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CONSTRUÇÃO E DIFUSÃO DO CONCEITO DE GÉNERO E SEXUALIDADE NA SOCIEDADE MODERNA

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Por:   •  2/6/2014  •  Projeto de pesquisa  •  5.327 Palavras (22 Páginas)  •  380 Visualizações

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Este curso apresenta uma apreciação sobre as questões de gênero e sexualidade no que diz respeito ao caráter culturalmente construído das diferenças e das identidades, caráter este que toma a aparência de uma ordem natural de todas as coisas. Consideram-se o indivíduo e as implicações sociais que resultam deste processo, as relações de poder que são estabelecidas ao serem fixadas uma identidade de gênero e uma identidade sexual, que são o masculino e o heterossexual, percebidas como referências sólidas e centrais que determinam um parâmetro consagrado. O papel da escola nos processos de produção de identidades, reforço de diferenças, disciplinamento dos corpos e comportamentos é alvo de reflexão para uma mudança da prática pedagógica que opera na lógica dicotômica da relação masculino-feminino e heterossexual-homossexual.

MÓDULO 1: INTRODUÇÃO1.2: Introdução

Este curso se propõe a analisar o papel da escola como agente de perpetuação e de transformação cultural em relação aos conceitos de gênero e de sexualidade instituídos na sociedade contemporânea. Para tanto, serão levantados aspectos relevantes sobre a maneira como as questões de gênero e sexualidade são abordadas no currículo e nas práticas escolares.

A reflexão sobre a forma de classificar e conceituar o gênero feminino e masculino, assim como a sexualidade que lhes é atribuída, é imprescindível para que se possa compreender a maneira como papeis sociais são culturalmente elaborados e transmitidos, com a significativa participação da escola, por meio da qual tais ideologias e valores podem ser perpetuados ou questionados a ponto de colocar em dúvida padrões há muito estabelecidos, baseados em desigualdade decorrente de sexismo.

Pretende-se analisar a construção dos conceitos de gênero, assim como as formas de elaboração e expressão sexual, apontar aspectos de dominação e subordinação de gênero a serem considerados sob o ponto de vista ideológico e cultural e identificar a forma como a escola lida com a questão de gênero e sexualidade.

Este curso apresenta hipóteses levantadas, as quais sugerem que o gênero surge de uma construção e uma convenção cultural que implicam diretamente na maneira como a sociedade percebe cada indivíduo e no papel que lhe atribui. A sexualidade passa por um processo de imposição social diretamente ligada ao gênero conferido ao sujeito, de maneira que determinações, expectativas, exigências e limitações fazem parte do processo de atribuição de gênero e de sexualidade, afetando na construção da identidade de cada um.

A dominação masculina se faz presente na classificação e padronização do gênero e da sexualidade no sentido de preservar e manter os interesses do patriarcado, ocasionando desigualdade, repressão e subordinação.

É preciso considerar que a escola possui papel fundamental no que diz respeito à manutenção dos conceitos e das ideias estabelecidas, assim como na possibilidade de transformar o olhar da sociedade sobre tais aspectos, por meio de uma Educação crítica e que respeite a diversidade dos indivíduos.

MÓDULO 2: A CONSTRUÇÃO E A DISSEMINAÇÃO DO CONCEITO DE GÊNERO E DE SEXUALIDADE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA2.1: A construção e a disseminação do conceito de gênero e de sexualidade na sociedade contemporânea

Para compreender a forma como o gênero masculino e o feminino começaram a ser instituídos nas sociedades Ocidentais, é necessário revisitar a História para que possamos perceber o quanto a sexualidade humana intrigou a ciência, tornando-se objeto de conhecimento a partir de sistemática observação a fim de que fosse desvendada a natureza do ser humano.

De acordo com Martins (2004), os homens da ciência, especialmente os médicos, que eram vistos então como “especialistas em olhar e examinar os corpos e estabelecer as verdades sobre a Natureza e a identidade dos indivíduos”, estavam empenhados em dominar a questão sexual na segunda metade do século XIX. A autora aponta ainda:

Saber exatamente qual o sexo verdadeiro de cada pessoa era uma preocupação relativamente recente, algo que começara a surgir na documentação médica e jurídica por volta da segunda metade do século XVIII, quando as diferenças passaram a ser observadas e utilizadas na construção do conhecimento sobre a Natureza e na organização da sociedade. (MARTINS, 2004, p. 24)

É importante salientar que até o século XIX a forma de classificar os corpos era bastante diferente daquilo que viria a seguir. Havia o modelo do sexo único, no qual anatomistas do século XVI não percebiam o corpo atrelado diretamente à representação de homem e mulher na sociedade, como indica Martins:

[...] por mais que os anatomistas vissem as diferenças, elas não tinham significado. É por isso que até o século XIX alguns órgãos sexuais femininos continuaram a ter a mesma denominação dos órgãos masculinos e, no caso dos hermafroditas, aceitava-se a escolha do indivíduo, já que era o corpo que precisava adequar-se ao comportamento, ou, em outros termos, o sexo ao gênero, e não como passou a ser na época de Debay, quando o sexo tornou-se determinante do comportamento. (MARTINS, 2004, p. 29)

A partir da ideia de que era preciso considerar as diferenças entre os órgãos sexuais, de maneira que esta distinção originasse duas classificações diferentes de tais órgãos que corresponderiam não somente a nomeações específicas, mas também a um determinado comportamento social do indivíduo, teve início a oposição binária masculino-feminino pautada no corpo e validada pela ciência.

[...] a definição social dos órgãos sexuais, longe de ser um simples registro de propriedades naturais, diretamente expostas à percepção, é produto de uma construção efetuada à custa de uma série de escolhas orientadas, ou melhor, através da acentuação de certas diferenças, ou do obscurecimento de certas semelhanças. A representação da vagina como um falo invertido, que Marie-Christine Pouchelle descobriu nos escritos de um cirurgião da Idade Média, obedece às mesmas oposições fundamentais entre o positivo e o negativo, o direito e o avesso, que se impõem a partir do momento em que o princípio masculino é tomado como medida de todas as coisas. (BOURDIEU, 2011, p. 23)

Uma forma fixa e estável de sexualidade e de gênero, que não admite dúvidas, paradoxos ou contradições, passa a vigorar na sociedade, e é exatamente o contexto social em que o indivíduo encontra-se inserido que vai moldá-lo de acordo com

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