CARACTERISTICA DA EDUCAÇÃO ANTIGA O MUNDO ANTIGO NA PESQUISA HISTÓRICA COMTEMPORANÊA
Por: Thalita Nunes • 3/4/2017 • Resenha • 3.871 Palavras (16 Páginas) • 871 Visualizações
CARACTERISTICA DA EDUCAÇÃO ANTIGA
O MUNDO ANTIGO NA PESQUISA HISTÓRICA COMTEMPORANÊA
“A pesquisa histórica contemporânea realizou uma profunda transformação da imagem que tínhamos do mundo antigo. Antes de tudo, demoliu em grande parte aquela concepção (ática ou apolínea, podemos dizer) do antigo – grego e romano- que havíamos herdado do Neoclassicismo ou diretamente do Humanismo quatrocentista, e antes ainda, do Helenismo e do seu ideal de cultura baseado na humanitas e nos princípios heurísticos do equilíbrio e da beleza como harmonia”. (pág. 43)
“Nos últimos decênios, essa visão mais complexa e plural da época antiga (pré-clássica, clássica e helenística) complicou-se sofisticou-se por meio das contribuições de Detienne, dedicadas à religião e às origens sapienciais do pensamento antigo; as de Snell, relativas à linguagem e ao mito; as de Havelock, sobre a passagem da cultura oral para a cultura regulada pela escrita, ou as dedicadas ao “nascimento da consciência”, ate as de um Dover, dedicadas à vida sexual dos gregos ou as de Bettini, sobre a figura do duplo ou do estrangeiro na cultura antiga. Mestre indiscutível dessa transformação na interpretação do mundo clássico foi Jean- Pierre Vernant que, através de uma serie de textos de “psico-história’dedicados ao mito, à tragédia, às origens do pensamento, as “astucias da inteligência” , estudou a mentalidade antiga, pondo em relevo seus múltiplos componentes e as alternativas presentes, com relação à tradição racionalista de Platão, Aristóteles, assim como dos poemas homéricos e arte clássica.” (pág. 44 e 45)
2 O MEDITERRÂNEO-ENCRUZILHADA
“O mundo do clássico nasce no interior desse Mediterrâneo-encruzilhada e emerge dele como quintessência mais rica e mais alta, da qual a Grécia será justamente o interprete mais maduro. Mas o mundo grego- na religião, nas técnicas, no pensamento, na arte, até na politica- é devedor (e estritamente devedor) ao mundo mediterrâneo de muitas de suas prerrogativas, ou pelo menos de alguns importantes pré-requisitos dessas prerrogativas: os números e a matemática; a geometria; a ideia de divindade e a de lei etc.” (pág. 46 e 47).
“São as civilizações estabelecidas nas grandes planícies (do Tigre, do Eufrates e do Nilo) que produzem técnicas e ideias que se difundem pelo Mediterrâneo e permeiam os diversos povos, mas são também os grupos menores e as civilizações seminômades ou comerciais (os fenícios, os hebreus) que deixam sinais profundos no mundo mediterrâneo, com koiné greco-helenística (do grego como língua e como cultura comum).” (pág.47)
3 DA PAIDÉIA AO CONTUME EDUCATIVO
“No centro da vida social, afirma-se cada vez mais a instituição-escola, que entre Egito e Grécia se vai articulando no seu aspecto tanto administrativo como cultural. São escolas ora estatais ora particulares que vão acolhendo os filhos das classes dirigentes e medias e dando-lhes uma instrução básica, que se configura, sobretudo como cultura retórico-literária, do bem falar e do bem escrever, quer dizer, persuasivo e eficaz, além de respeitoso das regras rigidamente estabelecidas.” (pág. 48).
“Vem depois a ideia de paidéia, da formação do homem através do contato orgânico com a cultura, organizada em curso de estudos, com o centro dedicado aos studia humanitatis, que amadurece por intermédio da reflexão estética e filosófica e encontra na pedagogia- na teorização da educação subtraída à influencia única do costume- seu próprio guia. Todo o mundo grego e helenístico, de Platão a Plotino, até Juliano, o Apóstata, e, no âmbito cristão, ate Orígenes, elaborará com constância e segundo diversos modelos este ideal de formação humana, que virá a constituir, como salientou Jaeger, o produto mais alto e complexo, mais típico da elaboração cultural grega e um dos legados mais ricos da cultura ocidental por parte do mundo antigo.” (pág. 48)
4 MODELOS DE FORMAÇÃO NUMA SOCIEDADE ESTÁTICA
“A educação no mundo antigo, pré-grego e greco-romano é também uma educação por classes: diferenciada por papeis e funções sociais, por grupos sociais e pela tradição de que se nutre. O caso-Grécia é talvez o mais emblemático: a contraposição entre aristoi (excelentes) e demos (povo) é nítida e fundamental, mas também sujeita a tensões e reviravoltas. Aqui também vigora uma educação que mostra a imagem de uma sociedade nitidamente separada entre dominantes e dominada, entre grupos sociais governantes e grupos subalternos, ligados muitas vezes às etnias dominantes ou dominados, mas que contrapõem nitidamente os modelos educativos.” (pág.51).
5 AS ORIGENS E A DIFERENÇA
“Para o estudo da pedagogia e da educação antiga vale também o reconhecimento que deve ser feito para a pesquisa histórica relativa a todo o mundo clássico: ela nos leva para as origens do Ocidente, permitindo-nos reafirmar as raízes estruturas de uma longa tradição de ação e de pensamento, de uma civilização no seu conjunto. O mundo clássico é a terra de origem de uma cultura, a nossa, a ocidental, e mergulhar nele é ir à descoberta (ou à recuperação, se preferirmos) dos pré-requisitos, das estruturas profundas de toda a nossa cultura (cognitiva, ética, politica, social) que lá teve origem e que se impregnou daquela civilização já a partir da linguagem e da lógica do discurso (a primeira está saturada de termos gregos, a segunda é estruturada conforme o modelo gramatical articulado sobre o discurso greco-acidental –sujeito + predicado – e regulada pelos princípios da metafisica: univocacional, abstração, a historicidade, invariância etc.)”. (pág. 54)
CAPITULO II
O ORIENTE E O MEDITERRÂNEO: MODELOS EDUCATIVOS
1 A REVOLUÇAO DO NEOLITICO E A EDUCAÇÃO
“A pré-história humana (mesmo que ainda confundida com a história da natureza, com a geologia, a biologia, e a antropologia física) indica-se, como salientou Leroi Gourhan, com a aquisição da posição ereta por parte do hominídeo (o primata mais evoluído).
Esta posição faz o hominídeo descer à terra, torna-o capaz de controlar o território com o olhar e, sobretudo, libera as mãos, que se tornam independentes da deambulação e se transformam no instrumento fundamental de múltiplo uso para o homem, modificando radicalmente a sua relação com a natureza e preparando o processo da cultura (mesmo que ainda grosseiro e elementar).” (pág.57 )
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