Geopolitica Classica
Dissertações: Geopolitica Classica. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: julianag2607 • 18/3/2015 • 1.638 Palavras (7 Páginas) • 493 Visualizações
Geopolítica clássica
O termo geopolítica adveio de um neologismo utilizado por Rudolf Kjellén e se tornou uma expressão comum para explicar e sistematizar o pensamento contemporâneo relativo às relações entre os Estados e a relevância do território-nação. Apesar de haver uma incerteza quanto à época de utilização desse termo, é fácil notar que o neologismo geopolítica é um produto direto do contexto histórico do período de transição entre os séculos XIX e XX, vivido por Rudolf Kjéllen.
Na época, a Suécia via-se dividida no debate referente à dissolução da União de Estados Suécia-Noruega, fato que acabou ocorrendo em 1905. Kjéllen representava um forte opositor da independência da Noruega. Ele redigiu vários manuscritos (entre eles aquele no qual foi utilizada pela primeira vez a palavra geopolítica, chamado Inledning till Sveriges Geografi) e praticou diversas intervenções políticas contra a dissolução em questão (VESENTINI, 2007).
A repercussão do discurso conservador/autoritário/imperialista e do neologismo de Kjellén foi significativa não somente na Suécia, mas também entre o público alemão e o público austríaco. As ideias de Kjellén se tornaram mais populares principalmente no território germânico, visto que o neologismo criado foi lá introduzido pelos trabalhos de Robert Sieger no início do século XX. A germanização da geopolítica deveu-se ainda ao fato de que Kjéllen tinha uma intensa admiração pelo modelo imperial da Alemanha e, dessa forma, constituiria junto ao francês Joseph-Arthur e ao britânico Stewart Chamberlain o trio de pensadores não alemães que possuíam um alinhamento ao ideal (VESENTINI, 2007).
No entanto, a explicação do significado de geopolítica e de seu objeto de estudo foi elaborada por Kjellén em sua obra mais notável, Staten som Lifsform ou O Estado como forma e vida, escrita em 1916. Nela, a geopolítica é apresentada como uma forma de ciência do Estado, que é visto da perspectiva de um organismo geográfico e analisado a partir de sua manifestação e interação como país, território ou até mesmo como império. Contudo, essa nova “ciência” tinha como objeto de estudo constante o Estado unificado e almejava contribuir para o entendimento profundo de sua estrutura. Para Kjellén, a geopolítica não era, portanto, um simples neologismo de compreensão subjetiva e de interpretação duvidosa, como o era para muitos detratores e críticos, a geopolítica representa, antes, uma verdadeira ciência autônoma que se utilizava de um objeto de estudo novo, diferentemente da geografia política, criada por Ratzel no século XIX.
Assim, ligada diretamente à tradição novecentista alemã de estudos geográficos e também à tradição histórica e nacionalista de Heinrich von Treitschke e Leopold Von Ranke, a geopolítica surgiu na Alemanha no decorrer da segunda década do século XX, no que ficou conhecido como Escola Alemã de Geopolítica ou até mesmo Escola de Munique.
Em 1924, foi fundada a Zeitschrift für Geopolitik ou Revista de Geopolítica, destinada diretamente aos geógrafos profissionais e tendo em vista também a divulgação dos conteúdos escritos por diplomatas, políticos, jornalistas e industriais. Porém, a principal contribuição e personalidade da revista era Karl Haushofer, que possuía características de um militar acadêmico, ou seja, além dos conhecimentos estratégicos inerentes à sua formação militar, também detinha credenciais acadêmicas significativas, o que fez seus livros e publicações de artigos tornarem-se populares no mundo rapidamente. Percebe-se ainda que seu sucesso deve-se à sua experiência no exercício da carreira militar e do conhecimento prático de diversas regiões da Ásia e do Pacífico, especialmente de países como o Japão, onde já havia desempenhado funções de adido militar (VESENTINI, 2007).
Para compreender a ideia expressa nos trabalhos de Haushofer, faz-se necessário compreender o contexto histórico da época e perceber que o período era de redefinição política, econômica e social, uma época extremamente conturbada na Alemanha do século XX. Contudo, a criação da Revista de Geopolítica dinamizava e disseminava o tema, resultado esse obtido pelo esforço e união de competências entre vários pensadores e importantes profissionais da área de política e geografia, especialistas em relações internacionais e analistas do cenário global da época (VESENTINI, 2007).
É ainda relevante ressaltar que os trabalhos de Haushofer também foram influenciados pelo grande debate que teve início nos anos de 1924 e 1925 entre os geógrafos alemães e os defensores da geografia política clássica, na linha de Ratzel. Karl Haushofer foi um dos principais protagonistas desse debate e publicou um famoso artigo intitulado Politische Erdkunde und Geopolitik, ou Geografia política e geopolítica, em 1925, que sustentava a necessidade de difundir o conhecimento da geopolítica como um saber estratégico tanto para a elite alemã e mundial quanto para a população. Entretanto, para tal fazia-se necessário romper com a tradição da geografia clássica anteriormente proposta, pois, em sua essência, embora o dualismo da geografia e os conceitos de Ratzel fossem estritamente importantes, eles se tornavam ultrapassados para a época. Assim, traçou-se uma distinção entre a geografia política, que estuda a distribuição do poder estatal à superfície dos continentes e suas condições (solo, configuração, clima e recursos) e a geopolítica em si, que tem como objetivo principal a atividade política de um determinado Estado num espaço natural (VESENTINI, 2007).
Além desse posicionamento liderado por Kjellén, que resultou no debate entre geógrafos e geopolíticos, pode-se encontrar ainda ideias e teses geopolíticas nos vastos trabalhos e publicações que auxiliam na compreensão do pensamento e contextualizam todas as questões relevantes da época, desde os problemas territoriais de expansionismo – principalmente alemão – até as zonas de influência das grandes potências. O debate teve seu início principalmente por duas razões:
· primeira: a partir de questões acadêmicas, afirmavam e criticavam Kjellén por simplesmente ter adaptado parte da obra de Ratzel e a chamada antropogeografia para uma perspectiva mais ampla e adequada à realidade, sem, no entanto, ter criado uma “ciência” nova que merecesse uma desvinculação total da geografia já conhecida ou da geografia política;
· segunda: recaía sobre questões políticas e era reflexo do ambiente global conturbado
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