Atividade Prática Supervisionada

O Projeto de Pesquisa e seus Passos

Lúcia Santaela

Toda pesquisa começa pela elaboração de seu projeto. Tudo deve ser planejado, elaborado. O projeto é como uma “radiografia” antecipada da pesquisa. A pesquisa contem os passos dados pela pesquisa. Não se deve fechar para o inesperado, para o novo, para a criatividade.

“Projetar significa, portanto, antever e metodizar as etapas ou fases para a operacionalização de um trabalho” ( Santaella, 2001, p. 151).

O Projeto de Pesquisa precisa ser flexível quando o pesquisador descobrir possíveis e necessárias mudanças em seu objeto. O projeto é uma etapa na pesquisa, ele é um guia para a execução da pesquisa.

1. Questões de um Projeto

a) Escolha de um tema,

b) Coleta de informações preliminares,

c) Delimitação do problema

d) Justificativa

e) Objetivos

f) Levantamento das hipóteses,

g) Referencial teórico

h) Coleta dos dados/análise/interpretação

i) Cronograma.

Perguntas clássicas que um projeto deve enfrentar:

O quê?

Por quê

Para quem?

Onde?

Como?

Com quê?

Quanto tempo?

O que será pesquisado?

Por que a pesquisa é necessária?

Como será pesquisado?

Que recursos humanos, intelectuais, bibliográficos,

Técnicos, instrumentais e financeiros serão mobilizados?

Em que período?

Tema: estudos preliminares, leituras bibliográficas, visitas a locais específicos, discussões com especialistas e colegas, revisão bibliográfica. O tema não é ainda um problema. O problema é a questão fundamental de toda a pesquisa. Ele precisa ser recortado, delimitado, formulado.

Revisão bibliográfica: trabalhos já publicados em relação ao problema que a pesquisa propõe. É nesse momento que a argumentação sobre a relevância do trabalho se constitui. Verificar se já não existe outro pesquisador realizando a mesma pesquisa.

Definição dos objetivos: que fins a pesquisa visa atingir? Quais são os aspectos que o problema envolve e que sua solução resultará no tocante a cada um desses aspectos?

Formulação das hipóteses: são suposições de respostas para o problema proposto. As hipóteses direcionam a pesquisa. É o que a pesquisa comprovará ou não.

Quadro teórico: toda hipótese pressupõe um quadro teórico de referência.

Método: são os procedimentos de raciocínio e analíticos mais amplos. É aqui que surge a necessidade de responder se a pesquisa será teórica ou aplicada, histórica ou tipológica, crítica ou sistêmica, empírica com trabalho de campo ou de laboratório etc.

“Tendo o problema em mente, o pesquisador deve se perguntar:

Como e com que meios poderei resolvê-lo?”“

O método sinaliza o caminho a ser percorrido para comprovar

Sua hipótese

Cronograma: indicação das etapas a serem cumpridas em cada período

Lista bibliográfica preliminar: envolve duas partes, uma já consultada e outra a ser consultada no decorrer da pesquisa.

2 – A Escolha do Tema:

Ele é sempre algo que nos fisga. Ele nasce de um desejo obscuro. A indefinição inicial de um tema é normal. Os estudos preliminares ajudam na definição do tema.

3 – Estudos Preliminares:

Por onde começar? Buscando informações sobre o tema, seja de ordem factual, seja de ordem teórica.... Em que área ou sub-área do conhecimento nosso tema se situa para que possamos determinar os fundamentos teóricos que lhe servem de base....?

Ir para biblioteca ler sobre o assunto: enciclopédias, livros, periódicos, catálogos, teses, dissertações, jornais, vídeos, bancos de dados = levantamento bibliográfico.

Diálogo com especialistas. Panorama de fundo.

3.1 O Pré-Projeto:

“O anteprojeto é assim uma primeira proposta de sistematização para ser testada, modificada e aperfeiçoada....”(Santaella: 2001, p. 161). É o momento de partida onde o pensamento sintetiza tudo ao mesmo tempo.

4 A Elaboração do Projeto:

Pesquisa qualitativa e quantitativa.

4.1 Os Antecedentes:

É o momento em que o pesquisador, já tendo realizado pesquisas anteriores, faz referencia pessoal de seu percurso. Ex. quando o pesquisador pretende desenvolver temas que foram tratados no mestrado.

4.2 A Definição do Problema:

A definição do problema acontece, num primeiro momento, de forma intuitiva. Ele depende dos conhecimentos e da percepção do pesquisador.

Ex. vamos supor que alguém queira fazer uma pesquisa sobre delinqüência juvenil. Esta afirmação ainda é muito vaga. Daí podemos pensar as questões referentes a população e aos crimes cometidos pelos delinqüentes. Se elaborarmos de outra forma: se deseja saber se certos crimes que os delinqüentes cometem são ocasionados pelo efeito do uso de tóxicos, temos aí duas variáveis. Uso de tóxicos (variável independente) ocasiona os crimes (variável dependente). A amplitude do tema já especificou uma pergunta. Temos a passagem do tema ao problema.

Todo problema implica uma indagação central,

uma dificuldade que se quer resolver. Ele é uma interrogação.

Não podemos resolver o problema pela intuição, pelo senso-comum.

