ABSENTEÍSMO E A GESTÃO HOSPITALAR
Trabalho Escolar: ABSENTEÍSMO E A GESTÃO HOSPITALAR. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 15/10/2014 • 4.171 Palavras (17 Páginas) • 435 Visualizações
ABSENTEÍSMO E A GESTÃO HOSPITALAR
Alexandre Moraes Ramos Ana Maria Wisintainer Ramos
Universidade do Vale do Itajai - Univali
RESUMO
O presente trabalho de pesquisa apresenta um estudo de caso sobre o fenômeno absenteísmo no
decorrer do ano de 2006 na Clínica Médica II (CMII) do Hospital Universitário da Universidade
Federal de Santa Catarina (HU-UFSC). O absenteísmo não é um problema de análise simples. Suas
causas estão ligadas a múltiplos fatores, tornando-o complexo e de difícil gerenciamento. A partir
de uma pesquisa documental na base de informações e registros dos prontuários médicos do HUUFSC,
realizou-se uma análise quantitativa, onde foram categorizados os afastamentos e calculados
os índices de absenteísmo por atividade profissional da equipe de enfermagem. A fim de identificar
as possíveis causas do fenômeno, foram estabelecidas correlações por faixa-etária, vínculo
empregatício, natureza do contrato de serviço e gênero. Como resultado, constatou-se que o índice
de absenteísmo é de 7,7% nesta unidade hospitalar o que representa um número significativo, e que
tanto os processos de gestão quanto á base de informações, precisam ser revistos.
Palavras-Chave: Absenteísmo. Hospital Universitário. Gestão de Pessoas.
ABSTRACT
The present research paper presents a case study on absenteeism phenomenon at the Medical
Center II (CMII) of the School Hospital of the Federal University of Santa Catarina (HU-UFSC)
during the year of 2006. The absenteeism is not a problem simple to be analyzed. Its causes are
related to multiple factors, becoming complex and difficult to be managed. From a document
research on the information database and on patients´ records of the HU-UFSC, a quantitative
analysis was carried out, where the absences were categorized and the rates of absenteeism for each
professional activity in the nursing team were calculated. In order to identify the possible causes of
the phenomenon, correlations by age group, employment contract, nature of the service contract,
and gender were established. The result showed that the rate of absenteeism was of 7.7% in this
hospital unit, which represents a significant number, and that both management processes and
information databases need to be reviewed.
Keywords: Absenteeism. University Hospital. Staff Management
1 INTRODUÇÃO
No contexto hospitalar, o fenômeno do absenteísmo que atinge os profissionais da
enfermagem vem preocupando, uma vez que faltas freqüentes ao trabalho repercutem no
quantitativo de recursos humanos, refletindo na qualidade da assistência prestada aos
usuários. O absenteísmo constitui-se variável relevante quando se trata de dimensionar
quadro de pessoal para os serviços como o caso dos plantões. Além de todo o transtorno
que causa na equipe de trabalho, essa situação, gera descontentamento na equipe,
decorrente da sobrecarga das tarefas para os membros assíduos.
Submetidos a desgastantes tarefas e cada vez mais exigidos em seu potencial, os
profissionais de enfermagem, além de lidar com dramas familiares e com a morte
constantemente, estão sempre superando suas atribuições institucionais, onde
envolvimento, com a situação alheia, torna-se quase sempre, uma situação inevitável.
Depressão, esgotamento físico e mental, deficiências no sistema imunológico são algumas
enfermidades comuns da qual estão sujeitos estes profissionais. Na luta pela sobrevivência,
assumem dupla jornada de trabalho. A manutenção de dois empregos, por outro lado, acaba
induzindo o profissional a ausentar-se com maior freqüência ao trabalho.
Entretanto, não há registros recentes de pesquisas sobre o fenômeno do absenteísmo, junto
aos profissionais de enfermagem do Hospital Universitário Prof. Polydoro Ernani São
Thiago da Universidade Federal de Santa Catarina. (HU-UFSC). È sabido que os
profissionais de enfermagem constituem grupo que se destaca por suas características
relacionadas a gênero, hierarquia e sobrecarga, tanto física como emocional. Este grupo de
profissionais, no contexto do HU-UFSC, carece de investigações adequadas, já que mal se
conhece o perfil de afastamento do trabalho destes profissionais.
