Desnutrição: Metabolismo Protéico Muscular E Recuperação Nutricional
Ensaios: Desnutrição: Metabolismo Protéico Muscular E Recuperação Nutricional. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: HIGORLLEO • 11/11/2013 • 5.352 Palavras (22 Páginas) • 674 Visualizações
Motriz, Rio Claro, v.14 n.1 p.74-84, jan./mar. 2008
Artigo de Revisão
Desnutrição: metabolismo protéico muscular e recuperação nutricional associada ao exercício
Fabrício Azevedo Voltarelli
Maria Alice Rostom de Mello
Laboratório de Biodinâmica do Departamento de Educação Física - UNESP Rio Claro, SP,
Brasil
Resumo: A desnutrição é, ainda hoje, grave problema médico-social nos países em desenvolvimento. Assim, é de grande interesse o desenvolvimento de procedimentos mais efetivos no seu tratamento. Isso inclui o emprego do exercício físico. O presente estudo teve como objetivo revisar: a) os principais tópicos referentes aos efeitos da desnutrição sobre o organismo, bem como à sua recuperação através da alimentação associada ao exercício físico e b) o metabolismo protéico muscular de ratos em recuperação da desnutrição protéica. Para atingir tal fim, realizou-se uma revisão bibliográfica minuciosa dos principais trabalhos científicos publicados pelo nosso grupo de trabalho, e por outros pesquisadores na área, nos últimos anos.
Palavras-chave: Desnutrição. Metabolismo protéico muscular. Recuperação nutricional. Exercício físico.
Malnutrition: muscle protein metabolism and nutritional recovery associated to the exercise
Abstract: Today, malnutrition still remains the single most important factor impairing health and productivity of large human populations, mainly in the developing countries. For this reason, the exploration of alternative treatments, in addition to nutritional recovery, became a matter of generalized interest, and this includes the employment of physical exercise. The present study aimed to review: a) the main topics related to malnutrition effects on organism as well as nutritional recovery through dietary procedures associated to physical exercise and b) Muscle protein metabolism of rats recovering from protein malnutrition. To reach the objective of the present study, a bibliographic review process was applied and scientific papers published by our work group and by other groups in this area, were used.
Key Words: Malnutrition. Muscle protein metabolism. Nutritional recovery. Physical exercise.
Desnutrição: metabolismo protéico e exercício
Motriz, Rio Claro, v.14, n.1, p.74-84, jan./mar. 2008
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Há várias décadas a desnutrição protéica vem preocupando autoridades ligadas aos setores de saúde pública, principalmente a Organização Mundial de Saúde (OMS), visto que essa patologia implica em comprometimento funcional de diversos sistemas e órgãos de seus portadores, entre eles, a musculatura esquelética (TORUN; CHEW, 1994). Algumas alterações são totalmente revertidas com a recuperação nutricional, enquanto outras, não.
Por outro lado, sabe-se que a prática regular de atividade física exerce efeitos benéficos para a saúde, tais como aumento da capacidade oxidativa e do crescimento muscular, melhora das condições cardiorrespiratórias e facilitação da mineralização óssea, entre outros (BURNS et al., 2005). Assim sendo, o presente trabalho de revisão visa fornecer uma visão geral sobre: a) os principais tópicos relacionados aos efeitos da desnutrição sobre o organismo, bem como à sua recuperação através da alimentação associada ao exercício físico e b) o metabolismo protéico muscular de ratos em recuperação da desnutrição protéica.
Desnutrição: características gerais
A desnutrição, ou mais corretamente, as deficiências nutricionais – porque são várias as modalidades de desnutrição – são doenças que decorrem do aporte alimentar insuficiente em energia e nutrientes ou, ainda, com alguma freqüência, do inadequado aproveitamento biológico dos alimentos ingeridos, geralmente motivado pela presença de doenças, em particular infecciosas (MONTEIRO, 2003).
As conseqüências da desnutrição para o organismo são variadas, entretanto desde as formas leves às mais severas é constante o comprometimento do crescimento. Por essa razão, são utilizados indicadores antropométricos com a finalidade de diagnosticar a desnutrição infantil. O parâmetro mais usado é a adequação percentual do peso corporal do indivíduo em relação à idade. A classificação mais empregada para avaliar o estado nutricional de crianças de 1 a 4 anos é a proposta por Gomes (1946) e prevê três graus para a desnutrição, conforme o déficit ponderal seja de 10 a 24% (primeiro grau ou leve), de 25 a 40% (segundo grau ou moderada) ou maior de 40% (terceiro grau ou grave). Marasmo e Kwashiorkor são duas síndromes que correspondem a manifestações extremas da
desnutrição de terceiro grau (TORUN; CHEW, 1994).
O Kwashiorkor manifesta-se com maior freqüência nos três primeiros anos de vida, especialmente no segundo. Apresenta sintomatologia bem definida com quatro sinais sempre presentes: edema, atraso no crescimento, alterações psicomotoras com fraqueza muscular, alterações na pele e nos olhos (TORUN; CHEW, 1994).
O Marasmo instala-se nos primeiros anos, preferencialmente no decorrer do primeiro ano. Tem sido freqüentemente observado em crianças com 6 meses de idade em fase de desmame precoce, quando passam a receber alimentação deficiente. O aparecimento é gradual e a evolução é lenta. A deficiência de crescimento bem como de peso é acentuada, apresentando-se em torno de 60% do normal. Há significativa atrofia muscular e redução de gordura subcutânea (TORUN; CHEW, 1994).
Ainda existe considerável discussão sobre as diferenças na etiologia dessas duas síndromes reconhecidas da desnutrição. Embora elas sejam vistas como doenças que marcam os pontos finais do espectro das doenças também conhecidas pelo termo desnutrição protéico-calórica e que foi usado pela primeira vez por Jelliffe em 1966, alguns autores sugeriram que ambas as formas de desnutrição poderiam resultar de um mesmo tipo e grau de privação dietética (SAWAYA, 1985). Outros acreditam que o kwashiorkor é basicamente uma deficiência protéica e o marasmo uma deficiência energética. Parece que as diferenças na etiologia podem
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