LIVRARIA BERTRAND * LISBOAOBRAS DO AUTOR
Por: Bruno Moreira • 29/9/2019 • Bibliografia • 82.414 Palavras (330 Páginas) • 152 Visualizações
A VIA SINUOSA
Romance
AQUILINO RIBEIRO
LIVRARIA BERTRAND * LISBOAOBRAS DO AUTOR
Jardim das Tormentas: contos.
A Via Sinuosa: romance.
LAPIDES PARTIDAS: romanoe.
Terras do Demoi romance.
Filhas de Babilóniai novelas.
Estrada de Santiagos novelas.
O GALANTE SílOULO ΧΥΙΠ: texto do Oav. de Oliveira.
Romance da Raposas romancinho infantil.
Andam Faunos pelos Boisquési romance.
O HOMEM QUE MATOU O DIABO: romance.
BATALHA SEM FIM: romanoe.
AS TRÊS MULHEBES DE SANSAO: novelas.
Maria Benignai romance.
A GUEBBA: diário da conflagração mundial.
ALEMANHA ENSANGÜENTADA: oa- derno dum viajante.
QUANDO AO GAYIAO OAI A PENA: contos.
A roa de Noé, III Classe: contos para crianças.
AYENTUBA MABAVILHOSAs romanoe.
8. Banaboiflo Anacoreta e Mártir:
romance.
ANASTÁCIO DA CUNHA, O LENTE PENITENCIADO: vida e obra.
A Retirada dos Dez Mil: Xenofonte. Trad. e prefácio.
O PBÍNCUPE PEBFEITO: Xenofonte. Trad. e prefácio.
POB OBBA E GRAÇA: estndoe.
EM PROL DE ABISTÓTELES: Ant. de Gouveia. Trad. e prefácio.
O SERVO DE DEUS E A CASA ROUBADA: novelas.
OS AYÓS DOS NOSSOS AVÓS: história.
Volfrftmio: romance.
O LIYRO DO MENINO-DEUS: O Natal na história religiosa e na etno- grafia.
Aldeia: Terra, crente e bichos.
CAMINHOS ERRADOS: novelas.
Mónicai •romance.
O Arcanjo Negro: ** romance.
GONSTANTINO DE BBAGANÇA, ΥΠ VIZO-BEI DA ÍNDIA: história.
Cinoo Réis de Gente: * romance,
OEIBAS: monografia.
UMA LUZ AO LONGE: ** romanoe.
CAMÕES, CAMILO, EQA E ALGUNS MAIS: estudos de orítioa histórioo- -literária.
LUÍS DE CAMÕES, fabuloso-verda- deiro: ensaio.
POBTUGUESES DAS SETE PARTI- DAS: Aventureiros, viajantes, tro- ca-tintas.
GEOGBAFIA SENTIMENTAL: história, paisagem, fololore.
LEAL DA CAMABA: vida e obra.
PB1NCIPES DE POBTUGAL, suas grandezas e misérias: história.
HUMILDADE GLOBIOSA: romanoe.
Arcas Encoiradas: estudos, opiniões, fantasias.
O HOMEM DA NAYE: serranos, oaça- dores e fauna vária.
Abóboras no Telhado: critica e polêmica.
O Romance de Camilo: "biografia e critica. 3 vol.
NOVELAS EXEMPLABES: Cervantes. Trad. e prefácio.
A Casa Grande de Ro>**~
nica romanceada.
O Malhadinhas: not
Quando os Lobos Ui
Dom Frei Bertolame
D. Quixote de Ia Ma w*rvantes. Trad. 3 vol.
No Cavalo de Pau com Sancho Rança:
ensaio.
De Meoa a Freixo de Espada à Cinta:
ensaios ocasionais.
Tombo no Inferno e O Manto de Nossa Senhora: teatro.
Casa do Esoorpiflo: novelas.
NO PRELO
UM ESCBITOB CONFESSA-SE: memórias.
