Etnografia

A etnografia só se dá por existente a partir do momento no qual o pesquisador percebe que ele mesmo deve efetuar sua própria pesquisa de campo e que esse trabalho de observação direta deve partir de si mesmo e que é parte integrante da pesquisa.

Essa revolução ocorrerá durante o primeiro terço do século XX. Ela põe fim na divisão de tarefas, que até então eram dividas entre o observador, que seria o provedor de informações, e o pesquisador erudito, que permanece no conforto do seu lar, o qual recebe estas informações, analisa e interpreta. Ele entende então que como aluno atento, não apenas viver entre eles, mas viver como eles, se introduzir na cultura deles e começa a entender o seu estudo como participante e não apenas como observador.

Assim, a antropologia se torna pela primeira vez uma atividade ao ar livre, como diz Malinowski, “ao vivo” em uma natureza aberta e ainda desconhecida.

Esse trabalho de campo é considerado como a própria fonte de pesquisa. Deu rumo a uma abordagem da nova geração de etnólogos, que realizavam estadias prolongadas entre as populações do mundo inteiro. A partir daí, as missões de pesquisas etnográficas e a publicação de obras que delas resultam se seguem em ritmo ininterrupto.

Não é possível examinar a contribuição de diferentes pesquisadores na elaboração da etnografia e da etnologia contemporânea. De acordo com o autor do texto, os mais importantes pesquisadores são o americano Franz Boas e o polonês Bronislaw Malinowski.

BOAS

Boas era um homem de campo. Suas pesquisas eram conduzidas de um ponto de vista que hoje qualificaríamos de microssociológico. De acordo com Boas, tudo deve ser anotado, no detalhe do detalhe. Tudo deve ser objeto da descrição mais meticulosa, da retranscrição mais fiel.

Foi o primeiro a elaborar a crítica mais radical das noções de origem e de reconstituição dos estágios. Ele mostra que um costume só tem significado se for relacionado ao contexto particular no qual está inserido.

A partir de Boas, estima-se que para compreender o lugar particular ocupado por esse costume não se pode mais confiar nos investigadores. Apenas o antropólogo pode elaborar uma monografia, dar conta cientificamente de uma microssociedade e considerada em sua autonomia teórica. Teórico e observador reunidos pela primeira vez. Assim dando inicio à etnografia profissional.

Por outro lado, também considera que não há objeto nobre nem objeto indigno da ciência. A maneira pela qual as sociedades tradicionais, na voz dos mais humildes entre eles, classificam suas atividades mentais e sociais, devem ser consideradas. Boas anuncia assim a constituição do que hoje chamamos de etnociências.

É surpreendente que Boas, exceto entre profissionais da antropologia, seja praticamente desconhecido. Isso se deve principalmente a duas razões:

a) Ele nunca escreveu nenhum livro destinado ao publico erudito, e os textos que deixou são de uma concisão e de um rigor ascético.

b) Nunca formulou uma verdadeira teoria, e a generalização apressada parecia-lhe o que há de mais distante do espírito cientifico.

Boas foi um dos primeiros etnógrafos. Finalmente, foi o grande pedagogo que formou a primeira geração de antropólogos