Granjeiro
Tese: Granjeiro. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: paulolbj84 • 12/11/2014 • Tese • 468 Palavras (2 Páginas) • 556 Visualizações
Era uma vez um granjeiro que criava galinhas. Era um granjeiro incomum, intelectual e progressista. Estudou administração para que sua granja funcionasse cientificamente. Não satisfeito, doutorou-se em criação de galinhas. No curso de administração aprendeu que em um negócio o essencial é a produtividade. O improdutivo dá prejuízo; deve, portanto, ser eliminado. Aplicado á criação de galinhas, o princípio se traduz assim: Galinha que não bota ovo, não vale a ração que come. Não pode ocupar espaço no galinheiro. Logo, deve ser transformada em cubinhos de caldo de galinha. Para garantir a qualidade total de sua granja, o granjeiro estabeleceu um rigoroso sistema de controle da produtividade. Produtividade de galinhas é um conceito matemático que se obtém dividindo o número de ovos botados pela unidade de tempo escolhida. Galinhas cujos índices de produtividade fossem iguais ou superiores a 250 ovos por ano podiam continuar a viver na granja como galinhas poedeiras. O granjeiro estabeleceu inclusive um sistema de mérito galináceo: As galinhas que botavam mais ovos recebiam mais ração. As galinhas cuja produtividade fosse igual ou inferior a 249 ovos por ano não tinham mérito algum e eram transformadas em cubinhos de caldo de galinha. Porém, conviviam com as galinhas poedeiras, galináceos peculiares que se caracterizavam por um hábito curioso. Em intervalos regulares e sem razão aparente, esticavam os pescoços, abriam os bicos e emitiam um ruído estridente. Ato contínuo: subiam nas costas das galinhas, seguravam-nas pelas cristas com o bico e as obrigavam a se agachar. Consultados os relatórios de produtividade, o granjeiro verificou que isso era tudo o que os galos (esse era o nome daquelas aves) faziam. Ovos, mesmo, nunca em toda história da granja nenhum deles havia botado. O granjeiro lembrou-se das lições que aprendera na escola e ordenou que todos os galos fossem transformados em cubinhos. As galinhas continuavam a botar os ovos como sempre haviam botado: Os números escritos nos relatórios não deixavam margens de dúvidas. Mas, uma coisa estranha começou a acontecer. Antes, os ovos eram colocados em chocadeiras: Ao final de 21 dias, quebravam-se e de dentro deles saiam pintinhos vivos. Agora, os ovos das mesmas galinhas, depois de 21 dias, não se quebravam. Ficavam lá, inertes. Deles não saíam pintinho. Se ali continuassem por muito tempo, estourariam e, de dentro deles sairia um cheiro de coisa podre. Coisa morta. Aí o granjeiro científico aprendeu duas coisas: Primeiro o que importa não é a quantidade dos ovos, é o que tem dentro deles. A forma dos ovos é enganosa. Muitos ovos lisinhos por fora são podres por dentro. Segundo, há coisas de valor superior aos ovos que não podem ser medidas por números. Coisas sem as quais os ovos são coisas mortas. (ALVES, Rubens. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. São Paulo: Ed. Loyola, 2001).
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