O LIVRO DE ΜΑΒΙ ANINHA: lenga- lengas e toadilhas em prosa rimada
Sentado na borda do tanque, que uma figueira toldava de deleitável sombra, instruía-me o senhor padre Ambrósio da latinidade. Homem de muitas letras, já ruço, mas ainda de bom garbo nos seus setenta anos, sãos de alma e de corpo, antes de abrir Horácio, aprazia-lhe lembrar num doce tom de iluminado:
— Neste sítio, Libório, descansou o grande padre S. Francisco de jornada para Compostela. Reza a história que o servo de Deus vinha trilhado do caminho e tinha sede; aqui lhe foi dado matá-la numa fontainha, que não era este chafariz formoso, talhado, mais parece, para os jardins do papa que para cerca de monges. Por certo que o suor lhe caía do rosto e o bebeu a terra onde pisamos. E sem dúvida falou e abendiçoou aos verdelhões, arquitetravôs desses que aí andam na figueira a debicar os figos lampos. Quando para aqui vieres, que a tua mente esteja pura, Libório; este retiro —sabes? S. Francisco de Assis foi Jesus que voltou ao mundo de pobrezinho — é tão inspirado como o Horto das Oliveiras.
Esta evocação do meu mestre acudia-me ao espírito sempre que, nos dias de sol, me era grata a frescura daquele remanso, à beira do mosteiro. Sobre o tanque, que se vedava para a rega, noite e dia a fonte antiga levava a chorar. A água vinha de longe por uma caleira de pedra, e era a sua uma toada tão leda e inquebrantável, que parecia mesmo a pulsação do silêncio.
De três bicas, manando de rosáceas num pano de gracioso corte, com o entablamento coroado por pirâmides e um frontão em que se vazava uma guarita de santinho, apenas uma escorria no tempo da seca. Se pelos meses de águas vivas todas três botavam, na tristeza das horas sem luz, à borda do silêncio revessado pelo convento, seu gorgolão era grave como uma salmodia de monges.
De bordo em curvas e segmentos, alternantes, de retas, o tanque era, de em par com o lineamento da escaleira que poucos passos dali conduzia à capela, duma ordenança mais harmoniosa que as rendas por minha mãe tecidas. Sobre ele erguia-se a figueira de muitos anos, sombreando o lugar a que a presença de S. Francisco dera um perfume místico de lenda. “Aqui se erguerá uma casa para pobres da vida pobre, quando Deus for servido!” — dissera ele. E daí o ficar a água da nascente de muita virtude nas moléstias da tripa, e o lauto senhor Pêro Gil, pelo ano de 1443, com autoridade da Sé Apostólica, lançar os fundamentos daquela casa, que tanto edificou a santa Ordem da Penitência em varões pios e de saber.
Com o nome de Convento de Caria, ou do Paço nos Bulários, foi a casa, consoante a regra, acomodada a todos os estados da vida, para sossego das almas que, com a ânsia da salvação e o nojo do mundo, largavam a monte, espavoridas. Ali se açoitaram fidalgos e vilões, com os bens em comunidade, desfrutando patrimônios, e laudêmios, e privilegiados, por foral, de todo o direito de portagem. Seus religiosos professos cavalgavam, por montes e vales, nédias mulas guizalheiras, em função de curas de almas. Ementas, dízimos e mais benefícios do pé-de-altar abarrotavam as talhas. Afinal, sujeitos pela reforma aos estatutos da observância menor, de salto perderam mesa farta e vida larga; Fr. Guilherme da Paixão, abade geral de Alcobaça, encarregado em tempos de Filipe I de abrir uma devassa em toda a Província, foi topar dezessete frades no mosteiro de Caria, em boa paz e maior pobreza, padecendo muito do frio, com estarem pelo pé da Serra da Estrela, e de fome, porque sua única mantença era milhão e centeio, e haver escassez de mimos no lugar.
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