AS DIFICULDADES DO CAMINHO
Por: Raquel50 • 21/6/2018 • Projeto de pesquisa • 1.285 Palavras (6 Páginas) • 199 Visualizações
ALUNO LEITOR- DIFICULDADES DO CAMINHO
- ENTENDER O PROBLEMA
Eu cresci em uma família muito pobre e sem contato nenhum com qualquer tipo de leitura. Entrei para a escola aos sete anos e sempre fiz minhas atividades sem o auxílio de meus pais pois estes não tinham estudo e nem o achavam importante. Minha irmã mais velha que me matriculou na escola. Ela trabalhava de doméstica, tinha contato com pessoas cultas e percebeu a importância do estudo, mesmo sem ter podido concluir sequer o Ginasial, naquela época. Apesar dos esforços de minha irmã o emprego lhe tomava muito tempo, a folga era somente quinzenal e era nesta ocasião que eu era indagada sobre como estava na escola. Eu apenas queria ser igual a ela, ter contato com pessoas “importantes”. Acredito que a herança genética me ajudou a nunca repetir o ano, pois apesar da pobreza material, a educação recebida pelos meus pais e irmãos sempre deixou claro valores como honestidade e respeito.
No meu tempo de colégio, sempre procurei fazer as atividades corretamente. Quando eu recebia um novo livro de Comunicação e Expressão (não do governo, e sim livros usados por alunos das séries mais avançadas e que minha irmã pegava por empréstimo e apagava todas as respostas dos exercícios) lia em casa todos os textos. Ficava só aguardando o dia em que eles seriam pedidos em sala de aula. Lembro-me de várias vezes querer ler no lugar dos meus colegas, pois percebia que eles liam com mais dificuldade que eu. Parece incrível, as professoras sempre pediam para que aqueles alunos lessem. No ginásio eu tive o prazer de estudar em um colégio que possuía uma biblioteca, e a obrigação de ler vários livros para fins de avaliação. O que para os outros era uma realmente uma obrigação, para mim era um prazer. Eu lia os livros que faziam parte do currículo e ainda ficava horas na biblioteca lendo outros títulos enquanto esperava o horário do trem que me levaria para casa. Fiz carteirinha da biblioteca e sempre levava um livro para casa. Sempre compro livros, para que minha família tenha este contato com a leitura. Hoje tenho em casa vários livros que sequer abri, guardados esperando um “ter tempo” para lê-los. Creio que perdi em algum momento da vida adulta o gosto pela leitura. Tenho tantas atividades a fazer que a leitura, por prazer, acaba ficando de lado. Leio bem menos que lia quando era adolescente.
ATIVIDADE: COLHER DEPOIMENTOS DE ALUNOS DA EJA
- Um senhor, 56 anos, relatou que tem sérios problemas com a leitura. Ao questioná-lo quanto aos motivos que o fez excluir por completo a leitura de sua vida percebi que ficou ligeiramente revoltado com o assunto. Contou-me que quando criança ia para escola porque era obrigado, sempre se metia em confusões e o rendimento escolar era baixo. Naquela época, todas as professoras que teve cobravam a leitura em voz alta. Ele lia muito mal, mas sempre era o primeiro a ser chamado para a árdua tarefa. Os colegas riam dele e, mesmo com a presença da professora, ele se levantava e brigava com os outros meninos. Isto o deixava de castigo, sua mãe tinha que ir à escola e ainda lhe dava uma coça ao chegar em casa. A situação se repetia. Todos sabiam de sua dificuldade, mas não o ensinaram a ler, ou sequer mudaram a forma de realizar a tarefa. Isto o fez repetir a 1ª série várias vezes, e pelos livros, até hoje ele tem aversão.