Segundo Bulhões (1998), o absenteísmo pode refletir tanto as condições de saúde do
trabalhador, quanto às condições de vida e trabalho, as quais devem ser analisadas e
prevenidas. Para Reis (1986) e Robazzi et al (1990), o absenteísmo é um fenômeno que
afeta diretamente a qualidade dos serviços de enfermagem prestados pelos estabelecimentos
assistenciais de saúde.
Sendo assim, o fenômeno do absenteísmo pode comprometer a certificação de Acreditação
Hospitalar. Este certificado é um dos objetivos de qualquer estabelecimento assistencial de
saúde, consistindo em um sistema de avaliação de qualidade que obedecendo a padrões
específicos de desempenho, visam reduzir os riscos para pacientes e profissionais e
aumentar as chances de sucesso.
A Acreditação Hospitalar é a outorga de um certificado de avaliação que é obtido a partir
de um processo de avaliação externa, por meio do qual uma organização, em geral nãogovernamental,
avalia periodicamente as instituições de saúde para determinar se as
mesmas atendem a um conjunto de padrões concebidos para melhorar a qualidade do
cuidado ao paciente.
No contexto do HU-UFSC, em seu Planejamento Estratégico, denominado Plano 2012, que
é em síntese um plano norteador a excelência das práticas de gestão do hospital, no âmbito
da gestão Institucional, foi definido como questão estratégica à implantação do processo de
certificação de acreditação.
Entretanto, o Plano 2012 do HU-UFSC reconhece que a não identificação dos fatores que
geram o aumento do absenteísmo no hospital é um dos pontos fracos da instituição, que
impedem ou dificultam o cumprimento de sua Missão. Conseqüentemente, para obter o
certificado de acreditação, o HU-UFSC terá que gerenciar este fenômeno.
Especificamente em relação ao Departamento de Enfermagem da HU-UFSC, seu regimento
prevê que os serviços e núcleos de enfermagem executem e avaliem os procedimentos
relacionados com o absenteísmo, assiduidade, pontualidade de sua equipe
Alinhado ao Plano 2012 e ao regimento do Departamento de Enfermagem do HU-UFSC,
este trabalho se justifica e assume uma relevância à medida que contribui para a melhoria
da gestão hospitalar e na prestação dos serviços prestados à comunidade.
Ante ao exposto, este trabalho apresenta um diagnóstico na Clínica Médica II (CMII) do
HU-UFSC para identificar as causas do fenômeno absenteísmo que provocaram o
afastamento do ambiente de trabalho, da equipe de enfermagem, no decorrer do ano de
2006. Especificamente este estudo, se propõe a identificar políticas de gestão do fenômeno
do absenteísmo no HU-UFSC, identificar a base de informações sobre o fenômeno
absenteísmo, disponível para a gestão de pessoas no HU-UFSC e caracterizar os
afastamentos da equipe de enfermagem da Clínica Médica II do referido hospital, com base
no cálculo do índice de absenteísmo .
Vale ressaltar que este trabalho evidencia o desenvolvimento de um diagnóstico, apenas da
equipe de enfermagem na Clínica Médica II do HU-UFSC: enfermeiros; técnicos de
enfermagem; auxiliares de enfermagem; e auxiliares de saúde.
A metodologia adotada e os conceitos utilizados prevêem o desenvolvimento de um
diagnóstico preliminar. Por se tratar de um estudo focado, os resultados obtidos necessitam
de um estudo mais elaborado para realmente se definir políticas mais amplas de gestão que
possam ser aplicadas a todo o Departamento de Enfermagem, bem como aos demais setores
do HU-UFSC. Este trabalho não tem como objetivo final ser uma das etapas do processo
de certificação de acreditação do HU-UFSC. Entretanto pode auxiliar, como um referencial,
o planejamento futuro das ações, com vista a tal certificação.
