações didáticas, e essa definição está totalmente relacionada às duas características da educação mencionadas no parágrafo anterior. Ele diz que pedagógico e didático estão “inter-relacionados”, contudo, não são idênticos.

As ações didáticas se referem “especificamente à teoria e prática do ensino e aprendizagem” (LIBÂNEO, 2001, p. 09). Por outro lado, as ações pedagógicas são repletas de intencionalidades e direcionamento (direção pedagógica). Ou seja, submeter o conteúdo à intenção pedagógica do docente.