- Uma jovem de 18 anos me disse que não sabe dizer o que a motivou a ler, mas desde pequena convivia com livros e revistas que eram comprados por seus pais. Eram os bons e velhos contos de fadas. Ela lembra que quando pequena decorava as falas das personagens, seus pais viravam a páginas dos pequenos contos e ela relatava tudo que estava escrito nelas. Foi crescendo no meio dos livros até que um dia pegou emprestado um livro da coleção de Harry Potter. Aquele livro realmente a fez querer muito ler. Fez com que sua mãe lhe comprasse a coleção completa. A mãe achou estranho o tipo de leitura, mas incentivou e comprou-lhe, aos poucos, toda a coleção, conforme ela ia lendo. Anos mais tarde leu vários livros de Dan Brown, entre outros. Hoje é apaixonada por Literatura e História.
- Outra jovem, Karina, aluna da primeira série do ensino médio, relatou que apesar de ser filha de professores, estar sempre rodeadas de livros e ter ouvido na infância todas aquelas histórias de princesas, simplesmente não gostava de ler. Às vezes o fazia, por insistência de sua mãe. Mas sempre deixava o livro de lado, sem concluir a leitura. Certo dia, na igreja onde ensaia canto, conversando com a colega viu os olhos dela brilharem ao relatar a paixão que possui por livros de romances. Karina contou-lhe que não gostava de ler e a colega duvidou que se ela começasse a ler um dos livros de Nicholas Sparks, conseguisse parar. Karina aceitou o desafio e levou emprestado o livro A Última Música. Adorou, não conseguiu para de ler. Agora pede à mãe que compre livros deste autor, pois é o único que a fez ler um livro com vontade.
- Leandro, auxiliar de pedreiro, 26 anos, aluno do 6º ano da EJA, relatou que nunca teve em casa um livro que não fosse os didáticos, que a escola que estudou oferecia. Tem pavor de leitura. Só voltou a estudar porque pretende mudar de emprego. Foi criado com outros cinco irmãos. Nenhum deles completou o primeiro grau. O pai era pedreiro, e bebia todas as tardes após o serviço. A mãe fazia várias faxinas para ajudar a colocar comida dentro de casa, só voltava para casa no final de semana. Os filhos tinham pouca diferença de idade e ficavam sozinhos em casa. Iam à escola quando bem queriam. Nunca a mãe ou o pai se preocuparam cos os estudos deles. Um dia, o pai de Leandro foi chamado à escola para conversar sobre o rendimento dos filhos. Leandro lembra que o pai exalava cheiro de álcool, esbravejava, dizia que era melhor que eles o ajudassem do que ficar na escola aprontando. E que, se fosse chamado novamente, eles levariam uma surra na escola. Leandro e seus irmãos foram aos poucos deixando a escola. Hoje ele diz que só quer aprender as matérias para passar de série. Não gosta de ler, e seu desempenho é muito baixo, mas persiste e diz que vai concluir o Ensino Fundamental. Diz que vai incentivar seu filho, de quatro anos, a estudar e ler muito, pois ele, na sala de aula, tem vergonha de ler pior que os colegas mais novos. Sabe que poderia ser diferente se tivesse tido apoio da família quando criança.
CONCLUSÃO
Posso dizer que de acordo com o que vi e ouvi a relação da família com os livros influencia bastante a formação de leitores. E também que se o professor não souber usar a influência que tem sobre seus alunos, a leitura poderá se tornar um suplício. O professor é sim formador de leitores e precisa ter consciência disso. É preciso cautela ao lidar com alunos que nunca leram por prazer. O medo de ler em público pode afastar para sempre uma criança do livro. Vi ainda que, como a Karina, ter livros e incentivos da família para ler nem sempre são suficientes. No caso dela precisou do relato de uma colega para que entrasse no mundo dos leitores. Enfim, não devemos ter modelos prontos de leitores ou não leitores. Conhecemos atos que podem facilitar ou dificultar a formação de leitores. Devemos utilizar as mais variadas formas para atingirmos a alma do futuro leitor.
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