EDUCAÇÃO COOPERATIVA E TRABALHO COOPERATIVO: CONSTITUIÇÃO E EFEITOS À LUZ DOS POSTULADOS TEÓRICOS DE JOHN DEWEY
Monografias: EDUCAÇÃO COOPERATIVA E TRABALHO COOPERATIVO: CONSTITUIÇÃO E EFEITOS À LUZ DOS POSTULADOS TEÓRICOS DE JOHN DEWEY. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: paulo.campos9979 • 30/10/2014 • 5.365 Palavras (22 Páginas) • 530 Visualizações
Educação Cooperativa para e no Trabalho Cooperativo
Dewey (1979) não se contenta com o conceito de trabalho como uma atividade externa ao indivíduo. Exige a consideração de que o trabalho também seja interno nas pessoas, quando referenciado à educação:
Considerar o trabalho como simples ato de fazer o que precisa ser feito é ter dele uma visão exterior. Podemos considerá-lo também de dentro; e é assim que devemos olhá-lo quando nele pensamos com referência à educação. Neste terreno, trabalho significa atividade dirigida pelos fins que o pensamento propõe ao indivíduo, como coisa a realizar; significa engenho e inventiva para escolher meios próprios, para traçar planos; assim, significa, em suma, que as expectativas e as ideias são verificadas nos resultados reais (DEWEY, 1979, p. 209).
Nesse sentido, Dewey (1979) entende que o trabalho, enquanto ação do pensamento, educa em razão de construir significados e sentidos às coisas da vida,
¹Pedagogo, Especialista em Administração, Especialista em Cooperativismo, Mestre em Psicanálise, Mestre em Educação, Professor de Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Administração e Educação. Consultor Empresarial.
enquanto as verifica, aplica-as e as testa, considerando a ampla realidade externa limitadora.
Educar para o trabalho, para Dewey (1979), significa que o aluno deva trabalhar intelectualmente pelo manejo prático das coisas, construindo uma realidade interna subjetiva, que se traduz, por sua vez, em determinado resultado que, no caso, é o aprendizado, foco de interesse na atividade laboral educativa.
Com esse foco, o indivíduo principia de coisas conhecidas, transferindo sentido a novas que tome conhecimento. Significa, em outros termos, que coisas abstratas, como conceitos, por exemplo, são “concretos”, por serem familiares ao indivíduo, enquanto que os desconhecidos são abstratos, por desconhecidos serem. A partir do momento em que estes passam a ganhar significados, elevam-se ao status da concretude. Contudo:
Em contraste, o abstrato é o teórico, aquilo que não se associa intimamente com nossas preocupações práticas. O pensador abstrato (o “homem da ciência pura”, como às vezes é chamado) abstrai, de caso pensado, das aplicações à vida, isto é, para ele estão fora de cogitação os usos práticos. [...] [...] Que resta, quando se excluem as conexões com o uso e aplicação? Evidentemente, só resta o que se refere ao saber considerado como fim em si mesmo (DEWEY, 1979, p. 219).
Do que, define concreto e abstrato assim:
Quando um pensamento é empregado como meio para um fim, uma utilidade prática ou um valor independente dele próprio, é concreto; e quando é empregado apenas como meio para facilitar outros pensamentos ulteriores, é abstrato (DEWEY, 1979, p. 220).
Exemplificando, assim, para melhor expor sua ideia:
Para o teórico, uma ideia é adequada e completa em si mesma, quando estimula a pensar e satisfaz esta necessidade; para um clínico, um engenheiro, um artista, um comerciante ou um político, uma ideia só é completa quando favorece algum interesse na vida – a saúde, a riqueza, a beleza, o bem, o bom êxito e mais o que se queira (DEWEY, 1979, p. 220).
Para Dewey (1979), a realidade do cotidiano dos indivíduos os impede de “pensar”, senão pela aplicabilidade prática dos conteúdos mentais que operam, sempre ocupados no sentido de bem dirigir seus interesses objetivos. “Tudo aquilo que se limita a fornecer matéria para o pensamento, é apagado e remoto, quase artificial”.
Para Dewey “a disciplina é positiva e construtiva” (1979, p. 93). Ela promove o poder de controle sobre os meios necessários para alcance dos fins perseguidos pelo ato de pensar, incluindo a construção, avaliação e verificação do processo construtivo e dos resultados alcançados. Não, porém, sob a tutela de atos mecânicos repetitivos. E isso remete ao sentido de liberdade que Dewey apresenta:
A disciplina que se identifica com a capacidade exercitada é também idêntica à liberdade. Pois liberdade é poder de agir e executar, independentemente de tutela exterior. Significa domínio, capaz de exercício independente, emancipado dos cordéis da direção alheia, não simples atividade exterior sem peias (DEWEY, 1979, p. 93).
E a disciplina, tratando-se de educação, conduz a necessária substituição de pensamentos livres para outros mais restritos. Significa, em outros termos, coordenar o fluxo de pensamentos, uma vez que “o pensamento solto deixa o resultado suspenso no ar” (DEWEY, 1979, p. 85). de modo que pode afirmar que:
Naturalmente, a educação não se confina ao seu aspecto intelectual; abrange a formação de atitudes práticas de eficiência, o robustecimento e desenvolvimento de disposições morais, o cultivo de apreciações estéticas. Em tudo isto, porém, existe pelo menos um elemento de significado consciente e, portanto, de pensamento. Sem este, a prática torna-se mecânica e rotineira, a moral, cega e arbitrária, a apreciação estética, um sentimento derramado (1979, p. 85-86).
É possível, então, supor que o manejo prático com as coisas e a forma de interação social são reflexos físicos elaborados pelo trabalho mental exercido com esforço, pois, sem este, aqueles se tornam atos físicos e de comunicação meramente repetitivos e automatizados. De outra forma, o ato de manifestar-se socialmente, desprovido de amplo conhecimento acerca das questões concernentes, encarcera o indivíduo na dimensão da automatização, da mecanização de conduta, retirando-lhe a liberdade para construir sua própria identidade sócio-produtiva.
Eis que, ora se tem a afirmativa de que a formação do indivíduo para a vida social se dá na empresa cooperativa, pois, trata-se esta de uma escola prática (PINHEIRO, 2006). Este autor diz que a cooperativa também tem a finalidade educativa de buscar o equilíbrio entre o campo social e o econômico na formação de seus associados. E para isto, é necessário captar as aspirações dos associados, mensurar métodos de trabalho e trocar informações construtivas, a partir da realidade vivida, para construir teoricamente bases técnicas para gestão.
Pinheiro (2006) argumenta também que, para tudo isto, necessária é a educação para todos, a fim de melhorar os níveis de qualidade de vida no trabalho, de cooperação no ambiente laboral e consequentemente de satisfação para todos. E, em tudo, releva a disciplina social da educação, que Dewey trata sob o ponto de vista individual, porém, possível, sob o aspecto do fato educação, de ser apreciada também sob o ponto de vista coletivo.
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