2 ABSENTEÍSMO
O estudo do fenômeno absenteísmo em uma instituição assistencial de saúde requer
pressupostos teóricos de natureza distintas e complementares que vão desde os elementos
que compõem o próprio fenômeno até disciplinas como gestão hospitalar, de pessoas e
estratégica. Para o termo absenteísmo existem variadas abordagens e definições que
aparecem na literatura: Chiavenato (1997), Quick e Lapertosa (1982), Ferreira (1986),
Magalhães et al (1995), Jorge (1995), Behrend e Pacock (1976), Gaidzinski (1998),
Sobrinho (2002) e Couto (1987).
Segundo Maltez (2003), o termo absenteísmo é uma palavra de origem francesa,
absentéisme, significa pessoa que falta ao trabalho, ou ainda, ausência no serviço por
inúmeros motivos, propositais ou por circunstâncias alheias à vontade do trabalhador.
Entretanto, encontra-se na literatura, muitas vezes o emprego da palavra absentismo, que
vem do latim absens, ausente, de ab + esse. Diz-se daquele que não está no local, onde,
pela sua função, devia estar. Neste sentido, dizemos, hoje, que é absentista o que falta a
uma obrigação. Diz-se também daqueles que se ausentam, que não comparecem ao
exercício de uma função pública a que estão obrigados.
Em suma, o termo absenteísmo ou absentismo são expressões utilizadas para designar a
falta do empregado ao trabalho. Para alguns autores a aplicação é mais restrita, onde o
absenteísmo caracteriza-se apenas pelas ausências não previstas, devidas às faltas, às
licenças e às suspensões (GADZINSKI,1998). Entretanto, para outros (BULHÕES, 2003),
envolve todas as causas de afastamento: doença, acidentes licenças, formalidades judiciais
e até cursos fora da empresa, excetuando-se greves, cursos dentro da empresa, repouso
semanal ou compensado, férias e feriados. Sobrinho (2002) tem uma visão mais ampla
ainda: ausência do trabalho por qualquer razão, desde doenças, direitos legais, fatores
sociais e culturais e acidentes de trabalho.
Na literatura, observam-se vários trabalhos focados no absenteísmo, em estabelecimentos
assistenciais de saúde. Pode-se destacar:
Reis et al (2003) analisam os afastamentos de curta duração de profissionais de
enfermagem de um hospital universitário. O trabalho aborda o estudo de um evento
recorrente, o afastamento do trabalho que envolve mesmos indivíduos, por determinação do
risco relativo. Silva e Marziale (2000) identificam os índices de absenteísmo-doença entre
os trabalhadores de enfermagem do hospital universitário, foi realizado um levantamento
das faltas por licença-saúde registradas durante doze meses e calculado o índice de
freqüência e a porcentagem de tempo perdido.
Guimarães (2005) estuda o absenteísmo entre os servidores civis de um hospital militar.
Este é um estudo descritivo realizado no Hospital Geral de Brasília, com o objetivo de
analisar o absenteísmo-doença entre os servidores civis daquele hospital durante o ano de
2003, através do levantamento das licenças médicas registradas nos prontuários dos
servidores civis do Serviço de Pessoal Civil do HgeB. Barbosa e Soler (2003) descrevem os
afastamentos entre trabalhadores de enfermagem de um hospital geral de ensino, da cidade
de São José do Rio Preto (SP), registrados no Centro de Atendimento ao Trabalhador
(CEAT) no ano de 1999. Trata-se de uma investigação epidemiológica, censitária, por meio
de análise retrospectiva de um hospital de ensino.
Nascimento (2003) trata de um estudo retrospectivo, exploratório e descritivo, com
abordagem quantitativa cujos objetivos foram: mensurar o absenteísmo dos trabalhadores
de enfermagem em uma Unidade Básica e Distrital de Saúde (UBDS) de um município de
grande porte no interior paulista, no período de agosto de 1998 a julho de 2002; descrever a
distribuição dos tipos de ausências não previstas desses trabalhadores.
Prado e Chawla (2006) apresentam a redução de níveis altos de absentismo entre
profissionais de saúde, onde era um os objetivos das reformas aplicadas para melhorar
desempenho de hospital público, durante os anos noventa na Costa Rica.
