A Descolonização e Pedagogia da Solidariedade
Por: Rosangela Rocha • 26/6/2022 • Pesquisas Acadêmicas • 1.830 Palavras (8 Páginas) • 105 Visualizações
Descolonização e pedagogia da solidariedade
O conceito de solidariedade é frequentemente evocado nos projetos de descolonização. Mais recentemente, no entanto, o fracasso em construir relacionamentos solidários que envolvam seriamente as demandas colocadas pela descolonização, provocou ceticismo e suspeita quanto à viabilidade da solidariedade. Uma consideração da genealogia, bem como dos múltiplos usos do conceito de solidariedade, revela algumas das maneiras pelas quais o conceito reinscreve a lógica colonial e opera para obscurecer a cumplicidade e a continuação da colonização. Ao mesmo tempo, é possível articular um conjunto de parâmetros para relações solidárias, através dos quais se constrói imaginativamente novas maneiras de entrar em relações com os outros. De fato, quando informada pelas falhas de respostas, como foram o multiculturalismo e o cosmopolitismo ao problema da diferença humana, a solidariedade continua sendo uma possibilidade importante. Este artigo propõe três meios para uma pedagogia da solidariedade comprometida com a descolonização. Defende as possibilidades de solidariedade relacional, transitiva e criativa como estratégia para reformular não apenas as relações humanas, mas também a própria noção do que significa ser humano, o que é crucial para a descolonização.
Descolonização: Processo pelo quão a colônia adquire sua independência. Atitudes, projetos, objetivos e esforços empregados na desconexão do projeto eurocêntrico de modernidade, livrar-se da influência da supremacia e a ordem heteropatriarcal. Termos frequentes no artigo: Colonização x descolonização
Termos que chamaram minha atenção: multiculturalismo, solidariedade, colonização.
Multiculturalismo: o conceito de multiculturalismo evoluiu em resposta às demandas do movimento dos Direitos Civis e aos desafios colocados pela persistência do racismo. No Canadá o multiculturalismo está inscrito na política federal e tornou-se uma força importante nos discursos educacionais, na tentativa de lidar com o problema de como educar uma população cada vez mais diversa. Esta inclusão é discutível, pois a divisão entre cultura/etnia/raça não é perfeitamente delimitada. As abordagens multiculturais críticas reconhecem, “que a própria escola é um local para a produção da diferença e não apenas um ponto de recepção”, onde várias culturas são colocadas em contato.
O AUTOR Rubén A. Gaztambide-Fernandéz inicia seu artigo fazendo uma introdução a respeito da educação colonizadora e as mudanças necessárias para trazer a solidariedade em pauta. Oferece “uma visão para uma pedagogia da solidariedade que possa começar a apontar na direção de novas possibilidades de uma educação comprometida com a descolonização e a práxis antiopressiva”.
“a solidariedade raramente é teorizada e sua genealogia, como um conceito que evoluiu dentro do contexto da construção das nações europeias, amplamente ignorada”.
“...o ressurgimento indígena e o advento da governança indígena, as (re) articulações em evolução do Movimento (des)Ocupar6 e novas alianças diaspóricas e formas de solidariedade econômica, estão apontando possibilidades emergentes para recuperar e redefinir os direitos humanos. Esses movimentos e mudanças complexos e contraditórios estão ligados a um nó causal complexo, com maior contato entre povos díspares; às vezes em conflito e outras, em interação colaborativa, já que vivemos em um mundo de encontros intensificados com a diferença. Deslocamento, movimento, violência, bem como novos modos de se relacionar com outras pessoas caracterizam esses encontros. Neste contexto, enfrentamos tanto o desafio quanto a oportunidade de repensar ativamente os modos de interação humana e reformular a diferença que a diferença faz.
Cita bastante a cultura indígena.
Educadores são chamados a desempenhar um papel central na construção das condições para um tipo diferente de encontro, um encontro que tanto se opõe à colonização em andamento quanto busca curar as devastações sociais, culturais e espirituais da história colonial. Essa chamada exige o abandono das lógicas tradicionais da educação formal que definiram projetos educacionais nos últimos dois séculos.
Solidariedade: o conceito de solidariedade recebeu pouca atenção teórica na literatura educacional. E isso parece notável, dada a frequência com que o conceito é usado, principalmente nas literaturas discutidas acima, como um aspecto importante de qualquer resposta educacional às condições de exploração e colonização.
“parece confundir solidariedade com empatia, sem qualquer teorização sobre o que implica a solidariedade, de onde vem, como evolui ou porque importa.”
“solidariedade sempre implica alguma forma de obrigação moral positiva”
O mais relevante para os projetos de descolonização é uma concepção de solidariedade que depende de diferenças radicais e que insiste em relações de interdependência incomensurável (sem medidas)
a colonização e outras dinâmicas de opressão também operam, apontando que a solidariedade sempre opera em tensão com as lógicas de dominação.
As principais religiões do mundo preconizam a ajuda para os que são vistos como desfavorecidos. Caracterizar a solidariedade é desafiador. Implica em dever/obrigação com o outro.
A pedagogia da solidariedade articulada aqui carrega um compromisso, sem desculpas, com objetivos antirracistas e descolonizadores. “O currículo, como o cosmopolitismo, é direcionado para o eu; trata-se do que o indivíduo deve saber, ser capaz de fazer ou compreender as experiências individuais e estimular uma orientação individual em relação à diferença. Em vez disso, a pedagogia é direcionada para o relacional e destaca o processo pelo qual somos feitos pelos outros através da diferença e para ela.”
“uma pedagogia comprometida com a descolonização e o antirracismo está ligada ao problema ético de aprender a explicar de maneira imaginativa as formas de vida que ela deixa em ruínas”
O autor oferece 3 modos de pedagogia da solidariedade:
Solidariedade relacional: social. Pensar na pedagogia da solidariedade como relacional é reconhecer a copresença, tomando como ponto de partida que sujeitos na sua individualidade não entram em relacionamentos, mas em vez disso são feitos nos e através dos relacionamentos. “indivíduos não existem e não poderiam existir fora da comunidade ou da terra. Nosso relacionamento passado, presente e futuro define quem somos e determinamos quais papéis desempenhamos, bem como responsabilidades que temos para com a comunidade e a terra que a sustenta. Da mesma forma, quem somos e o que fazemos como indivíduos afeta esse amplo senso de comunidade”. (Amadahy e Lawrence,2009)
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