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AVISO DE CHUVA E DE SECA NA MEMÓRIA DO POVO: O Caso Do Cariri Paraibano

Artigo: AVISO DE CHUVA E DE SECA NA MEMÓRIA DO POVO: O Caso Do Cariri Paraibano. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  9/12/2014  •  3.328 Palavras (14 Páginas)  •  348 Visualizações

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Patrick Moreira Abrantes1, Rodrigo Ferreira de Sousa², Camilla Marques de Lucena², Reinaldo Farias Paiva de Lucena³ e Daniel Duarte Pereira 3

RESUMO - O presente trabalho tem como objetivo resgatar e sistematizar os avisos de chuva e seca de natureza animal, vegetal e fenômenos atmosféricos, que permanecem na memória das pessoas do semiárido e que, em tese, deveriam ser absorvidas pelas gerações subsequentes. Foram realizadas entrevistas com 15 pessoas consideradas detentoras do saber referente à natureza no município de Sumé, estado da Paraíba (Nordeste do Brasil). A entrevista obedeceu a um roteiro determinado com perguntas abertas e fechadas, sendo divididas em perguntas referentes a avisos de animais, plantas e avisos do céu. Foram registradas indicações de chuva e seca por 18 espécies vegetais, 23 de animais, 16 avisos por fenômenos da natureza. Contatou-se por meio deste trabalho que, apesar da acentuada modernização da agricultura, os agricultores desprezaram as informações tecnificadas, e ainda utilizam, de forma corriqueira, os avisos advindos das diversas manifestações naturais, tendo nas mesmas, o principal referencial do calendário de plantio.

Unitermos: Caatinga, Conhecimento Tradicional, Brasil.

ABSTRACT - This study aims to recover and systematize the rain and drought warnings from animal, vegetable and atmospheric phenomena, which are in people’s memory from semi-arid and which, supposedly, should be absorbed by subsequent generations. It has been performed interviews with 15 people considered as knowledge holders when referring to nature in Sumé city, Paraíba state (Northeastern Brazil). The interview has followed a script which was determined by objective and subjective questions, being divided into questions referring to the warnings which come from animals, plants and the sky. It has been registered warnings of rain and drought by 18 vegetable species, 23 animals, 16 warnings by nature phenomena. It has been found through this study that, despite of the dramatic modernization of agriculture, farmers have despised the technical information, and still use, routinely, the warnings which come from several natural manifestations, being them, the main reference of the planting calendar.

Uniterms: Caatinga, traditional knowledge, Brazil.

INTRODUÇÃO

A Microrregião do Cariri Paraibano, composta pelos Cariris Ocidental e Oriental é considerada como o pólo xérico do Brasil. Suas condições de clima, solo e água são as mais difíceis em relação a outras regiões do semiárido brasileiro. Essa região foi ocupada há cerca de 340 anos atrás, e a sua antropização se deu pelo processo de pecuarização, notadamente com o gado bovino.

A princípio, o Cariri era habitado por tribos pertencentes às nações Cariris e Tarairiú, cujos povos, ao modo deles, já utilizavam os recursos existentes chegando, inclusive, a desenvolverem rudimentos de agricultura. Estes povos deviam também ter uma perfeita sincronia com o ambiente de modo que, os fenômenos naturais, tipo seca ou chuvas, não passavam despercebidos sendo muitas vezes antecedidos de “avisos” pelos vegetais, animais e mesmo pelos corpos celestes, sinais estes também evidenciados nas observações feitas nos estudos de Magalhães (1952), Cascudo (1970), Gallegos (1980), Amorozo (1996), Marques (1999), Inojosa (2001), Araújo (2005) e

1 Graduado em Agronomia pelo Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. Areia, Brasil.; 2Graduando(a) em Ciências Biológicas pelo Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. Areia, Brasil.; 3Professor nível Adjunto pelo Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. Areia, Brasil. E-mail para correspondência: reinaldo@cca.ufpb.br

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___________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 05– Número 02 – 2011

Lucena et al. (2005). Segundo Lucena (2005), o processo de buscar indicações metereológicas em sinais ambientais fazem parte do processo adaptativos dos sertanejos as adversidades que a caatinga impõem aos mesmos, por isso, principalmente os mais idosos, ficam atentos a estes sinais para iniciarem suas atividades agrícolas, como o plantio de milho e feijão.

Quando chegaram os colonizadores, muito desta tradição deve ter sido incorporada às crendices, superstições e mitos do novo povo que se formou pelo caldeamento de raças. Assim, como na língua, as manifestações folclóricas e religiosas foram permeadas de inúmeras contribuições trazidas de continentes e nações extremamente diferenciadas. Se o português se baseava no Lunário Perpétuo para prever os anos de bonança e de escassez, já os elementos indígenas e africanos faziam uso do livro da natureza com suas páginas escritas por comportamento de plantas, animais, atmosfera, corpos celestes, etc.

Ainda hoje é possível encontrar no meio rural, pessoas que se valem de uma “climatologia popular” em detrimento dos boletins meteorológicos franqueados ao público pelos meios de comunicação. Estas pessoas parecem confiar mais nos “avisos da natureza” do que nas previsões resultantes de programas e cenários computadorizados, complexos, e de difícil aceitação. Um trabalho recente com essa temática da bioindicação de chuvas e secas foi desenvolvido na região do curimataú paraibano (Lucena et al. 2005), e o presente estudo na região do cariri.

É comum identificar agricultores que “plantam no seco” devido aos avisos de determinadas plantas ou animais, pela observação de “barras” e “sete-estrelos”2, ou mesmo, pela adivinhação realizada no dia de Santa Luzia, de que aquele ano será de bom inverno, com chuvas suficientes para garantirem safras e abundância. A observação de dias santos para prever chuvas vem sendo registrado na literatura (Magalhães 1952; Cascudo 1970).

Evidentemente, que com o processo de “urbanização e modernização” do meio rural as gerações mais novas estão perdendo a identidade com a terra e conseqüentemente não procuram mais no firmamento, nas floradas, nos cantos ou nas migrações dos animais os “avisos” tão preconizados pelos ancestrais. Esse processo de modernização do meio rural tem levado a uma perda do conhecimento tradicional em todos os sentidos, onde os mais jovens não buscam mais o aprendizado lúdico com os mais antigos, perda essa também registrada em outros ecossistemas e outras partes do mundo (Amorozo 1996; Benz et al. 2000; Voeks & Leony 2004)

Perde-se assim, um acervo riquíssimo de informações que, antes de serem estudadas

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