O estudo do fenômeno do absenteísmo em estabelecimentos assistenciais de saúde tem
merecido esforços, visto que pode afetar diretamente a qualidade dos serviços prestados e
implicar sobre a própria vida dos pacientes. Torna-se relevante tratá-lo no contexto da
gestão hospitalar. Em conseqüência, para tanto, faz-se necessário primeiro conhece-lo.
O absenteísmo expressa a percentagem de tempo não trabalhado em decorrência das
ausências, em relação ao volume de atividade esperada ou planejada (Chiavenato, 1997). A
Organização Internacional do Trabalho recomenda a exclusão de férias e folgas para o
cálculo do Índice de Absenteísmo, por serem ausências previstas (Pavani, 2000).
Tendo como base Chiavenato (2004), o absenteísmo, neste trabalho, constitui a soma dos
períodos em que os funcionários encontram-se ausentes do trabalho nas seguintes situações:
doenças efetivamente comprovadas ou não; razões diversas; faltas voluntárias por motivos
pessoais; problemas de transporte; problemas organizacionais e greves. Segundo o Bureau
of National Affairs (BNA), apud Chiavenato (2004), o absenteísmo pode ser calculado a
partir da seguinte fórmula:
Todavia, quando se trata do principal recurso de uma empresa, as pessoas, não basta saber
se estão presentes ou não, se estão alcançando as metas ou não. Muitas vezes tem que se ir
além. Isto significa estar atento aos movimentos do corpo funcional. Não apenas às
palavras e aos números, mas principalmente ao contexto que os cercam.
Pode-se encontrar uma variada gama de problemas que interferem diretamente na qualidade
devida do servidor e, portanto, em seu desempenho e assiduidade. Estes problemas podem
ser de natureza pessoal, biológica, ambiental, social, familiar, financeira, funcional e,
inclusive, estarem relacionadas à própria estrutura organizacional.
3 METODOLOGIA
O absenteísmo não é um problema de análise simples. Suas causas estão ligadas a múltiplos
fatores, tornando-o complexo e de difícil gerenciamento. Portanto, a pesquisa realizada
constitui-se por Pacheco Jr. e Pereira (2005) do Tipo Descritiva onde o processo de
=
Nº de dias de trabalhos
perdidos por ausência no mês
Nº médio de empregados
X
Nº de dias de trabalho no mês
Índice de
absenteísmo * 100
raciocínio em que se parte da premissa de que os fenômenos para serem compreendidos em
suas especificidades devem ser objeto de observação, com subseqüente descrição dos seus
elementos e possíveis relações.
Para tanto, adotou-se a técnica de análise documental, tendo como referência a base de
informações e registros dos prontuários médicos do HU-UFSC. Esta base de informações e
registros foi examinada, onde se procurou encontrar aspectos recorrentes e que pudessem
ser categorizados e quantificados. Além da análise documental, o presente estudo baseou-se
em entrevistas semi-estruturadas, realizadas com a gerência da Divisão Auxiliar de Pessoal
do HU.
Após a análise documental e a partir do método indutivo, fez-se uma análise quantitativa
de forma a identificar as causas que provocaram o absenteísmo na Unidade da Clínica
Médica II do Hospital Universitário, durante o ano de 2006.
A população estudada foi constituída por 36 profissionais da equipe de enfermagem da
Clínica Médica II do HU-UFSC, constituída por 9 enfermeiros; 15 técnicos de
enfermagem; 9 auxiliares de enfermagem e 3 auxiliares de saúde. O tempo de observação
deste estudo compreendeu todo o ano de 2006.
A análise documental baseou-se no Sistema de Administração de Pessoal, nos prontuários
médicos, onde são registrados todos os afastamentos que passam pela perícia médica e no
relatório do Mapa de Atividades da unidade hospitalar. As variáveis selecionadas para
diagnosticar o fenômeno do absenteísmo no HU-UFSC foram categorizadas em 3 grupos:
a) Saúde: licenças para tratamento de saúde.
b) Capacitação: afastamentos para formação, treinamentos e cursos de aperfeiçoamento.
c) Outros: falta injustificada, falta abonada, licença acidente de trabalho, licença gestante,
licença para acompanhamento de doença em família, licença gala, licença nojo, licença
paternidade e suspensão.
