Florence
Dissertações: Florence. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: uelinton • 19/3/2015 • 6.231 Palavras (25 Páginas) • 240 Visualizações
O olhar da enfermagem sobre as práticas de cuidado de famílias rurais à pessoa com câncer*
Visión de la enfermería sobre las prácticas de cuidado de familias rurales a la persona con câncer
Juliana Graciela Vestena ZillmerI; Eda SchwartzII, Rosani Manfrin MunizIII
IEnfermeira Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Pelotas. Especialista em Saúde da Família Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Bolsista de Demanda Social da CAPES. Integrante do Núcleo de Estudos e Assistência em Enfermagem e Saúde à Pessoas em Condição Crônica. Pelotas, RS, Brasil. juzillmer@gmail.com
IIDoutora em Enfermagem. Professora da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade Federal de Pelotas. Integrante do Núcleo de Condições Crônicas e suas Interfaces (NUCCRIN). Pelotas, RS, Brasil. eschwartz@terra.com.br
IIIDoutora em Enfermagem. Professora da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade Federal de Pelotas. Vice-líder do Núcleo de Condições Crônicas e suas Interfaces (NUCCRIN). Pelotas, RS, Brasil.romaniz@terra.com.br
Endereço para correspondência
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RESUMO
O objetivo deste estudo foi identificar as práticas de cuidados das famílias rurais que vivenciam o cuidar da pessoa com câncer. Trata-se de estudo qualitativo, que utilizou como referencial teórico-metodológico o Modelo Bioecológico de Urie Bronfenbrenner e o método da inserção ecológica. Participaram três famílias da área rural, que tinham um de seus membros em tratamento quimioterápico no Serviço de Oncologia de um Hospital Escola da região Sul do Brasil. A coleta de dados ocorreu entre fevereiro e julho de 2009. Constatou-se que a família rural cuida a partir das práticas de cuidado que foram construídas com base nas interações entre as pessoas da família ao longo das gerações e em outras práticas da comunidade. O carinho, o amor, a proteção, a união familiar, a fé, o estar junto, a preocupação com a alimentação descrevem o cuidar e constituem-se como práticas de cuidado das famílias rurais à pessoa com câncer.
Descritores: Família. População rural. Neoplasias. Enfermagem oncológica.
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RESUMEN
Identificar las prácticas de cuidados de familias rurales que experimentan la necesidad de cuidar de un miembro con cáncer. Estudio cualitativo, utilizando como referencial metodológico el Modelo Bioecológico de Urie Bronfenbrenner y el método de inserción ecológica. Participaron tres familias de área rural, con un miembro en tratamiento quimioterápico en Servicio de Oncología de un Hospital Escuela de la Región Sur de Brasil. Datos recolectados de febrero a julio de 2009. Se constató que la familia rural cuida a partir de las prácticas construidas con base en las interacciones entre los familiares a lo largo de generaciones, y en otras prácticas de la comunidad. El cariño, el amor, la protección, la unión familiar, la fe, el estar cerca, la preocupación por la alimentación, describen el cuidado y se constituyen como prácticas de cuidado familiares en las familias rurales con un integrante afectado por cáncer.
Descriptores: Familia. Población rural. Neoplasias. Enfermería oncológica.
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INTRODUÇÃO
Toda família possui suas histórias. São narrativas impregnadas por valores, crenças e hábitos que se repetem de geração para geração, dando identidade a ela. São histórias de carinho, união, respeito, superação, cuidado com o próximo, e de luta em busca de melhor qualidade de vida. Cada família, em algum momento da vida, experiencia situações de crise, como, por exemplo, o encontro com uma doença que possui grande impacto, sendo necessário que vivencie práticas de cuidado. Este tem sido um dos enfoques importantes da enfermagem na contemporaneidade(1).
Como doença crônica, o câncer é uma das mais temidas pelas pessoas. Ele é muito mais do que afecções biológicas, caracteriza-se como um conjunto de sentimentos ambivalentes carregados de significados. Nesse sentido, é considerada uma enfermidade simbólica, na medida em que traz consigo significados como desordem, catástrofe, castigo, relacionado à fatalidade(2-3). Dessa forma, vivenciar o câncer continua sendo um evento social significativo que desencadeia modificações nas relações sociais da pessoa e na dinâmica familiar(4). Embora existam aspectos semelhantes no viver com câncer, cada pessoa tem estratégias próprias para lidar com a doença, devido aos seus valores, crenças e forma de ver o mundo(4-5).
Abordamos a família como um sistema de saúde para seus membros, que compreende um conjunto de valores, crenças, conhecimentos e práticas que guia suas ações, e que possui um processo próprio de cuidar. A família torna-se responsável por supervisionar o estado de saúde, tomar decisões quanto aos caminhos que se deve seguir nos casos de queixas ou sinais de mal-estar, além de acompanhar e avaliar constantemente a saúde e a doença de seus membros(6).
Ao descrever a família ao longo da história, vemos que ela ocupa diferentes espaços e funções, mas, desde os tempos mais antigos até a contemporaneidade, a família representa um lugar de acolhimento, segurança entre as pessoas, as quais mantêm vínculos de afinidade, amor e respeito. E é no contexto familiar que construímos nossa identidade, consolidamos valores e princípios, e compartilhamos as primeiras emoções(7). É na família que aprendemos os papéis sociais, é dela que, mediados pela cultura social onde se inscreve, transitamos para os outros grupos que passamos a integrar na vida(8).
A partir do exposto, é relevante conhecer a realidade de vida da pessoa com câncer e de sua família, assim como o contexto, a dinâmica, a organização para cuidar, as interações, o papel social da pessoa na família e na comunidade, as potencialidades e os limites daqueles que se envolvem no cuidado. Além disso, olhar para os aspectos sociais, como as condições habitacionais, a renda familiar, o impacto das atividades
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