4.3 O Estado da Questão:

Também chamada de bibliografia comentada.

“....a revisão bibliográfica significa... seguir a informação como um detetive procura pistas: com imaginação e obstinação. É, aliás, esse aspecto do trabalho, agir como um detetive, que, com freqüência, torna prazerosa a realização da revisão da literatura” ( Santaella, 2001, p. 168).

“ Na ausência de um repertório já formado de leituras, o pesquisador, vi ade regra, se vê perdido em um labirinto de idéias, tendências e posições, sem conseguir, de imediato, dar a elas uma configuração coerente.” (Santaella, 2001, p. 169/170).

“ ....a revisão é, sobretudo, um percurso crítico que deve ter em mira a pergunta que se quer responder”.(Santaella, 2001, p. 171).

4.4 A Apresentação das Justificativas:

A justificativa deve discorrer sobre a importância da pesquisa. Ela aparecerá em seguida da bibliografia comentada.

A bibliografia comentada ao comentar as principais conclusões a que outros autores chegaram e, aos constatar alguma lacuna em sua pesquisa deseja preencher, o pesquisador já está preparando o “terreno” para justificar a importância de sua pesquisa.

A contribuição, ou seja, a justificativa da pesquisa pode ser de ordem científica-teórica ou ampliação do conhecimento teórico já existe, ou preencher lacunas detectadas no conhecimento da área, ajudar na compreensão de conceitos teóricos complexos. A contribuição pode também ser de ordem científico-prática etc.

A contribuição pode ser de ordem social; um conhecimento prático pode intervir numa realidade social.

“Por que a pesquisa é relevante”?

De onde vem sua pertinência?

“Qual é o âmbito ou quais são os âmbitos da contribuição”.

Que ela trará?”

4.5 A Explicitação dos objetivos:

O “objetivo” diz respeito ao fim que se pretende atingir. “Quando se atira uma flecha, mira-se em um algo. Os objetivos da pesquisa se parecem, portanto, com uma flecha na direção de um algo. O que a pesquisa visa alcançar?” ( Santaella, 2001, p. 174).

O objetivo visa o ´problema´ que ele pretende resolver.

Os verbos devem estar no infinitivo: analisar, compreender, identificar e interpretar.

4.6 A Formulação das Hipóteses:

A hipótese está ligada ao problema da pesquisa.

“o problema que o pesquisador circunscreveu, isto é, conseguiu recortar de um fundo temático muito amplo, tema forma de uma indagação, uma interrogação, uma pergunta para a qual, no seu percurso, a pesquisa buscará respostas. Ora, a hipótese é uma resposta antecipada, suposta, provável e provisória que o pesquisador lança e que funcionará como guia para os passos subseqüentes do projeto e do percurso da pesquisa”. (Santaella, 2001, p. 176).

Existe a hipótese fundamental e a secundária. A segunda complementa a primeira. A hipótese é a bússola da pesquisa. Ela prevê uma solução antecipada.

Ex. “ A falta de desenvolvimento de atividade de lazer conduz à intensificação do grau de tensão do indivíduo que vive nas cidades” (Santaella, 2001, p.180).

“ Sem problema bem definido e hipóteses bem elaboradas, não é possível haver pesquisa, seja ....experimental, quantitativa ou qualitativa, teórica ou aplicada” (Santaella, 2001, p.182).

4.7 O quadro teórico de referência:

As pesquisas não-quantitativas devem encontrar seu caminho em um emaranhado de teorias e métodos. A solução de determinados problemas podem ser encontradas por meio do auxílio de teorias. “Opções teóricas só podem nascer das exigências internas que o problema da pesquisa cria” (Santaella, 2001, p.183).

A fundamentação teórica nasce do levantamento bibliográfico. São os pressupostos teóricos que darão forma e interpretações aos problemas. “Só conseguimos fazer uso realmente eficaz dos conceitos teóricos quando eles como que entram em nossa corrente sanguínea com tal intimidade a ponto de não sentirmos mais sua presença como estranha” (Santaella: 2001, p. 184).

4.8 A seleção do Método:

Definir o tipo de pesquisa a ser realizado, pois disto dependerão as regras metodológicas. É preciso definir se a pesquisa é empírica, com trabalho de campo ou de laboratório, se é teórica, histórica, tipológica ou se é híbrida. É importante definir se o ângulo da abordagem da pesquisa é econômico, político, social, cultural, histórico, técnico etc.

Mesmo uma pesquisa teórica é preciso fazer uma coleta de dados: idéias, conceitos, categorias.

4.9 A equipe de Pesquisa

Neste momento cabe nomear os responsáveis pela pesquisa, desenhar o perfil de cada um indicando a tarefa que cada membro irá desenvolver.

4.10 O Cronograma

Planejamento do tempo. Cada etapa deve ser pensada, prevendo o tempo que cada etapa deve desenvolver. .

4.11 Os recursos necessários.

Recursos materiais, infraestruturais e financeiros.

4.12 A Bibliografia

Revisão bibliográfica. No projeto de pesquisa deverá constar a bibliografia já utilizada e a bibliografia que será utilizada.

Bibliografia

SANTAELLA, Lúcia. Comunicação e pesquisa: projetos para mestrado e doutorado. São Paulo: Hacker editoras, 2001.