A partir desta categorização, aplicou-se a equação proposta por Chiavenato (2004), , onde
foi quantificado o índice de absenteísmo, discriminado por categoria profissional e por
faixa etária. Dada a complexidade do fenômeno, buscou-se outras variáveis para a
identificação de elementos correlacionados: sexo, idade, vínculo empregatício e a jornada
de trabalho.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A unidade da Clínica Médica II do HU-UFSC, em 2006, dispunha de 29 leitos, sendo que
21 eram para homens e 8 para mulheres, tendo como especialidades médicas: hematologia,
neurologia, cardiologia, endocrinologia e clínica médica. Estavam alocados 36
profissionais, onde apenas 8% eram do sexo masculino e 92% eram do sexo feminino.
Destes, 9 enfermeiros; 15 técnicos de enfermagem; 9 auxiliares de enfermagem e 3
auxiliares de saúde.
Quanto à faixa etária, a distribuição se dá conforme Gráfico 1: 17% acima dos 50 anos;
28% entre 40 e 49 anos; 36% dos 30 aos 39 anos; e 19% abaixo dos 30 anos. Em termos de
vínculo empregatício, 50% trabalham apenas no HU-UFSC e 50% apresentam um segundo
vínculo com uma outra instituição. Em relação à natureza do contrato, 14% são prestadores
de serviço. A ampla maioria é de profissionais concursados e regidos pelo estatuto do
servidor público.
Gráfico 1 - Distribuição por Faixa Etária
Fonte: dados secundários
O índice de absenteísmo (IA), calculado por categoria, como pode ser visualizado na
Tabela 1, apresenta o maior valor para os técnicos de enfermagem com 11,1% de ausências,
seguidos pelos auxiliares de saúde (6,1%), enfermeiros (6%) e por fim pelos auxiliares de
enfermagem (4,3%). Por ser o grupo maior com 15 profissionais, os técnicos de
enfermagem responderam por 60% do total de afastamentos na unidade. Isto se deve ao
fato de que constituem 39% da força de trabalho. Conseqüentemente, há uma possibilidade
maior de ausências.
Não há como associar isto à natureza da atividade profissional da categoria, tendo como
base os registros feitos dos afastamentos, pois nestes não se encontra nenhum fator evidente
que possa se caracterizar como conseqüência da atividade profissional.
Do total de afastamentos para licença saúde, apenas 63% são registradas as patologias
associadas. Observa-se que 40% dos afastamentos por motivo de saúde, identificados com
50 a 59 anos
17%
20 a 29 anos
19%
40 a 49 anos
28%
30 a 39 anos
36%
CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde), estão associados a transtornos mentais e comportamentais. Entretanto tal tipo de
análise não é viável, pois a ausência de 37% de registros dos respectivos códigos de CID-
10 , para as licenças de saúde, inviabiliza uma correlação mais específica com faixa etária,
vínculo e principalmente a associação com as atividades desenvolvidas por categoria
profissional.
Tabela 1 - Índice de Absenteísmo por Categoria
Categoria Faltas - Motivos - Dias
Profissional Qtdade Saúde Capacitação Outros Total % IA
Enfermeiros 9 134 5 41 180 19 6,0
Téc Enf 15 550 5 5 560 60 11,1
Aux Enf 9 119 2 8 129 14 4,3
Aux Saúde 3 60 0 1 61 7 6,1
Total 36 863 12 55 930 100 7,7
Fonte: dados secundários
A Tabela 1 não leva em conta os 30 dias de férias de cada trabalhador, por tratar-se de um
afastamento legal que faz parte do planejamento habitual do hospital. O índice total de IA
de 7,7%, para a unidade hospitalar da Clínica Médica II do HU-UFSC, corresponde, na
prática, que na média cada trabalhador, além dos 30 dias de férias, se afastou por mais
aproximadamente 26 dias de trabalho. Ou seja, praticamente, todo mês, além de 3
profissionais em férias, também se tinha, em média, mais 3 funcionários afastados das suas
atividades profissionais por 26 dias cada.
Em relação às licenças de saúde por faixa etária (Tabela 2), identifica-se que os
profissionais, acima dos 50 (cinqüenta) anos, têm um percentual de afastamento de 0,6%
por motivo de saúde, insignificante se comparado com os mais jovens. Do total de 6
profissionais, nesta faixa etária, apenas 1 funcionário se afastou para tratamento de saúde.
Os outros 5 não registraram nenhuma ausência durante o ano de 2006.
Tabela 2 - Índice de Absentismo por Faixa Etária
Faixa Etária Faltas - Motivos - Dias
(anos) Qtdade Saúde Capacitação Outros Total % IA
20 a 29 7 62 3 2 67 7 2,9
30 a 39 13 218 6 52 276 30 6,3
40 a 49 10 571 2 1 574 62 17,1
50 a 59 6 12 1 0 13 1 0,6
Total 36 863 12 55 930 100 7,7
Fonte: dados primários
Um outro fator analisado por Danato (1997) e Robazzi e Marziale (1999), como causa dos
afastamentos, é a dupla jornada de trabalho. Neste caso, também se configurou como um
diferencial. Os profissionais com dupla jornada de trabalho (Tabela 3) apresentam um
índice de IA de 11 % que é bem superior aos 4,4% dos com um único vínculo. Cabe
ressaltar que o fato de a população estudada ser predominantemente de mulheres, que, além
do trabalho profissional, são muitas vezes as responsáveis pelo gerenciamento das tarefas
domésticas e criação dos filhos. Este acúmulo de responsabilidades, com desgastes físico e
mental, deixam as mulheres ainda mais expostas que os homens aos riscos de saúde e esta
situação pode ter diretamente influenciado no elevado número de afastamentos.
Tabela 3 - Índice de Absenteísmo por motivo de saúde em função da jornada de trabalho
Faltas - Motivos - Dias
Jornada de Trabalho Quantidade Saúde Capacitação Outros Total % IA
Apenas com HU 18 219 7 42 268 29 4,4
Mais de 1 18 644 5 13 662 71 11,0
Total 36 863 12 55 930 100 7,7
Fonte: dados primários
A partir dos registros no Mapa de Atividades e nos Prontuários Médicos da equipe de
trabalho da Unidade da Clínica Médica II, os afastamentos foram agrupados por categoria
profissional, conforme apresentado na Tabela 1. As análises que seguem estão mais focadas
nas ausências por motivos de saúde (93%), visto que os afastamentos para capacitação e
outros apresentam somados um pequeno percentual de 1% e 6% respectivamente. Essa
realidade pode ser visualizada no Gráfico 2.
Outros
6%
Capacitação
1%
Saúde
93%
Gráfico 2 - Distribuição por Tipos de Afastamentos
Fonte: dados secundários
Quanto à capacitação, percebe-se que, em 2006, a política de recursos humanos do HUUFSC
fez poucos investimentos na equipe de profissionais desta unidade médica. Dos 36
profissionais, apenas 12 tiveram 1 dia cada para capacitação, sendo que nenhum auxiliar de
saúde foi capacitado neste período.
À população masculina também foi dado um menor enfoque visto que, do universo de 36
profissionais da Clinica Médica II, apenas 3 são homens (8%). E destes, apenas 1 ausentouse
por motivo de saúde, durante 14 dias por lesão e traumatismo, no ano de 2006.
Quanto aos outros motivos, dos 55 dias de afastamentos, observa-se que 41 dias foram para
licenças maternidade, 2 dias para licença nojo e 12 dias para licença de acompanhamento
de doença de filhos. Não houve registro algum de faltas injustificadas.
A equipe de profissionais da Clínica Médica II do HU-UFSC conta com profissionais
contratados como prestadores de serviço, por meio da fundação FAPEU. Ao se analisar o
índice de absenteísmo destes com os servidores permanentes, os prestadores de serviço
tiveram um índice superior de afastamentos de 9,9%.
Tabela 4 - Índice de Absenteísmo por Natureza de Vínculo Empregatício
Vínculo Empregatício Faltas - Motivos - Dias
Tipo Quantidade Saúde Capacitação Outros Total % IA
Permanente 31 699 11 55 765 82 7,4
Prestador de Serviço 5 164 1 0 165 18 9,9
Total 36 863 12 55 930 100 7,7
Fonte: dados primários
Ao se buscar categorizar e quantificar os afastamentos da Clinica Médica II do HU-UFSC,
pode-se observar, durante a pesquisa documental, que as informações sobre afastamentos
dos profissionais são inconsistentes, incompletas, dispersas e mantidas em sistemas
paralelos que muitas vezes não interagem e ainda se contradizem. Em conseqüência, isto
impede um diagnóstico preciso do fenômeno e um gerenciamento eficaz e planejado.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos objetivos propostos e da metodologia adotada, foi possível realizar um
diagnóstico na Clínica Médica II (CMII) do HU-UFSC e caracterizar os afastamentos do
ambiente de trabalho, da equipe de enfermagem, durante o ano de 2006. O índice total de
7,7% de absenteísmo nesta unidade hospitalar se analisado isoladamente não aparenta ser
alto. Entretanto quando observado em dias parados ao longo do ano e principalmente
quando traduzido em profissionais ausentes e, em conseqüência, da necessidade de
recomposição da força de trabalho para se manter os padrões de qualidade requeridos, este
índice se torna expressivo e carece de um estudo mais sistemático e de maior amplitude.
Em uma instituição sem fins lucrativos, prestadora de serviços assistenciais de saúde, como
é o caso do HU-UFSC, o fenômeno do absenteísmo pode afetar diretamente a qualidade
dos serviços prestados e implicar sobre a própria vida dos pacientes. Em função do HUUFSC
ser um órgão público federal, se o índice do absenteísmo for alto e o fenômeno for
freqüente e de longa duração, constituem-se um grande problema para a gestão de pessoas
do hospital, principalmente se a instituição não pode livremente realizar contratações
externas para repor a força de trabalho.
Há necessidade de ajustamentos de horários, realocação de profissionais de outras
unidades, pagamento de horas-extras e em último caso formação de um banco de horas.
Este banco de horas em hipótese alguma pode ser pago em espécie. Ele é compensado em
folgas. Novamente estas folgas irão requerer um novo ajustamento de horários, uma outra
realocação de profissionais e, às vezes, um novo banco de horas. O problema pode tornarse
recursivo e constante. A conseqüência é um desgaste da equipe presente do hospital, uma
perda de produtividade e um possível comprometimento da qualidade dos serviços
prestados.
Este fenômeno é essencialmente um problema de gestão e, neste sentido, é extremamente
importante planejar, monitorar, avaliar e controlar a assiduidade de seus colaboradores. As
causas do absenteísmo precisam ser diagnosticadas. Faz-se necessário dispor de
informações, de natureza distinta, para compreender este fenômeno e gerenciá-lo de forma
adequada.
Entretanto, ao se analisar a base de informações e registros dos afastamentos do HU-UFSC,
não foi possível identificar, com precisão, as causas do fenômeno absenteísmo que
provocaram tais afastamentos. Não foi possível identificar indícios que os justificassem a
partir da atividade laboral ou pela natureza do vínculo empregatício, faixa etária, jornada de
trabalho ou mesmo pela questão do gênero. Com isso fica difícil conhecer e, logo, gerenciar
o fenômeno,
Em se tratando do processo de gestão do absenteísmo, observou-se que não existe uma
política especifica para o fenômeno e oficialmente a identificação da importância do
mesmo. Oficiosamente, o fenômeno é tratado de forma não integrada pelos diversos
setores. Isto impede que se reconheça a grandeza do fenômeno e da mesma forma o
administre com metas estipuladas para reduzi-lo e controlá-lo.
Ante o exposto, o presente trabalho contribuiu para mostrar a relevância do fenômeno na
instituição, reconhecendo-se os limites impostos pelas informações disponíveis. Todavia
não permitiu estabelecer correlações e identificar-se as causas do fenômeno. Faz-se
necessário à realização de um estudo mais amplo, passando-se desde a revisão e integração
da base de informações e conseqüentemente dos processos de gestão de pessoas até mesmo
das praticas laborais na unidade da Clínica Médica II do HU-UFSC.
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